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Confissões de um Carnívoro


Rutinaldo Miranda Batista Júnior
Há quem não goste de carne. E desse grupo fazem parte as antas, os rinocerontes, os coelhos, as lhamas... Ah, e também alguns seres humanos! Pessoas realmente extraordinárias. O tipo de gente que me dá inveja.  Como eu queria ser assim! E não comer carne alguma. Olhar para todos os bichinhos apetitosos do planeta. Desejando um sublime destino. Que todos fossem pro além de velhice. Que coisa linda! Fico todo arrepiado só em pensar nisso. Mas infelizmente a realidade é outra. Não consigo ser assim.

 
Não, eu não consigo. E Já fiz de tudo. Coloquei um prato com espinafre diante dos meus olhos. Respirei fundo. Recitei um mantra sagrado. Em plena meditação, falei para mim mesmo: “essa folha é melhor que uma picanha! Essa folha é melhor que uma picanha”. Repeti dez vezes. Depois, aumentei bastante o nível. Agora com um vistoso abacaxi. “Você é melhor que um pernil. Você é melhor que um pernil.” Repetindo vinte vezes. E nesse exercício mental-psicológico-analítico-culinário, gastei intermináveis minutos. Chegando por fim ao resultado incontestável. Definitivamente eu gosto mesmo é de comer carne. Disso não posso negar. Por mais que coma um bife de soja fantástico. Por mais que saboreie um hambúrguer de banana igualzinho ao de boi. Minha alma carnívora nunca será enganada. E meu lado predador sempre vai falar mais alto.

Inútil negar a minha própria natureza. No fundo, sou um carnívoro. Apesar de já ter muita gente me olhando atravessado. Mas só peço uma coisa. Tenham um pouco de tolerância. Respeitem a minha orientação alimentar. Eu não tenho culpa de ter nascido assim. Sempre vou achar um bife irresistível. E os meus olhos jamais se desviarão de uma boa churrascaria. Cedo ou tarde, eu vou entrar lá. Mesmo que em avançado estado de abstinência. Babando desesperado com o delicioso cheiro de galeto na brasa.  Sob o olhar comovido do garçom. Ao ver que o cliente pródigo voltou à velha casa. E ligeiro vai buscar o mais caprichado dos espetos. Da mais suculenta alcatra. Para, com um sorriso generoso, fazer aquela que é a mais fácil das perguntas. Aceita um pedaço, senhor?

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