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Utilização de Sistemas Silvipastoris na Amazônia


Newton de Lucena Costa
Os sistemas agroflorestais onde estão incluídos os sistemas silvipastoris, são sistemas agropecuários diversificados e multiestratificados, nos quais os arbóreos são explorados em associação planejada com cultivos agrícolas ou pastagem, de maneira simultânea ou seqüencialmente. Os sistemas silvipastoris que somente associam árvores com pastagem, obviamente, têm também um componente animal, como regra ruminantes de médio ou pequeno porte, principalmente bovinos e ovinos. As principais vantagens dos sistemas silvipastoris são as de melhorar o aproveitamento dos solos; controlar as ervas invasoras; reduzir os riscos de incêndio; produzir lenha, postes e madeira. Ademais, os pequenos produtores podem produzir alimentos de origem animal sem sacrificar áreas para cultivos. No sistema silvipastoril componente arbóreo constitui importante fator de estabilização do solo, por conferir proteção contra ação direta das chuva, do sol e da erosão pluvial e eólica. Além disso, a árvores podem modificar o microclima, permitindo melhor ciclagem de nutrientes por processo naturais, por meio da matéria orgânica originada pelas plantas mortas e excrementos dos animais. Esse efeito de proteção do solo pelas árvores pode refletir no aumento da palatabilidade das pastagens, além de produzir benefícios econômicos e ecológicos. 

No Sudoeste americano, uma expressiva área de pastagem sob Pinus taeda vem sendo utilizada há várias décadas por bovinos. Este sistema tem demonstrado sua viabilidade socioeconômica ao longo dos anos. No Chile, a prática de sistemas silvipastoril já é amplamente utilizada pelos pequenos e grandes produtores do semi-árido, principalmente com bovinos e ovinos em bosques nativos de Acacia cavenAtriplexProsopis cujos os resultados econômicos têm sido satisfatórios. Em Taiwan, foram obtidos resultados econômicos satisfatórios utilizando bubalinos no controle de plantas invasoras no sub-bosque de Marrogani (Swietenia). Os mesmos autores revelaram que estes animais não interfiraram o crescimento das árvores. Segundo a Embrapa Amazônia Oriental, o sistema silvipastoril com gramineas (Panicum maximum, Brachiaria brizantha B. humidicola) e árvores (tatatajuba, paricá e eucalipto) vem sendo adotado em várias fazendas do Pará, com pastagens em elevado estado degradação. Neste sistema o ganho de peso dos bovinos tem sido satisfatório, muitas vezes superando aos obtidos em pastagens simples. Durante um período de 18 meses, acompanhou-se o desempenho de bovinos em pastagem de P. maximum sob plantios de cajueiros em comparação com pastagem não sombreada. Ao final do experimento observaram que o sombreamento reduziu significativamente a produtividade da pastagem, o que implicou em um menor ganho de peso dos animais. Avaliando-se o desempenho de bovinos em pastagem de P. maximum em áreas povoadas por Eucaliptus urophilla e obtiveram-se ganhos médios diários de 250 g, em função da baixa disponibilidade de forragem. Na Embrapa Rondônia, durante a estação seca do trópico úmido brasileiro, os ganhos de peso satisfatórios em ovinos deslanados mantidos em Pueraria phasoeloides + gramíneas nativas sob plantio de diversos clones de seringueira (Hevea brasilensis). A carga animal também é um fator importante a ser levado em consideração nestes sistemas. Em uma floresta de coníferas, pastejada durante quatro anos, com 36 a 68 animais/ha, estes ocasionaram perdas de até 31% das árvores. Em Taiwan, não foram encontradas diferenças significativas de três cargas animais(alta = 0,18; média = 0,14 e baixa = 0,10 UA/ha de bubalinos no pastejo no sub-bosque de marrogani. No Pará, o desempenho de bubalinos em pastejo contínuo sob cargas baixa, média e alta; em áreas com e sem sombreamento, foram avaliados, não sendo detectadas diferenças significativas entre os tratamentos. Sugere-se que o cálculo da carga animal seja o mais adequado possível, para que seja evitado o superpastejo. A maioria dos sistema silvipastoris praticados na Amazônia indicam que o superpastejo compromete a persistência das forrageiras, permitindo o aumento de plantas invasoras não palatáveis. Em plantações de Quercus suber e Q. rotundifolia utilizados por ruminantes e suínos, num sistema agrosilvipastoril integrado, em que se aproveitam frutos, gramíneas e leguminosas. Na República Domicana, um sistema silvipastoril envolvendo Guazuma ulmifolia, Prosopis juliflora e pastagem natural (Uniola virgata) é praticado por agricultores de vários municípios. Neste sistema, as árvores são utilizadas para sombra e alimentação de bovinos e caprinos. Nos sistema silvipastoris, é importante salientar que árvore, pela funções que desempenha deve ser o elemento estrutural básico do sistema. Dessa maneira, o componente arbóreo constitui importante fator de estabilização do solo, por conferir proteção contra ação direta das chuvas, do sol e da erosão pluvial e eólica, minimizando os danos causados pela lixiviação. Nesses sistemas a vegetação arbórea pode modificar o microclima, permitindo melhor ciclagem de nutrientes por processos naturais, por meio da matéria orgânica originada de plantas mortas e dos excrementos animais. Esse efeito de proteção do solo pelas árvores pode refletir no aumento da palatabilidade das pastagens. A densidade do povoamento florestal, no sistemas silvipastoris, é responsável pela maior ou menor produção de forragens e, consequentemente, pela pressão de pastejo a ser exercida na área. A produtividade das pastagens neste sistemas dependem da quantidade de árvores por hectare, da altura, arquitetura e fenologia de cada espécie. As árvores a serem utilizadas num sistema silvipastoril devem ser, preferencialmente, de copas que permitam a passagem de luz para o crescimento das forrageiras. As pastagens tropicais do tipo metabólico C4, alcançam sua produção máxima com altos níveis de luminosidade. 

