A Amazônia Ocidental possui um rebanho equino de 219.709 cabeças (IBGE, 2005), sendo a terceira exploração pecuária da região, após os bovinos e suínos. A principal finalidade da criação é a obtenção de animais para serviços com a pecuária bovina, no entanto, já é significativo o número de animais destinados à recreação e aos esportes equestres. Os equinos, quanto a fisiologia da digestão e anantomia do trato disgestivo, são classificados como monogástricos, sendo herbívoros típicos por apresentarem ceco e cólon funcionais, onde a elevada população de bactérias e protozoários fazem a digestão da fração fibrosa dos alimentos volumosos. Na escala evolutiva zoológica, constituem-se no elo de ligação entre animais estritamente monogástricos e os ruminantes. Deste modo, as pastagens ocupam papel de destaque na nutrição dos equinos, já que o fornecimento de alimentos fibrosos, em quantidade e qualidade adequadas, é de fundamental importância para o perfeito funcionamento do seu trato digestivo. Os equinos apresentam hábito de pastejo diferenciado em relação aos ruminantes, já que na preensão dos alimentos a principal estrutura utilizada é o lábio superior, o que implica no corte mais baixo da forragem. Logo, na escolha de espécies forrageiras para o haras, deve-se preferir aquelas de hábito de crescimento estolonífero ou prostrado, no entanto as de hábito de crescimento cespitoso podem ser utilizadas com bastante sucesso, desde que sejam manejadas adequadamente e tomadas algumas precauções, tais como pastejo apenas em determinadas épocas do ano e somente por algumas categorias do plantel (notadamente éguas em gestação), além de não se constituirem na única opção forrageiras da exploração.
A utilização de plantas forrageiras bem adaptadas às condições edafoclimáticas regionais e que apresentem alta produtividade, boa palatabilidade, persistência e valor nutritivo compatível com as exigências dos animais, constitui o primeiro estágio para a implantação de uma exploração pecuária com índices de desempenho zootécnico satisfatórios, além de contribuir para a redução dos custos de produção, principalmente com a compra de alimentos concentrados. O fornecimento aos equinos de uma dieta balanceada e em quantidades adequadas, principalmente em termos de energia, é de grande importância, pois uma baixa ingestão implicará no retardamento do crescimento e perda de peso, enquanto que o excesso poderá provocar problemas ósseos, além de levar à obesidade. Baseando-se nessas informações, um método simples e prático para o cálculo da proporção volumoso/concentrado é apresentado por Rezende (1982) e consiste no seguinte: um equino ingere cerca de 2 a 2,5% de seu peso vivo em alimento com 12% de umidade (seco ao ar); assim para um potro de 12 meses de idade, com 260 kg de peso vivo vai ingerir cerca de 5,2 a 6,5 kg de alimentos/dia, dos quais, 55% ou 2,8 a 3,2 kg deverão ser provenientes de concentrados, fornecidos em duas porções diárias; o restante do necessário será obtido da pastagem, do feno ou da forragem oriunda de capineiras. Devido a grande variação existente entre as plantas forrageiras quanto a produção e distribuição estacional de forragem, valor nutritivo, tolerância à pragas, doenças e à seca, a diversificação das espécies nas pastagens é um procedimento aconselhável, visando um melhor aproveitamento das potencialidades de cada espécie. Para as condições edafoclimáticas da Amazônia Ocidental as gramíneas forrageiras recomendadas para a alimentação de equinos são:
Quicuio-da Amazônia (Brachiaria humidicola)
- Hábito de crescimento: estolonífero-rizomatoso
- Solos: pouco exigente
- Propagação: sementes ou mudas; densidade de semeadura de 12 a 15 kg/ha de sementes com valor cultural em torno de 30%; no plantio por mudas adotar espaçamento de 0,5 x 0,5 m
- Produtividade: 10 a 15 t/de MS/ha/ano
- Manejo: iniciar o pastejo quando as plantas atingirem 30 a 40 cm de altura, as quais devem ser rebaixadas até 10 a 15 cm; o período de utilização mais indicado, em termos de disponibilidade e valor nutritivo da forragem, situa-se entre 35 e 40 dias de crescimento
