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Estudando as abelhas


Decio Luiz Gazzoni
Em setembro passado, criamos uma ONG chamada A.B.E.L.H.A. (Associação Brasileira de Estudo das Abelhas). Somos um grupo de cidadãos preocupados com o declínio na oferta do serviço ambiental de polinização. Pretendemos formar uma rede de parceiros com a meta comum de preservação e ampliação do uso sustentável das abelhas – nem tanto para produzir mel, mas para garantir a polinização adequada de plantas cultivadas ou silvestres.

Quando as abelhas visitam as flores, são atraídas pelo néctar e pelo pólen, os quais contém açúcares, proteínas, ácidos graxos, vitaminas e sais minerais essenciais para a sua alimentação e saúde. Ao visitar as flores as abelhas roçam o corpo nos estames, ou coletam ativamente o pólen. Se o estigma fica na mesma flor, com a movimentação das abelhas dentro da flor a polinização é imediata, transferindo os grãos de pólen que fecundam os ovários. Se a flor feminina fica em outra parte da planta, ou em outras plantas, as abelhas, carregando o pólen em seu corpo, polinizam as outras flores, ao visita-las.
As abelhas não se resumem à espécie Apis mellifera, a abelha doméstica, que é a mais conhecida e o principal inseto polinizador. Nossos objetivos passam pelo estudo detalhado da biologia e ecologia de estimadas 2.000 espécies de abelhas brasileiras, e dos impactos adversos a que estão submetidas, por operações agrícolas ou outras atividades humanas. Não se trata apenas de agrotóxicos, um dos possíveis causadores de problemas às abelhas, quando usados indevidamente. Em especial, é preocupante a redução do habitat natural, que fornece alimentos e locais de nidificação para as abelhas, sobretudo as silvestres.

Na ONG que criamos, pretendemos consolidar uma plataforma de conhecimento sobre abelhas polinizadoras, que sirva de fonte de consulta e de agente de conscientização da sociedade. Envolve a disseminação e o estímulo à adoção de práticas sustentáveis de uso e conservação das abelhas, em especial incentivando tecnologias e processos que permitam a convivência harmônica entre o agronegócio e a manutenção do serviço ambiental de polinização. Trata-se de um legítimo processo de “ganha-ganha”, beneficiando todos os atores envolvidos no processo.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja. www.gazzoni.eng.br

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