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Vão-se os dedos, ficam os anéis? - Final


Amado de Olveira Filho
Na coluna anterior, tratamos a respeito da crise que se estabeleceu sobre a pecuária em Mato Grosso. Li num ofício do presidente da Famato, Rui Prado, endereçado a presidente da CNA. Nesse ofício a Famato sintetizou todas as razões da crise. Veja nos quatro parágrafos a seguir a síntese da crise da pecuária de corte:
"Após análise de cenários otimistas, com matéria-prima barata e demanda aquecida, os frigoríficos brasileiros abriram capital, construíram e ampliaram suas plantas de abate no país e no exterior ao custo de capital de terceiros. Sem contar com ameaças que pudessem, em pouco tempo, enxugar o capital do setor que costumava operar com bastante alavancagem, este enfrenta agora as conseqüências das sucessivas crises.
Com o agravamento da crise mundial, foi instalada no setor uma crise de confiança, tanto nas relações comerciais domésticas quanto nas transações internacionais. Essa insegurança está prejudicando o desempenho das exportações, e a demora na tomada de medidas pode causar danos irreparáveis no curto e médio prazo para toda a cadeia da bovinocultura nacional de corte.
Em virtude das atuais dificuldades encontradas pelos frigoríficos bovinos em todo o Brasil e em especial em Mato Grosso, e considerando que tais dificuldades acabam por influenciar diretamente a sustentabilidade do setor produtivo, venho por meio deste solicitar junto a esta Confederação a criação de um grupo técnico para discutir o tema.
O propósito é o de buscar propostas e soluções para o problema que se configura no atual cenário da pecuária do Estado, subsidiando os setores do governo federal para a adoção de políticas governamentais."
O interessante é que o setor se propõe a trabalhar para encontrar soluções. Por outro lado, se ocorrer a conhecida inércia governamental, já conhecida de outros segmentos do agronegócio brasileiro, brevemente estará faltando carnes. Lembro, ainda, que no final do ano passado ouvi de um professor da Esalq que isto haveria de acontecer em 2009. Num primeiro momento grande parte da população passaria a consumir carnes de dianteiros e depois nem estas.
Para o Estado os resultados da crise serão perversos. Segundo dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea), Mato Grosso possui atualmente 17 plantas frigoríficas paralisadas, implicando numa redução da capacidade de abate na ordem de 12.140 cabeças de gado, em torno de 33% da capacidade total. Porém, a redução não é apenas das plantas paralisadas, mas está ocorrendo uma redução significativa também nas ativas, exemplo de um frigorífico na região de Cáceres que está abatendo apenas 400 cabeças/dia, porém, tem capacidade de abater 900 cabeças.
Ainda segundo dados do Imea, verificamos que só com as plantas paralisadas, portanto, sem contar as ativas que reduziram suas escalas de abate, Mato Grosso deixa de faturar R$ 13,4 milhões de reais diariamente. Estes valores poderão aumentar se nada for feito em favor da cadeia. Brevemente os preços ruirão ainda mais, pois ao encerrar o período chuvoso não haverá como deixar o gado a pasto, a saída será vender. Portanto, os produtores rurais amargarão grandes prejuízos, ou então, passarão a ter em seus pastos o chamado boi-sanfona.
Um indicativo de que tudo isto é verdade, você caro leitor pode aferir. Faça um esforço e procure lembrar quantos convites você recebia para participar de um saboroso churrasco. Quando foi o último? Que tipo de carne você procura comprar quando vai às compras? Não se preocupe, nós brasileiros classes média e baixa, sabemos adaptar nossa cultura alimentar à capacidade de nossos bolsos. Procure saber de umas receitas de rabada com batata ou ainda da deliciosa vaca atolada.

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