CI

Energia de palha


Decio Luiz Gazzoni
Uma tonelada de cana-de-açúcar possui energia equivalente a 1,3 barris de petróleo. Com a produtividade média brasileira de 76 t/ha, cada hectare de cana equivale a 100 barris de petróleo. A produção de cana (2012) brasileira equivale a 834 milhões de barris de petróleo. Em 2010, o Brasil consumiu 620 milhões de barris de petróleo (Balanço Energético Nacional, EPE/MME). Logo, estaríamos produzindo mais energia de cana que de petróleo!
Ocorre que a energia da cana pode ser dividida em três partes quase iguais: caldo (de onde sai o açúcar e o álcool), bagaço (que produz calor, vapor e eletricidade) e palha (que fica no campo). Atualmente, do total da energia da cana, pouco menos de 50% é efetivamente aproveitado. A grande perda ocorre na palha que, ou é queimada ou permanece no campo, ao invés de abastecer as caldeiras que geram eletricidade. Mesmo na colheita mecânica, em que a palha não é queimada, existem restrições para viabilizar, economicamente, a colheita e o transporte da palha até as usinas, devido à sua baixa densidade, logo alto custo de frete.
O cenário começa a mudar com o surgimento da enfardadora de palha de cana, lançada no Agrishow 2011 (Ribeirão Preto). Trata-se de uma enfardadora de fardo quadrado, voltada para a compactação de biomassa, como a palha de cana-de-açúcar, visando a alimentação animal ou a produção de energia. Esta máquina é a primeira do mundo que viabiliza o aproveitamento da energia da palha da cana deixada na lavoura, para geração de eletricidade. Seu uso expande as possibilidades de geração de renda nos canaviais, pois cada tonelada de cana colhida produz 140Kg de palha. A grande vantagem da máquina é aumentar a densidade do fardo para 180 Kg/m³, com fardos de 440Kg, facilitando o transporte.
A permanência total da palha da cana no campo é um problema, pois contribui para o desenvolvimento de pragas e prejudica a eficiência de diversos tratos culturais. O balanço adequado entre palha que deve permanecer no campo, e aquela destinada à geração de energia, é o desafio tecnológico que resta para otimizar o seu uso e a rentabilidade da cana. O desafio político é a política pública de incentivo de geração de bioeletricidade nas usinas de cana.
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.