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Embargo à exportação Européia – por um tratamento de choque


Eleri Hamer
Chega de passarmos aperto em função das manobras protecionistas dos europeus. Isso tem se tornado rotineiro há algum tempo. Está na hora do Brasil negociar de igual para igual. Precisamos parar de agir como serviçais e levantar a cabeça na hora de comerciar.

Parece que sempre estamos de pires na mão. O café, a soja e algumas frutas também são bons exemplos disso. Basta lembrarmo-nos do caso da China em 2004, quando mais uma vez passamos de porto em porto pedindo pelo amor de Deus que aceitassem a nossa soja, devolvida pelos chineses em situação no mínimo discutível.

Está claro de que, assim como no episódio da China, os europeus querem é pressionar os preços da carne para baixo, motivados pelo momentâneo estoque mundial, e nós estamos caindo na conversa, receosos da quantidade de sujeira que temos embaixo do tapete, sem saber o que fazer com ela quando a visita chega.
Convenhamos, nós temos um dos melhores produtos (carne) do mundo em nossas mãos, mas se um distraído, que não conhecesse o setor, fosse avaliar a situação, diria que nossa qualidade é das piores, pois aceitamos exigências nas negociações que não acontecem em nenhuma outra área. Fico imaginando do que seríamos capazes de suportar se o nosso produto fosse realmente ruim.

Está certo que muitas vezes fomos avisados e não fizemos o dever de casa por completo. E esse susto, por exemplo, deveria servir para acelerarmos a certificação. Mas não, pelo contrário, muitos produtores, com esse falso motivo querem deixar de rastrear. Aliás, estão exatamente dando munição para o fajuto argumento dos europeus. Isso mostra que a nossa visão não é de curto prazo, é pior, avançamos olhando para o retrovisor.
Além disso, embora melhor articulada que em tempos passados, a cadeia pecuária não é suficientemente coordenada para enfrentar situações dessa natureza. As estratégias oportunísticas ainda prevalecem (principalmente da parte dos frigoríficos) em detrimento da cooperação para a competição.
 
De que maneira 300 propriedades brasileiras seriam capazes de atender o mercado europeu? Como diz o Telmo da Abrasgrãos, parece que lá também tem gente ruim de números (Má Temática). Liberar 300 fazendas é a mesma coisa que dizer "não vamos importar do Brasil". Com estas exigências, a negociação deveria ter sido interrompida pelo Brasil e não apresentar 2.600, alguns até sem CPF, para depois retroceder a 600! Isso parece uma negociação séria?

O governo por sua vez, como não tem sido capaz de desencadear estratégia alguma que convença, fica assistindo a tudo e fazendo o papel de mandalete. Traz um recado e manda outro. Talvez devêssemos utilizar exemplos bem sucedidos como o caso da cadeia do algodão, que em doze ou treze anos virou a mesa a seu favor, com profissionalismo no processo produtivo, negociações contundentes e honradas.

Ao invés deles embargarem a nossa carne ou nós sobre-taxarmos produtos provenientes do bloco europeu (que soaria como uma barreira comercial e complicaria a situação), poderíamos criar uma espécie de moratória à exportação de determinados produtos para esses países. E para compensar, investirmos declaradamente nos mercados Asiático e Russo. Para tanto, obviamente, precisaríamos que cada um fizesse a sua parte, inclusive o governo, intimamente alinhado com a iniciativa privada.
Logicamente que não resolveríamos a situação desse modo, e a princípio, talvez até piorasse o caso, mas certamente serviria para iniciarmos uma negociação efetiva, e não esse constrangimento travestido de segurança do alimento, o que na verdade significa segurança alimentar e protecionismo público declarado.
Os Irlandeses, por exemplo, possuem casos de BSE todo ano, desde 2002 (o ano mal começou e já confirmaram o primeiro), e apesar disso tem conseguido fazer um lobby tão organizado, que conseguiram virar o holofote para nós, convencendo o mercado de que nós é que somos o problema.

Poderíamos começar a nossa estratégia, por exemplo, sobre-taxando a exportação de soja não-transgênica, vegetais ou frutas (isso necessitaria de um estudo é claro) e outros produtos em que somos amplamente competitivos sob algum pretexto social ou ambiental (a bola da vez no marketing internacional) afetando os principais consumidores.
Outro ponto a ser atacado seria a de estabelecer um forte programa de marketing no mercado europeu, não somente para demonstrar a qualidade da nossa carne, o que já é feito, mas principalmente para esclarecer a influência das restrições européias no preço ao mercado consumidor. Gostaria muito de saber até quando a elite européia e a crescente população de imigração agüentariam pagar carne a preço de boi australiano.
O ano está apenas começando. Grande semana para todos.

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