Manejo da Fêmea na Propriedade Leiteira. Parte 2 - Do nascimento ao primeiro parto.
Danielle Azevedo – Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte
Jandson Vieira Costa - Graduando em Agronomia (UESPI), estagiário da Embrapa Meio-Norte
Parnaíba, 18 de novembro de 2008 - Durante o primeiro mês de vida da bezerra alguns cuidados como descorna, marcação e remoção das tetas supranumerárias devem ser observados de acordo com o manejo da propriedade, claro.
Além destes cuidados, é primordial para o desenvolvimento adequado das bezerras o plano de alimentação das mesmas, até que atinjam a idade reprodutiva. No entanto, o manejo das fêmeas ainda nas fases de cria e recria é relegado ao segundo plano na maioria das propriedades leiteiras, visto que estas fêmeas ainda representam apenas “despesa” para o sistema. Porém, deve ser considerado que estas são as fêmeas que substituirão as atualmente em produção no rebanho e que quanto mais cedo atingirem a idade de reprodução em condições adequadas menor será o seu custo final. Os prejuízos podem ser aumentados com a necessidade de medicamentos e a perda de animais, o que seria reduzido se o manejo destas fêmeas fosse o adequado, principalmente, em alimentação.
Fase de Cria: Esta fase vai do nascimento da bezerra até o seu desaleitamento. Ao nascer, a bezerra é um monogástrico, ou seja, ainda possui um estômago simples (o abomaso é dos quatro compartimentos estomacais, o mais desenvolvido). Neste momento, a bezerra ainda não é capaz de utilizar alimentos sólidos. Dependendo das condições de manejo da propriedade, já aos 60 dias a bezerra adquire habilidade de utilizar volumosos de boa qualidade e concentrados, pois seu rúmen apresenta atividade microbiana suficiente para tal, além do desenvolvimento das papilas.
É importante considerar que do nascimento até por volta dos dois meses de idade, o alimento natural das bezerras é o leite da vaca, integral. No entanto, considerando que o objetivo em uma propriedade leiteira é a venda do leite, o fornecimento às bezerras compete com finalidade do produtor. Assim, algumas alternativas podem ser utilizadas, como o fornecimento de sucedâneos lácteos, na forma de produtos comerciais e, de qualquer forma, a quantidade de leite oferecida pode ser reduzida. As bezerras não precisam receber mais que 4 kg/dia, devendo esta quantidade ser dividida em duas refeições, pelo menos durante a primeira semana de vida do animal. Após este período, para facilitar o manejo na propriedade, o alimento pode ser fornecido apenas uma vez por dia, contanto que o horário de fornecimento seja constante, bem como a quantidade.
A fim de facilitar o desaleitamento precoce a bezerra deve ser estimulada a experimentar, o mais cedo possível, alimentos sólidos, principalmente concentrados, que está relacionado ao desenvolvimento ruminal precoce. Uma prática comum é colocar um pouco de concentrado no fundo do balde em que é fornecido o leite, ao final do fornecimento deste. O concentrado deve ser palatável (alguns possuem até 10% de melaço), e de textura grosseira ou peletizado, pois quando finalmente moído há redução no consumo. Os minerais necessários devem ser fornecidos junto a este concentrado inicial, de acordo com as exigências da categoria. O NRC (2001) fornece estas exigências.
O desaleitamento pode ser feito com segurança quando a bezerra está ingerindo 800 g de concentrado em raças grandes, ou 600 g em raças pequenas.
É importante frisar que, durante toda a fase de cria as bezerras devem ter a sua disposição água limpa e fresca, à vontade. Esta prática, inclusive, estimula o consumo de concentrados.
Fase de Recria: Esta fase vai do desaleitamento até a primeira cobertura. O produtor deve estar atento que as necessidades da fêmea modificam-se com o tempo, sendo caracterizado inicialmente por um rápido crescimento ósseo e muscular seguido por uma maior deposição de gordura, e deve adaptar o seu manejo para atender as mesmas. Nesta fase, o monitoramento do ganho de peso médio diário é fundamental, principalmente para que o crescimento/desenvolvimento da glândula mamária não seja prejudicado, e, conseqüentemente, a produção futura de leite. Em raças grandes o ganho diário não deve ultrapassar 800, enquanto que nas pequenas o máximo deve ser de 600 g.
Um pasto de boa qualidade, bem manejado pode ser suficiente para suprir as necessidades de crescimento da novilha, considerando-se que exista uma mistura mineral sempre à disposição. Caso não seja possível fornecer um bom pasto, a suplementação com concentrado deve ser considerada. O fornecimento de concentrado também deve ser utilizado quando do estabelecimento de idades mais precoces a primeira cobertura (15 meses x 24 meses). Neste caso, o ganho médio diário de peso do desaleitamento até os 15 meses deverá ser
A primeira cobertura ou inseminação artificial deve ser realizada com base não apenas na idade da novilha, mas também de seu peso e das condições da propriedade, visto que a fêmea ainda esta em desenvolvimento e qualquer intercorrência negativa poderá afetar todo seu desempenho produtivo. Para raças grandes como a Holandesa, considera-se como ideal a primeira cobertura aos 15 meses ou quando a novilha atingir 340 kg de peso vivo – o primeiro parto ocorrerá então aos 24 meses. Para rebanhos leiteiros mestiços Holandês-Zebu, em regime de pasto (manejo mais comum para estes animais) as novilhas podem conceber aos 24 meses, com 330 kg.
O manejo comum, em um mesmo lote, de novilhas e vacas em lactação, facilita a detecção do estro, porém o efeito da dominância das vacas mais velhas e mais fortes sobre as mais jovens deve ser considerado como fator de possível inibição de estro e de redução no consumo (que nesta fase não deve ser inferior a 400 g/dia). Assim, é importante propiciar área de cocho/bebedouro suficiente para todas.
As novilhas prenhes podem ser manejadas em lotes de novilhas prenhes ou em conjunto com as vacas secas. A opção dependerá do número de animais da propriedade. Atenção especial deverá ser dada nos três últimos meses de gestação, que corresponde ao maior desenvolvimento fetal (ver Parte 1) e, também, por a novilha ainda estar em fase de crescimento. Novilhas de raças grandes devem ganhar no mínimo 700 g de peso por dia enquanto que para mestiças o mínimo deve ser 400 g, para que tenhamos respectivamente, a parição aos 500 e 450 kg. Com estes pesos as novilhas devem estar com escore de condição corporal variando entre 3,5 e 4,0.
Novilhas parindo em condição corporal inferior às recomendadas (
Estes dois últimos parâmetros - período de serviço e intervalo de partos - também podem ser aumentados em decorrência de alimentação inadequada. Assim, bastante atenção deve ser dispensada à alimentação da vaca de primeiro parto. A competição por alimento com vacas mais fortes e o já reduzido consumo de alimentos nesta fase podem ocasionar um maior intervalo de partos por dificuldade de retorno ao estro e, também, uma produção de leite inferior a esperada pelo produtor. Com isso o descarte incorreto pode ocorrer por uma questão de falta de atenção às necessidades da vaca de primeira cria. O produtor ou técnico encarregado devem ter conhecimento e sensibilidade suficiente para entender a todas as nuances relacionadas ao primeiro parto em uma propriedade leiteira.