A eleição de Donald Trump à presidência dos EUA (posse no dia 20 de janeiro próximo) trouxe novas pressões sobre a inflação brasileira. Trump foi eleito principalmente em função da crise econômica nos EUA, em especial a alta dos preços, embora esta tenha baixado significativamente nos últimos dois anos do governo Biden.
Mas, contraditoriamente, os eleitores acabaram apoiando um candidato cujas propostas são fortemente inflacionárias: taxar as importações, eleva os preços internos; expulsar os estrangeiros, mesmo que ilegais no país, traz pressão salarial por falta de mão de obra em atividades que os estadunidenses não querem realizar, e assim por diante. Ora, para conter a inflação interna, se esse caminho for efetivamente percorrido, o Banco Central dos EUA terá que voltar a elevar o juro básico.
Ao fazer isso, valoriza-se os títulos públicos daquele país, fato que atrai dólares aplicados em outros países, incluindo o Brasil. A saída de dólares daqui leva a uma desvalorização do Real, a qual já está elevada. Em isso ocorrendo, os preços internos (de produtos exportados, mas especialmente de produtos importados) sobem, puxando para cima uma inflação que já superou o teto da meta (fechou outubro com o índice de 12 meses em 4,76%). Sendo o objetivo de nosso Banco Central segurar a inflação no centro da meta (3% ao ano), nota-se que o mesmo já não será cumprido em 2024 e se encontra comprometido para 2025.
Assim, a próxima reunião do Copom, em dezembro, deverá novamente aumentar a Selic, também devido a este fator externo. Hoje não se descarta um aumento de 0,5 a 0,75 ponto percentual, o que levaria a Selic a fechar o ano entre 11,75% e 12%. Um dos mais altos juros reais do mundo. O objetivo é reduzir a inflação via elevação do juro, fato que, em tese, freia a economia, hoje anormalmente aquecida.
Mas, existe ainda um problema mais sério. A dificuldade do governo em apresentar um plano de corte de gastos que venha a viabilizar o arcabouço fiscal. Este atraso no anúncio do “pacote” gera tensões inflacionárias e cambiais ainda maiores. E há um risco embutido no contexto: se o anúncio vier com um corte total tímido (abaixo de R$ 40 bilhões no conjunto de 2025 e 2026), o câmbio poderá disparar para R$ 6,00 e mais (hoje ao redor de R$ 5,74 por dólar), piorando o quadro inflacionário e a tendência de elevação dos juros.