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Educação em profunda crise: é necessário recomeçar tudo ou quase tudo de novo


Polan Lacki
No Brasil estamos sofrendo, antigas, muito dolorosas e crescentes, consequências de um fator de anti-desenvolvimento que está demonstrando ter uma extraordinária força para frear e até mesmo anular os esforços que os cidadãos, as instituições, as empresas e os governos estão realizando para promover o desenvolvimento econômico e social do nosso país. Este fator está presente numa instituição historicamente valorizada, apreciada e reconhecida pela opinião pública, mas que com o passar dos anos está deteriorando sua imagem, porque seus integrantes permanecem com os olhos fechados e os ouvidos tapados, apesar dos danos que, por ação ou por omissão, está causando ao desenvolvimento, à prosperidade e ao bem estar de nossos habitantes.


Refiro-me à péssima qualidade de nossa educação e muito particularmente à incongruência existente entre o que e como nosso anacrônico sistema de educação primária, secundária e terciária está ensinando e o que e como deveria ensinar para que os educandos possam melhorar seus princípios, valores, atitudes, conhecimentos e competências; e desta maneira ter um melhor desempenho na vida pessoal, familiar, profissional, empresarial e civico-comunitária.

Com poucas exceções, nossas instituições educativas chegaram em tal nível de deterioração que não podemos continuar aceitando-o; sua reconstrução tem que ser - na prática e não no repudiável discurso demagógico - a mais urgente prioridade de cada governo municipal, estadual e nacional. Porque, falando objetivamente, não existem motivos nem justificativas para aceitar que todos os cidadãos, direta ou indiretamente, continuem sendo afetados e penalizados por uma educação disfuncional que insiste em ensinar-lhes conteúdos descontextualizados que em grande parte são irrelevantes e pouco utilizáveis; além de serem ensinados de forma muito teórica, abstrata, desestimulante e minimamente vinculada às suas futuras necessidades de vida e de trabalho.

Principalmente se considerarmos que o mundo moderno está necessitando, desesperadamente, de uma educação mais pragmática e instrumental, cujos conteúdos os educandos possam utilizar e aplicar na correção de suas próprias ineficiências, como estratégia para que possam solucionar os problemas que enfrentam em suas vidas cotidianas e oferecer uma maior e melhor contribuição ao desenvolvimento de suas comunidades e do país.

¿Reformas cosméticas para "manter as aparências" ou reformas profundas para mudar de verdade?

As autoridades educativas devem abandonar, de uma vez por todas, as inócuas reformas cosméticas que vem realizando, ano após ano, durante as últimas décadas. Porque tais reformas estão enganando os educandos e condenando-os ao desemprego e ao fracasso como pessoas, como pais de família, como trabalhadores, como empreendedores e como membros de suas comunidades. É por esta importante razão que o ministério nacional e as secretarias estaduais e municipais de educação devem promover reformas educativas profundas e radicais, que produzam resultados concretos e imediatos: na formação e capacitação (mais pragmática, funcional e prática) dos docentes, nos conteúdos curriculares, nos métodos pedagógicos, na administração das escolas e em seu relacionamento com os pais de família, com as comunidades e com o mercado de trabalho.

Também devem promover reformas que modifiquem os “generosos” calendários escolares (com 4 horas de aulas por dia, 8 meses de aulas por ano e repletos de celebrações, assembléias, pré-feriados, pós-feriados e greves). Estas “generosidades” são inaceitáveis porque, se necessitamos que os alunos aprendam mais e melhor, é indispensável que os professores lhes ensinem mais e melhor.

Todos os educandos devem ser formados para que possam atuar como cidadãos exemplares

Uma nova educação deverá estar orientada a estimular e "empoderar" os educandos para que queiram, saibam e possam ser mais eficientes e mais auto-dependentes na solução dos seus próprios problemas. Uma educação que lhes ensine como elevar sua produtividade e sua capacidade para gerar mais riquezas e renda familiar, como pré-requisitos para reduzir a pobreza na qual vive a maioria dos educandos. Se queremos erradicar a pobreza não podemos continuar formando cidadãos passivos e dependentes dos simplistas programas paternalistas de dar dinheiro aos pobres; porque estes são pobres financeiramente porque são pobres em conhecimentos que seus pais e especialmente o sistema de educação não lhes proporcionaram. Estes paliativos populistas estão destruindo a dignidade dos pobres e condenando-os ao fatalismo, à passividade, à ociosidade, aos vícios e conduzindo-os a uma miséria que, com a "ajuda" do ganhar sem trabalhar, está levando-os a uma pobreza irreversível.

