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Estabelecimento, Formação e Manejo de Pastagens de Hyparrhenia rufa



Newton de Lucena Costa
Introdução - O jaraguá (Hyparrhenia rufa (Ness)Stapf.) é uma gramínea forrageira perene, cespitosa, com um sistema radicular superficial. Vegeta bem desde o nível do mar até 1.800 m de altitude, principalmente em regiões onde a precipitação oscila entre 800 e 1.400 mm/ano. Apresenta crescimento bastante lento, alongando o caule muito tardiamente. Com até cerca de três meses de idade a gramínea não mostra qualquer indício visual de diferenciação morfológica, isto é, toda a planta se apresenta como sendo constituída somente por folhas, não permitindo a determinação de nós. A partir dessa idade começa a processar-se o alongamento dos entrenós, iniciando-se ao mesmo tempo, o aumento de concentração de lignina e fibra nas diversas partes da planta. É uma gramínea de crescimento de verão, tendo um crescimento inverno bastante reduzido. Quando em crescimento livre, pode atingir até 6 m de altura, incluindo as hastes florais. As hastes são muito resistentes, bastante lenhosas e lignificada após a floração. Folhas mais ou menos densas com 44 cm de comprimento, 2 cm de largura e 12 mm de espessura, longas e estreitas lígula grande de forma aproximadamente triangular, tendo nas ápices da base um tufo de pêlos muito comprido. Não forma rizomas nem estolões.
 
As panículas são racemos com 30 a 60 cm de comprimento, pilosos com espiguetas, sendo uma séssil, fértil e aristada de cor preta e outra pedicelada, estéril e sem arista. É uma planta de dias curtos, sofrendo indução de florescimento com comprimento de dia de 12 a 14 h. Na região Amazônica o florescimento ocorre no final de março ou princípio de abril, iniciando a formação de inflorescência aos 80 dias de crescimento. Sua produção de sementes é elevada (200 a 300 kg/há), contudo, a percentagem de germinação é baixa.
 
Estabelecimento - a semeadura deve ser realizada no início do período chuvoso (outubro/novembro). O plantio pode ser em sulcos espaçados de 0,5 a 0,8 m entre si, à lanço ou em covas (0,5 x 0,5 m) quando se utiliza mudas. A profundidade de semeadura deve ser de 2,0 cm, já que as sementes são muito pequenas, o que pode ser obtido pela passagem de um rolo compactador. A densidade de semeadura varia de 10 a 15 kg/ha, dependendo da qualidade das sementes e do método de plantio. Quando em consorciação com leguminosas, o plantio pode ser feito à lanço ou em linhas espaçadas de 1,0 m.
 
Características agronômicas - Por apresentar hábito de crescimento ereto, forma consorciações bastante equilibradas com leguminosas forrageiras como pueraria, desmódio, amendoim forrageiro e centrosema. Não tolera encharcamento (suporta inundações temporais rápidas, mas não permanentes). Tolera até seis meses de seca, embora seu crescimento seja favorecido em regiões com três a quatro meses de estiagem. Paralisa o crescimento no período seco porque floresce. Desenvolve-se bem em regiões com temperaturas médias variando de 20 a 30° C. Possui resistência ao fogo, rebrotando bem após a queima, prática bastante empregada pelos produtores. Apresenta boa adaptação a solos ácidos e de baixa fertilidade natural, desenvolvendo-se melhor nos profundos e bem drenados. No entanto, responde satisfatoriamente à aplicação de doses moderadas de calcário dolomítico (600 a 1.000 kg/ha) e de fósforo (50 a 100 kg de P2O5/ha). O seu nível crítico interno de fósforo foi estimado em 0,147%, o qual foi obtido com a aplicação de 73,1 kg/ha de P2O5/ha. Na Embrapa Rondônia, a aplicação de 50 kg de P2O5/ha proporcionou um incremento de 125% na produção de forragem do jaragua (2,18 x 4,90 t de MS/ha).
 
Produção de forragem e valor nutritivo: A produtividade de forragem do jaraguá, em geral, é medianamente elevada, no entanto, pode ser afetada por diversos fatores (solo, espaçamento, densidade de plantio, manejo e condições climáticas). Na Amazônia Ocidental, as produções de matéria seca estão em torno de 8 a 10 e, 2 a 3 t/ha, respectivamente para os períodos chuvoso e seco. Na Embrapa Rondônia, pastagens de jaraguá, submetidas a cargas animais de 1,5 e 3,0 UA/ha, durante o período chuvoso, apresentaram rendimentos de matéria seca de 3,8 e 2,0 t/há. O jaraguá, crescendo livremente, torna-se fibroso, com baixo valor nutritivo e pouco aceitável pelos animais. Na estação seca apresenta baixa qualidade e pouca aceitabilidade pelos animais, com elevada proporção de talos, muita fibra e baixo teor de proteina. O valor nutritivo do jaraguá é considerado entre moderado e bom, considerando-se consumo, digestibilidade e composição química. Com seis semanas de rebrote apresenta, em média, digestibilidade de 50 a 55% e teores de proteína bruta entre 8 e 10%. Em Rondônia, foram obtidos teores de 9,7 e 7,5% de proteína bruta; 0,19 e 0,16% de fósforo e, 0,35 e 0,27% de cálcio, respectivamente para plantas aos 35 e 63 dias de rebrota. A gramínea pode ser usada para a produção de feno até aos 80 dias de crescimento; a partir desse estágio há grande redução de valor nutritivo. A altura ideal para fenação é quando este atinge 60 a 70 cm.
 
Manejo - Pastagens de jaraguá bem formadas e manejadas apresentam uma capacidade de suporte de 1,0 a 1,50 UA/ha no período chuvoso e 0,5 a 0,8 UA/ha no período seco. Sempre que possível utilizar pastejo rotativo, de modo a otimizar o desempenho animal. O jaraguá perde valor nutritivo rapidamente com o aumento da idade. Isso torna curto o seu período de utilização. Recomenda-se a utilização de maiores cargas animal durante seu período de crescimento máximo. Sendo uma gramínea exigente em fertilidade, requer adubação de manutenção a partir do segundo ano de utilização, quando estabelecido em solo de baixa fertilidade. Quando em crescimento livre, forma touceiras, mas quando pastejado regularmente forma denso stand, aumentando a percentagem de folhas. O pastejo deve ser iniciado quando as plantas atingem entre 0,5 a 0,6 m de altura, as quais devem ser rebaixadas até cerca de 20 a 30 cm acima do solo. Na Embrapa Rondônia, utilizando-se cargas animais de 3,0 e 1,5 UA/ha, durante o período chuvoso, os ganhos de peso foram de 134 e 110 kg/animal e, 201 e 330 kg/ha, respectivamente.

Newton de Lucena Costa – Embrapa Roraima
Claudio Ramalho Townsend - Embrapa Clima Temperado
João Avelar Magalhães - Embrapa Meio Norte
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