O mundo vive uma situação assemelhada ao que ocorreu nos idos de 365 DC.
Edward Gibbon, em sua monumental obra “Declínio e Queda do Império Romano”, descreveu o governo do imperador Valente, como o início visível da queda desse império que, em quarenta anos, milhões de godos pressionados pelos hunos ultrapassaram o Rio Danúbio chegando ao Atlântico. Em tempo recente, entre os anos de 2020 a 2024, milhões de migrantes adentraram os Estados Unidos e a Europa, também tangidos por diferentes razões. O “equilíbrio” mundial assim vai sendo quebrado e provocando consequências de toda ordem. A presente unipolaridade anglo-saxônica vem sendo questionada e atacada em movimentos de fricção, seja pelas migrações, tensões geopolíticas, novos atores com competitividade tecnológica, produtividade, domínio nas novas fronteiras como os da inteligência artificial, robótica, engenharia genética, a partir de pesquisas gerando um patenteamento industrial crescente, por esses países. As guerras por procuração na Ucrânia e Oriente Médio também são faces dessa luta para a manutenção do domínio Ocidental, mas o pêndulo se move.
Onde se situa o Brasil nesse xadrez geopolítico, já que apresenta uma situação invulgar, de não ter há mais de 150 anos contenciosos militares, posição geográfica, área e população invejáveis? Bem, é de se raciocinar que estaria bem posicionado globalmente, mas pela intermitência de projetos apresentados por governantes periodicamente eleitos conclui-se que falta um projeto de Nação. O país continua com pouca relevância, seja na diplomacia ou nos mercados, se mantendo nos mesmos patamares há décadas, como consequência desse quadro, exceto nas exportações do setor primário.
A continuada expansão do agro brasileiro nas últimas décadas é produto de uma conjugação de fatores internos e externos, tornando-o importante, confiável e seguro fornecedor global de alimentos. É necessário destacar, que esses mercados consumidores da produção de alimentos, situam-se, crescentemente no Oriente Médio e no Extremo Oriente. Essas amplas regiões, com bilhões de pessoas, devem ser o foco principal nas ações diplomáticas do governo brasileiro e dos player desses produtos. O Brasil despende desnecessariamente energia com os envelhecidos países europeus, os quais continuam entre outras situações, com práticas predatórias contra o nosso país, advindas de suas visões colonialistas. Macron e von der Leyen, etc... já são notas de rodapé da história.
A abertura de novos postos de adidos agrícolas é a demonstração da importância, que o país realmente deve dar às relações de comércio com outros países, observados as suas pluralidades. É na diversificação dos mercados consumidores, que o Brasil terá a necessária resiliência e inserção para uma nova realidade, que se avizinha. Nada mais oportuno do que o provérbio árabe: “os cães ladram e a caravana passa”, isto é, o Brasil deve se manter longe desses conflitos alheios aos seus interesses e focar naquilo que lhe traz vantagens comparativas, exercendo um amigável soft power.