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O avanço do comércio popular


Cláudio Boriola

O comércio popular faz jus ao seu nome e está cada vez mais infiltrado entre todas as camadas da população brasileira.

Tudo começou lá pela década de 30, em São Paulo. Alguns portugueses e italianos que acabaram não indo trabalhar no setor agrícola ficaram na capital trabalhando como mascates. Nesse período, aconteceu a chegada dos imigrantes árabes, que não tinham a intenção de ir para o interior trabalhar nas lavouras. Estes sim, acabaram se firmando em São Paulo (principalmente nos bairros do Bom Retiro, Brás e Luz) e começaram suas atividades comerciais, introduzindo várias inovações no comércio, como as promoções e liquidações, a fim de um maior controle de estoque.

Das ruas, o que é chamado de comércio popular (pequenos itens com preços baixos) ganhou lojas e shoppings e começa a avançar nas camadas A e B, além de manter a sua dominação sobre as camadas mais pobres da população. Estima-se que seu crescimento beire os 35% ao ano e que movimentará, em 2006, um total de R$ 11 bilhões.

Esse crescimento é impulsionado por vários fatores. Um dos mais importantes é o fortalecimento do Real perante o dólar, que permite um maior fluxo de importação. Outro fator é a importação em si. A China exporta para o Brasil mais de cinco mil tipos diferentes de produtos, que abastecem mais de 50 mil lojas. Inicialmente conhecidas como "lojinhas de 1,99", elas tiveram que, nesses dez anos, aumentar um pouco o preço da maioria dos itens para cerca de R$ 3.

Mesmo com todos esses números, os itens importados representam "apenas" 40% de todo o mercado do comércio popular. Importar embalagens de plástico, por exemplo, não é nada rentável. A indústria nacional sai na frente, sem riscos de perder esse espaço.

Mas nem tudo é maravilhoso no mundo do comércio popular. Ele se configura também como um grande pesadelo porque acaba se tornando o maior meio de escoamento de produtos piratas. Atraído pelos preços baixos, o consumidor encontra desde bolsas até softwares de computador idênticos aos originais. Tudo, obviamente, sem nota fiscal e garantia.

A Polícia e a Receita Federal tentam coibir esse tipo de venda realizando fiscalizações nos grandes centros de comércio popular, como a Rua 25 de Março, no centro de São Paulo. É muito fácil ser ilegal quando se trata de comércio popular, mas alguns comerciantes, mais conscientes, já trazem nas portas dos seus estabelecimentos cartazes que indicam que nos seus estabelecimentos só se encontram produtos originais e que a venda só é feita com a emissão de nota fiscal.

Quando se compra um produto pirata, não se está só garantindo a sobrevivência do pobre vendedor, que, na falta de um emprego decente, está atuando como vendedor ambulante. Movimenta-se uma indústria "alternativa", tão grande quanto à "oficial". O grande problema é que nessa indústria "alternativa", a concentração de renda na mão de poucos é ainda maior que na "oficial". Enquanto um imigrante ilegal boliviano ganha R$ 0,50 por cada calça que fabrica manualmente até altas horas da noite, o "patrão", com um custo baixíssimo, consegue vender o produto até para um consumidor que teria condições de comprar o produto original ou outro de uma qualidade superior.

Não podemos nos esquecer da importância e do tamanho do comércio popular, até porque ele sempre estará no nosso caminho quando andarmos pelas ruas. O importante é sabermos a procedência dos produtos que são vendidos, exigirmos a garantia e a nota fiscal, que é de nosso direito, e, como sempre, não esqueça de colocar em prática a regrinha dos quatro "Ps" "Planejar, Pesquisar, Pechinchar e Pagar à vista", e boas compras.

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