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Cuidados na abertura do silo reduzem perdas e ajudam a manter o valor nutritivo da forragem


Jackson Silva e Oliveira

Depois de todo o tempo, trabalho e recursos investidos na confecção da silagem, finalmente chega o momento de abrir o silo. É nessa hora que o produtor irá saber se houve problemas durante o período de fermentação e se houve perdas além das normais.

Uma maneira quase certa de ter perdas no silo é fazer a abertura antes da hora, ou seja, antes do material ensilado ter sido completamente fermentado e estar totalmente estabilizado. Além das perdas materiais e queda no consumo, silagens com fermentação incompleta tendem a apresentar valores mais altos de pH e riscos de favorecer fermentações indesejáveis e surgimento de toxinas perigosas.

Milho e sorgo produzem forragem com um bom nível de carboidratos solúvel e isso favorece uma fermentação mais rápida. Nesses casos a abertura do silo deve ser feita após 30 dias do fechamento. Sabe-se de casos em que silos desses tipos, mesmo em condições de fazenda, foram abertos até mais cedo sem prejuízo para a qualidade da silagem. Entretanto não devemos considerar isso como regra.

Para as forrageiras com menor concentração de carboidratos solúveis, como os capins, deve-se dar mais tempo para a fermentação se completar. A orientação para esses silos é a abertura após 40 dias de fechamento.

As principais recomendações para fazer silagem incluem colheita com a umidade adequada, boa picagem e compactação, enchimento rápido e fechamento perfeito. Qualquer material ensilado com esses cuidados, seja milho, sorgo ou capim, será fermentado e se estabilizará dentro do silo. Uma vez estabilizado e desde que não ocorra penetração de ar ou água, a silagem ficará conservada por muito tempo.

A avaliação feita no momento da abertura tem o objetivo de verificar como ocorreu o processo de fermentação da silagem. Ela baseia-se principalmente na aparência, no odor e na temperatura da silagem e é importante, pois identificará a necessidade de descartar ou não parte da silagem.

A cor da silagem de milho deve estar verde clara ou amarelada. Já nas de sorgo ela é mais amarronzada e nas de capim varia entre o verde escuro e o amarronzado. A ocorrência de manchas escuras pode indicar alterações na fermentação decorrente da contaminação por ar, água ou má compactação. É comum observar alterações de cor na silagem próxima às paredes do silo, principalmente quando as paredes não são revestidas, o que permite a passagem de umidade.

A silagem imediatamente abaixo da lona de cobertura também pode ter um aspecto diferente devido à maior presença de ar residual no momento do fechamento do silo (menor compactação) e à maior possibilidade de ter ficado exposta a uma temperatura mais alta, uma vez que, se a lona não tiver sido devidamente protegida, o calor da radiação solar será transmitido para a camada superior da silagem.

Ao se fazer a silagem o que se procura é ter, como resultado da fermentação, a maior concentração possível de ácido lático. Porém, outros ácidos estão presentes em menor concentração, principalmente o acético, propiônico e butírico. Enquanto o ácido lático não tem qualquer odor, o acético tem o cheiro característico de vinagre. É raro encontrar uma silagem sem qualquer cheiro, ou seja, sem a presença de ácido acético. Por isso, nas silagens normais há sempre um cheiro leve de ácido acético. Esse cheiro, quando muito forte, indica demora para o pH chegar no ponto ideal para atuação das bactérias que produzem ácido lático.

A presença dos ácidos propiônico e, principalmente o butírico não deve existir, pois indica a ocorrência de fermentações indesejáveis. Qualquer cheiro desagradável e diferente do odor característico do ácido acético é sinal da presença de ácido propiônico ou butírico. Geralmente esse odores estarão presentes nas mesmas porções de silagem que se mostrarem com coloração fora dos padrões normais.

A terceira avaliação que deve ser feita na abertura do silo é da temperatura da silagem. Embora haja aquecimento da silagem durante a fermentação, ela diminui após a estabilização e permanece inalterada até a abertura do silo. Ao abrir o silo toque a silagem e sinta a temperatura. A silagem deve estar fria. Ao entrar em contato com o ar a silagem inicia um processo de deterioração que pode ser mais ou menos intenso dependendo de vários fatores, dentre eles o nível de compactação, o teor de umidade, a contaminação por água e ar após o fechamento do silo etc.

Normalmente, as porções da silagem com as alterações na cor e aparência também apresentam alterações no cheiro e na temperatura e estão associadas à presença de microorganismos indesejáveis como fungos e mofos.

