Segundo o economista Ricardo Amorim, em cerca de dez anos a Índia poderá vir a ser para o mercado brasileiro de commodities agrícolas, o que a China é hoje, dado o potencial consumidor de produtos agrícolas desse grande país, como consequência do aumento da renda per cápita da sua gigantesca população (2,3 bilhões de pessoas).
A renda per cápita dos indianos é similar à que os chineses tinham três décadas passadas, mas que, desde então, a dos chineses aumentou cinco vezes. O mesmo poderá acontecer com a dos indianos no correr das próximas décadas e, a Índia tornar-se importante parceiro comercial do Brasil. Segundo esse economista, dentro de uma década a China terá consolidado seu salto de consumo e será a vez da Índia carrear essa demanda, apoiada por outros países asiáticos de menor porte, com o que a demanda por alimentos poderá manter-se aquecida por mais 30 anos,
Todos sabem que a Índia é gigante na extensão do seu território e no tamanho da sua população. Tudo indica que, também, será gigante na economia, de vez que a mesma está crescendo a um ritmo superior ao da China e, como consequência, a renda per capita da população crescerá proporcionalmente, favorecendo o acesso de muitos cidadãos marginalizados a mais e melhores alimentos, apesar dos empecilhos oferecidos pela divisão da sociedade em castas.
Igual aconteceu com a China, que, de um parceiro comercial marginal no início dos anos 90, evoluiu para tornar-se, em menos de duas décadas, no principal destino das exportações brasileiras, o potencial da Índia é capaz de promover algo semelhante, ensejando demandas substanciais de commodities agrícolas do Brasil, potencial fornecedor de soja, carnes, açúcar e café, entre outros produtos.
A Índia não importa soja do Brasil, apenas um pouco de carne de frango. Devido a crenças religiosas, os indianos foram levados a adquirir hábitos alimentares voltados a produtos lácteos e vegetais, razão pela qual consomem pouca carne: menos de 4,0 kg/habitante/ano, contra, por exemplo, 98 kg do Brasil ou 62 kg da China, cujo consumo cresceu 15 vezes desde 1960 (FAO). Com o enriquecimento da população, mudanças nos hábitos de consumo da população poderão acontecer, tornando a Índia um importador de soja e carnes do Brasil, igual aconteceu com a China.
Dado o baixo consumo de carnes, os indianos têm nos pulses (grão de bico, ervilha e lentilha, entre outras) uma maneira de suprir as necessidades proteicas da sua dieta. Como os pulses são uma fonte de proteína barata e grande contingente de indianos é, ainda, muito pobre, o consumo desse grão tende a crescer e oferecer ao Brasil a possibilidade de apresentar-se como produtor e exportador desse produto para atender essa possível demanda. A Índia é o maior produtor mundial de pulses, com 19 milhões de toneladas (Mt), mas consome 23 Mt, com tendência de crescimento, o que sinaliza para a necessidade de importar o grão.
A população indiana está comendo mais e melhor e esta tendência deverá acentuar-se nos anos vindouros, o que promoverá a necessidade de o país produzir mais ou importar mais alimentos, o que é bom para o Brasil, o quarto maior produtor de alimentos, mas relativamente pequeno consumidor, visto ser, a população do Brasil, cerca de uma sexta parte da indiana ou da chinesa.
Se o atual crescimento indiano continuar consistente e prolongado, igual aconteceu com a China a partir de 1990, poderá gerar demandas similares e, também, tornar-se parceiro preferencial do Brasil. Esta realidade começou a desenhar-se como possibilidade a partir de 2016, quando, pela primeira vez, o percentual de crescimento do PIB indiano superou o chinês. Segundo estimativas do Banco Goldman Sachs, o PIB indiano, hoje o sétimo maior do mundo, deverá ser o terceiro em 2035 (superando o PIB do Japão) e o segundo em 2050, quando, se estima, seu PIB será US$ 10 trilhões superior ao americano (US$ 44,1 trilhões da Índia vs. US$ 34,1 trilhões dos EUA) e US$ 14,4 trilhões inferior ao chinês, que nessa data, se presume, estará em destacado primeiro lugar, com US$ 58,5 trilhões.
O Brasil é o país com as melhores condições para ampliar a área cultivada para a produção de mais alimentos, dada a disponibilidade de terras aptas para atender as potenciais demandas indianas, sem necessidade de desmatar áreas de mata nativa, apenas aproveitando melhor as áreas já desmatadas.