Amélio Dall’Agnol e Marco Antônio Nogueira, pesquisadores da Embrapa Soja
O produtor de soja já está familiarizado com o inoculante para fixação biológica do nitrogênio aplicado na semeadura da oleaginosa, seja via sementes ou em jato dirigido no sulco de semeadura. Este produto contém bactérias que, em associação com as raízes da soja, convertem o nitrogênio do ar – não assimilável pelas plantas - em nitrogênio amoniacal, forma que a planta absorve e se nutre. Este produto dispensa o uso de fertilizante nitrogenado na cultura, o que importa em significativos ganhos financeiros ao sojicultor, considerando o baixo custo do inoculante, ante o alto valor do fertilizante. Mas este inoculante só disponibiliza o nitrogênio, que juntamente com o fósforo e o potássio, é um dos três nutrientes mais demandados pelas culturas.
Mas tem novidades no mercado. Pesquisadores da Embrapa Milho e Sorgo identificaram e selecionaram duas bactérias (Bacillus subtilis e Bacillus megaterium) - entre mais de 450 isolados - capazes de solubilizar formas minerais ou mineralizar formas orgânicas de fósforo existentes no solo, porém insolúveis, e disponibilizar o fosfato solúvel, contribuindo para a nutrição das plantas e resultando em aumento de produtividade.
Em parceria com a empresa Bioma, estas bactérias foram formuladas em escala industrial num produto denominado BiomaPhos, inoculante biológico que, pela ação de ácidos orgânicos e enzimas que elas produzem, disponibiliza fosfatos insolúveis do solo em uma forma absorvível pelas plantas.
O BiomaPhos é um produto 100% brasileiro. Antes de ser disponibilizado ao mercado ele foi testado em 542 localidades do Brasil, e sinalizou com aumentos médios de produtividade de 10 scs/ha para o milho e 5 scs/ha para a soja. O produto é comercializado na forma líquida, aplicado nas sementes logo antes da semeadura, na dose de 100 mL/ha, ou em jato contínuo no sulco de semeadura na dose de 200 mL/ha.
Embora o produto tenha sido mais avaliado em soja e milho, também há potencial para outras culturas. Cerca de 200.000 ha já foram cultivados com o inoculante solubilizador de fosfatos, apesar de o produto estar disponível no mercado há apenas um ano, o que sinaliza com a possibilidade de contribuir efetivamente para a redução da excessiva dependência brasileira de fertilizantes importados. Em 2019, o Brasil consumiu 36 milhões de toneladas (Mt) de fertilizantes, sendo 28 Mt importadas. Produziu apenas 8,0 Mt, sendo o fertilizante fosfatado o menos dependente de importações, mas cerca de metade é ainda importada.
O alvo da ação do BiomaPhos são as formas de fósforo não prontamente disponíveis no solo. Estudos da Embrapa indicam que existe um estoque bilionário de fósforo nos solos brasileiros fixado nas argilas e nos metais (Fe, Al e Ca, principalmente), além de frações orgânicas na matéria orgânica. É este fósforo que o inoculante tem capacidade de tornar disponível para nutrição das plantas.
Nem todos os solos são bem supridos de fósforo, razão pela qual o BiomaPhos apresenta melhores resultados quando inoculado em solos ricos no nutriente. Diferentemente do inoculante para fixação do nitrogênio, o inoculante para disponibilização do fósforo não supre integralmente as necessidades da planta pelo nutriente e precisa ser suplementado com fósforo mineral. O fósforo tem baixa mobilidade no solo, razão pela qual a raiz precisa ir atrás dele, o que faz do BiomaPhos um aliado importante, porque além de aumentar a disponibilidade de formas indisponíveis de fósforo, também incrementa o volume e a área de superfície do sistema radicular para ir em busca do nutriente. As bactérias do produto contêm uma genética específica que acelera o desenvolvimento de raízes novas e finas nas plantas logo nos estágios iniciais, proporcionando maior arranque inicial na lavoura e acúmulo deste nutriente nos grãos. Este aumento de área de superfície é indispensável para o aumento da absorção de um elemento tão pouco móvel no solo como o fósforo.
O BiomaPhos é o primeiro inoculante para disponibilização de fosfatos do Brasil.