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Fatores que influenciam a fertilidade em rebanhos bovinos. Parte 1: nutrição e sanidade



Danielle Maria Machado Ribeiro Azevêdo

Danielle Azevedo, pesquisadora da Embrapa Meio-Norte 

Fertilidade é a capacidade do animal produzir crias vivas. Pode ser influenciada por vários fatores, e afetar a eficiência reprodutiva dos rebanhos. Em resposta a inúmeras causas etiológicas, a fêmea bovina pode apresentar uma das três síndromes: anestro (ausência do ciclo estral), repetição de estro após cobertura ou inseminação artificial ou aborto (ou parto prematuro).

Problemas reprodutivos, elevada idade ao primeiro parto e longo intervalo de partos são fatores limitantes à expansão da pecuária bovina. Neste contexto, a fertilidade é um sinal clínico (ou sintoma) e não uma enfermidade e resulta de inúmeros distúrbios incidentes sobre o animal.

Fatores relacionados à nutrição, como subnutrição e superalimentação, podem estar relacionados à fertilidade reduzida. Para que se reproduza adequadamente, a fêmea bovina precisa receber ração balanceada capaz de suprir suas necessidades em energia, proteína, vitaminas e minerais.

A subnutrição é um dos principais fatores relativos ao baixo desempenho reprodutivo dos rebanhos bovinos no Brasil. Deficiência alimentar severa ou prolongada traz como conseqüência o anestro, ou seja, a ausência do ciclo estral e do estro (cio). Os ovários, neste caso, estão pequenos e inativos, o que pode ocorrer mais rapidamente quando a má alimentação está associada à enfermidades crônicas e/ou elevada produção de leite.

A inatividade do ovário é reversível, desde que a causa seja eliminada; ocorre mais freqüentemente com vacas recém-paridas e em estado de subnutrição, com perda acentuada de peso no pós-parto. Nessas condições, ocorre atraso no reinício da atividade ovariana e no restabelecimento do ciclo estral; conseqüentemente o período de serviço e o intervalo de parto são alongados. Em novilhas, a subnutrição atrasa a puberdade, ocasionando uma elevada idade ao primeiro parto.

A superalimentação também pode ocasionar levar a problemas na fertilidade do rebanho. O alto consumo de ração energética, por exemplo, pode conduzir o animal a um estado de obesidade, capaz de afetar a função reprodutiva. A infiltração gordurosa nos órgãos genitais pode levar a um menor desenvolvimento dos folículos ovarianos, dificultar a captação dos óvulos nas tubas uterinas ou prejudicar a implantação do embrião no útero. A obesidade também está relacionada aos partos distócicos (difíceis) e ao aumento do número de serviços por concepção.

Os machos obesos, geralmente, são menos férteis e têm menor libido. A capacidade de saltar e fertilizar a fêmea também pode ser afetada e além disso, os riscos de acidentes na monta são aumentados, tanto para o reprodutor quanto para a fêmea que tem que suportar o peso do mesmo durante a monta. 

No caso de novilhas, principalmente em rebanhos de bovinos leiteiros, é importante considerar que elevado ganho de peso no período de recria pode comprometer a futura produção de leite do animal, em decorrência do acúmulo de gordura na glândula mamária, impedindo o desenvolvimento do tecido secretor. Novilhas de raças grandes, como a Holandesa, não devem ganhar mais que 800 g/dia na fase de recria, e nas raças pequenas, como a Jersey, este valor não deve ser superior a 600 g/dia.

Para a reprodução, alguns minerais são considerados mais importantes, embora todos os micro e macro-elementos sejam indispensáveis às funções vitais do organismo.

No Brasil, o fósforo tem uma grande importância visto que a maioria das forragens é carente deste mineral. Fêmeas com deficiência severa de fósforo têm a puberdade retardada bem como o estro pós-parto atrasado. Deficiência moderada em fósforo provoca repetição de serviço, ocasionando transtornos no manejo da propriedade assim como elevação dos custos quando da utilização de inseminação artificial.

Deficiência em iodo pode ocasionar hipotireoidismo e reduzir a atividade ovariana; em fêmeas prenhes pode levar ao parto prematuro, com nascimento de crias fracas ou mortas, apresentando “bócio”.

Outros minerais também são importantes para a fêmea bovina por afetarem indiretamente a saúde da fêmea ou diretamente, a reprodução, como o cálcio, cujos distúrbios podem levar à febre do leite ou a partos distócicos; cobre e manganês, cuja deficiência pode ocasionar tetania; cobalto, relacionado à anemia; zinco, aos distúrbios na manifestação do estro; e selênio, cuja deficiência pode ocasionar retenção de placenta.

Além da nutrição, a sanidade é um fator de grande importância para a manutenção de níveis satisfatórios de fertilidade no rebanho. Assim, o controle sanitário é fundamental para o sucesso da exploração de bovinos, leiteiros ou de corte. Não adianta a vaca, bem nutrida, manifestar estro 30 dias após o parto e conceber, se a prenhez não chega a termo em decorrência de enfermidades que provocam aborto ou reabsorção embrionária.

A infecção uterina está presente em todos os rebanhos, com maior ou menor incidência, dependendo das condições de manejo. A fêmea com infecção uterina pode apresentar anestro ou repetição de estro, dependendo de sua condição corporal (que influencia a atividade ovariana) e da gravidade do processo infeccioso. Para simplificar, - infecção uterina grave + ovários inativos = anestro; - infecção uterina suave + ovário funcional = repetição de estro; = infecção uterina grave (com piometra, ou seja, acúmulo de pus no útero) + ovários afuncionais, anestro.

Vacas parindo magras, com condição corporal inferior a 2,5 (em escala com 5 pontos) apresentam maior incidência de partos distócicos e retenção de placenta, com conseqüente infecção uterina pós-parto.

A temperatura corporal elevada, em decorrência de enfermidades febris, pode provocar aborto. Doenças infecciosas, como tricomonose, campilobacteriose, brucelose, leptospirose, listeriose, rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR), diarréia bovina a vírus, podem provocar aborto ou morte embrionária. Assim, o acompanhamento veterinário e também a manutenção do calendário de vacinação em dia são imprescindíveis para uma boa eficiência reprodutiva no rebanho.

O clima também pode ocasionar alterações na fertilidade do rebanho. Temperaturas elevadas, agravadas por umidade também alta, afetam a capacidade reprodutiva do animal de maneira direta, pelo desequilíbrio endócrino, alterações nervosas e menor consumo de alimento. O aumento em 1ºC na temperatura retal da fêmea, provoca um acréscimo de 16% na taxa de mortalidade embrionária. A utilização de inseminação artificial em dias quentes também reduz a taxa de concepção.

A fêmea quando submetida ao estresse térmico por calor pode apresentar anestro (por redução no consumo de alimentos), repetição de serviços (por desequilíbrio endócrino e alterações metabólicas) e abortos (por menor irrigação dos órgãos genitais).

A alimentação, a sanidade e o clima apresentam, portanto, grande importância na fertilidade dos rebanhos bovinos tanto de corte quanto de leite. Algumas práticas de manejo, simples, mas que podem influenciar na fertilidade do rebanho serão abordadas em artigo subseqüente, neste mesmo site.

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