Silagem que estiver com as alterações citadas acima não deve ser fornecida a nenhuma categoria animal. Essas porções devem ser retiradas do silo e descartadas. De preferência colocadas em uma esterqueira para ser, posteriormente, incorporada ao solo como matéria orgânica. É importante, então, que a pessoa responsável pela abertura do silo e pela retirada diária da silagem reconheça a silagem imprópria para o consumo e saiba como descartá-la.

As informações apresentadas aqui mostram a importância de fazer corretamente a silagem. Após a abertura do silo, a silagem perdida não pode mais ser recuperada. Qualquer tipo de perda faz aumentar o custo da silagem produzida além de obrigar o produtor, dependendo da quantidade perdida, a comprar outros volumosos para suplementar as pastagens.

Manejo do silo

As perdas na silagem não são devidas apenas àquelas que ocorrem durante o período de fermentação. O manejo do silo após sua abertura, quando não é bem feito, também pode aumentar na quantidade e no valor nutritivo da silagem, além de diminuir o consumo pelos animais.

A partir do momento em que o silo é aberto a silagem entra em contato com o ar e outros tipos de fermentações têm início. Essas fermentações ocorrem principalmente na parte da silagem que está sendo exposta ao ar e que chamaremos aqui de "face do silo". Manejar corretamente o silo significa minimizar os prejuízos que o contato com o ar pode causar na silagem presente na "face do silo". Para isso as seguintes regras básicas devem ser seguidas:

Retirada mínima diária

Independentemente do tamanho da "face do silo", uma fatia de, no mínimo, 15 cm deve ser retirada todos os dias. A fatia retirada já esteve exposta ao ar desde o dia anterior, ou seja, a 24 horas. Se ela não for retirada vai permanecer mais tempo exposta ao ar e sua qualidade irá ficar comprometida.

Por causa dessa retirada mínima é importante, ao planejar um silo, definir o tamanho que a "face do silo" deve ter. Ela deve ter um tamanho tal que a forragem contida em 15 cm retirados do silo seja totalmente consumida pelos animais no mesmo dia.

Não retire mais silagem do que a que será consumida

Conheça a quantidade que o rebanho consome por dia e retire silagem suficiente apenas para aquele dia. É comum alguns produtores, principalmente por problemas de mão de obra durante os finais de semana, retirar de uma só vez, silagem para dois ou até três dias. Isso só vai prejudicar o valor nutritivo da silagem e o consumo pelos animais. A silagem "retirada" para o dia seguinte vai sofrer uma fermentação mais intensa do que se tivesse permanecido no silo.

É fácil observar como a temperatura da silagem "retirada" é bem mais alta do que aquela que fica no silo. Outro fato fácil de constatar é que, quando se fornece silagens retiradas no dia anterior, o consumo e as sobras no cocho (perdas) são maiores.

Faça as retiradas sempre em fatias verticais uniformes

O objetivo de retirar dessa maneira é fazer com que a área de silagem exposta ao ar seja a mínima possível. A retirada sem ser em camadas verticais uniformes, ou seja, em degraus, sejam eles verticais ou horizontais, aumenta a área de exposição da silagem possibilitando aumento nas perdas. Há situações nas quais o produtor, ou o encarregado de retirar a silagem, ao observar porções com silagem imprópria para consumo decide, para economizar tempo, deixar aquela parte do silo sem mexer e retira uma fatia maior na parte boa do silo. Isso vai resultar no mesmo problema já citado de aumento nas perdas. O correto é sempre fazer a retirada em fatia e, descartar imediatamente a porção estragada.

Mantenha a entrada do silo sempre limpa e desobstruída

Isso vai facilitar não só retirada da silagem como também a entrada da carreta que irá transportá-la. Toda silagem não apta para o consumo (apodrecida, cheirando mal, com fungo ou mofo, superaquecida etc) deve ser descartada em local que não prejudique o acesso ao silo.

Proteja a silagem do sol e da chuva

Assim que terminar de retirar a silagem coloque a lona plástica para protegê-la da chuva e da incidência direta do sol.

Uma vez aberto o silo, use-o até o fim

Abrir o silo, usar apenas uma parte e fechá-lo novamente é perder silagem. Ao simples contato com o ar as fermentações de deterioração se iniciam. O tempo que ela ficou exposta, por menor que seja, é suficiente para que o ar penetre na parte inicial do silo e estrague a silagem.

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