- Tolerância ao período seco: muito boa
Capim-anogon (Anogon gayanus cv. Planaltina)
- Hábito de crescimento: cespitoso (touceiras)
- Solos: pouco exigente
- Propagação: sementes (10 a 15 kg/ha com valor cultural mínimo de 20%)
- Produtividade: 18 a 25 t de MS/ha/ano
- Manejo: o pastejo deve ser inciado quando as plantas alcançam entre 1,0 e 1,2 m de altura, podendo serem rebaixadas até 30 a 40 cm acima do solo
- Tolerância ao período seco: muito boa
Capim-jaraguá (Hyparrhenia rufa)
- Hábito de crescimento: cespitoso
- Solos: pouco exigente
- Propagação: sementes (8 a 10 kg/ha com valor cultural mínimo de 20%)
- Produtividade: 8 a 10 t de MS/ha/ano
- Manejo: iniciar o pastejo quando as plantas atingirem ente 60 e 80 cm de altura, pois rapidamente amadurecem e tornam-se fibrosas; o rebaixamento não deve ultrapassar de 15 a 20 cm
- Tolerância ao período seco: muito pouca
Capim-colonião (Panicum maximum)
- Hábito de crescimento: cespitoso (touceiras)
- Solos: média a alta fertilidade
- Propagação: sementes (10 a 12 kg/ha com valor cultural mínimo de 20%)
- Produtividade: 10 a 12 t de MS/ha/ano
- Manejo: colocar os animais quando as plantas apresentarem 80 a 100 cm de altura e retirá-los quando a pastagem estiver rebaixada entre 30 e 40 cm
- Tolerância ao período seco: pouca
Estrela-africana (Cynodon nlenfuensis)
- Hábito de crescimento: estolonífero-rizomatoso
- Solos: média a alta fertilidade
- Propagação: sementes (8 a 10 kg/ha) ou mudas, utilizandoo-se espaçamento de 0,3 x 0,3 m
- Produtividade: 6 a 10 t de MS/ha
- Manejo: manter as plantas com no mínimo 15 a 20 cm de altura, evitando que ultrapassem 50 a 60 cm de altura
- Tolerância ao período seco: boa
Capim-Ramirez (Paspalum guenoarum)
- Hábito de crescimento: cespitoso-rizomatoso
- Solos: pouco exigente
- Propagação: sementes (10 a 12 kg/ha) ou mudas, adotando-se o espaçamento de 0,5 x 0,5 m
- Produtividade: 8 a 12 t de MS/ha/ano
- Manejo: os animais podem iniciar o pastejo quando as plantas atingirem entre 60 e 80 cm e a carga animal deve ser ajustada de modo a evitar o rebaixamento a menos que 20 a 30 cm
- Tolerância ao período seco: boa
Capim-elefante (Pennisetum purpureum)
- Hábito de crescimento: cespitoso (touceiras)
- Solos: média a alta fertilidade
- Propagação: vegetativa; usar estacas com dois a três nós; o espaçamento entre sulcos pode ser de 0,8 a 1,0 m
- Produtividade: 20 a 30 t de MS/ha/ano
- Manejo: deve ser utilizado para a formação de capineiras; visando conciliar produção de forragem, valor nutritivo e persistência, os cortes devem ser realizados a uma altura entre 20 e 30 cm acima do solo e a intervalos entre 40 e 50 dias
- Tolerância ao período seco: boa
Capim-Angola ou bengo (Brachiaria mutica)
- Hábito de crescimento: estolonífer-decumbente (subereto)
- Solos: média a alta fertilidade
- Propagação: vegetativa; usar pedaços de colmos com 3 a 4 gemas; o espaçamento entre sulcos deve ser de 0,5 a 0,7 m
- Produtividade: 6 a 9 t de MS/ha/ano
- Manejo: o pastejo deve ser iniciado quando as plantas atingirem entre 40 e 50 cm de altura; utilizar lotações que permitam manter as plantas entre 15 e 20 cm de altura
- Tolerância ao período seco: muito pouca; seu plantio é recomendado para áreas de baixadas úmidas ou mesmo alagadiças
Grama-batatais (Paspalum notatum)
- Hábito de crescimento: estolonífero-rizomatoso
- Solos: baixa fertilidade
- Propagação: sementes ou mudas; densidade de semeadura de 15 a 25 kg/ha; as sementes devem ser previamente escarificadas (fricção com areia ou água quente a 80ºC durante 3 minutos)
- Produtividade: 4 a 8 t de MS/ha/ano
- Manejo: recomenda-se iniciar o pastejo quando as plantas estiverem com 10 a 15 cm de altura, as quais podem ser rebaixadas até 4 a 6 cm
- Tolerância ao período seco: boa
Referência Bibliográfica
REZENDE, A.S.C. de. Níveis nutricionais para equinos em crescimento. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.8, n.95, p.38-43, 1982.
Newton de Lucena Costa (Embrapa Amapá), João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte), Ricardo Gomes de A. Pereira (Embrapa Rondônia)