O sistema de educação deve formar uma nova geração de cidadãos que possuam os princípios, os valores, as atitudes, os conhecimentos e as competências necessárias para que eles mesmos possam evitar/corrigir/eliminar os erros e ineficiências que estão cometendo, porque geralmente são estes os principais responsáveis de seu próprio subdesenvolvimento. Uma educação funcional e de boa qualidade deve ter como objetivo e estratégia convertê-los em cidadãos mais honrados, mais honestos, mais responsáveis, mais conscientes de seus deveres, mais criativos, mais produtivos, mais empreendedores, mais solidários e mais ativos e eficientes protagonistas na solução de seus problemas pessoais, familiares, profissionais e comunitários.


Os ministros e secretários de educação devem ter "currículos" que os recomendem

Por uma questão de coerência esta educação inovadora requer de autoridades educativas que também tenham atitudes e procedimentos inovadores e até revolucionários, no bom sentido. Os postos de ministros e de secretários estaduais e municipais de educação já não podem continuar sendo atribuídos aos oportunistas de plantão como retribuição por terem ajudado a eleger o governo de turno. Estes postos deverão ser ocupados pelos mais competentes educadores do país e de cada estado e município.

Competentes, não necessariamente por terem muitos títulos acadêmicos afixados nas paredes, mas sim no sentido de que em suas vidas pregressas tenham demonstrado criatividade, inteligência e competência técnico-administrativa para formular e executar soluções inteligentes e inovadoras, que sejam capazes de provocar um grande impacto na qualidade educativa e nas atitudes e competências dos educandos. Nas instituições educativas, muitíssimo mais que em qualquer outro organismo ou empresa, a meritocracia tem que ser um princípio irrenunciável e inegociável.

Uma missão com tão elevada importância estratégica, econômica e social não pode continuar sendo atribuída aos maus políticos e muito menos aos maus sindicalistas da educação, porque estes estão cada vez menos preocupados em educar e cada vez mais dedicados a fazer proselitismo político e a catequizar ideologicamente os estudantes. A educação deve ser política e ideologicamente neutra.

Apesar de tudo, é muitíssimo o que podem fazer os professores para melhorar a educação

Obviamente que as adequadas decisões políticas dos ministros e secretários de educação e as eficientes administrações dos reitores das universidades e dos diretores das unidades educativas nos três níveis são importantes. No entanto, elas não produzirão os resultados necessários se os integrantes do mais importante e mais decisivo estamento da educação - os professores - não assumirem um maior protagonismo no melhoramento do seu próprio desempenho e consequentemente na qualidade do ensino que proporcionam aos educandos. Por mais adversas que sejam suas condições trabalhistas e salariais, é muito o que os professores podem fazer para reverter a baixa qualidade educativa e a crescente deterioração da educação. Em muitos casos eles não necessitam condicionar a melhoria de seu desempenho docente a que os governos adotem altas decisões políticas e proporcionem significativos recursos adicionais.

Porque muitas das atuais ineficiências são tão elementares, de fácil correção e de tão baixo custo que podem ser evitadas, corrigidas ou eliminadas pelos próprios professores, independentemente do que façam ou deixem de fazer os ministros e secretários da educação, os reitores das universidades e os docentes e diretores das faculdades e escolas nos três níveis. Conscientes de que é muito pouco o que eles podem esperar dos seus debilitados e endividados governos, é necessário que os professores façam um esforço adicional e assumam um maior protagonismo na correção das profundas ineficiências, debilidades e disfuncionalidades das instituições educativas. É para que eles tenham uma incidência eficiente e produtiva na mencionada correção, que todos os cidadãos do país através de seus impostos (inclusive dos contribuintes muito pobres que coincidentemente são os mais castigados pela baixa qualidade da educação), financiaram a formação acadêmica dos professores e estão pagando, mesmo que em muitos casos muito mal, os seus salários.

Críticas e contribuições para melhorar esta abordagem serão bem-vindas através do e-mail:
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O resumo da trajetória profissional e outros artigos do autor estão disponíveis na página:
- http://www.polanlacki.com.br

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