A influencia das árvores sobre a produção das pastagens, considerando a interceptação da radiação solar, poderá reduzir a sua capacidade produtiva. No entanto, quando o componente arbóreo não é muito denso, permitindo que a radiação solar penetre pela copa até o solo, as gramíneas existentes sob esse dossel mantêm por mais tempo seus níveis de proteína e maior digestibilidade do que aquelas que estão fora da influência dessa cobertura vegetal. Na Costa Rica, experiências silvipastoris mostram que produção de capim estrela (Cynodon plectostachium) associado com 320 árvores/ha de Leucaena leucocephala e Gliricidia sepium, aumentou significativamente, além disso, houve uma tendência de maior consumo de forragem pelos animais. Avaliando-se os efeitos do espaçamento de Eucaliptus grandis sobre pastagens de Setaria sphaceleta, observou-se que a maior produção da forrageira foi obtida numa cobertura arbórea de 20% ou 300 plantas de eucaliptus/hectare. Na Colômbia, avaliando-se o efeito de três densidades arbórea sobre a produção de biomassa de P. maximum durante o verão, ao final do experimento encontraram-se efeitos significativos da densidade baixa (7.629 kg MS/ha) em relação a média (3.783 kg MS/ha) e alta (3.080 kg MS/ha). Para pastagens dePennisetum purpureum sob coqueirais, estimaram-se produções de forragem superiores a 14 t/ha/corte. No semi-árido australiano, em solos de baixa fertilidade, o cultivo de Cenchrus ciliaris, sob Eucalyptus populnea, possibilitou um incremento de matéria seca três vezes superior ao plantado entre as árvores. Em Paragominas, foram avaliadas três gramíneas (brizanta - Brachiaria brizantha, dictioneura - B. dictioneura e quicuio da amazônia - B. humidicola) em consórcios com espécies florestais (paricá - Schylozobium amazonycum, eucalipto - Eucalyptus tereticornis e tatajuba -Bagassa guianensis) recomendadas para o reflorestamento e encontraram valores médios de 3.567, 4.105 e 4268 kg/MS/ha, para as forrageiras consorciadas com paricá, tatajuba e eucalipto, respectivamente. Neste experimento, os melhores desempenho foram, respectivamente, eucalipto + brizantha (5.127 kg/MS/ha), paricá + dictioneura (5.071 kg/MS/ha) e tatajuba + dictioneura (5.071 kg/MS/ha). A forrageira que apresentou menor desempenho entre os consórcios foi o quicuio da amazônia, com produções de 1.413 a 2.744 kg/MS/ha. Nos sistemas silvipastoris, os bovinos tem propensão a danificarem as árvores, principalmente danificando a copa, roçando a cabeça contra o tronco ou comendo a casca. Também os animais aprendem a baixar a copa das árvores jovens para alimentarem-se. O pastejo contínuo de bovinos em área de floresta, provoca acentuado desnudamento do solo e destrói as raízes superficiais, responsáveis pela absorção dos nutrientes, prejudicando o desenvolvimento das árvores. Em estudos realizados com Pinus sp., verificou-se que, para evitar danos árvores, o gado bovino não deve ser colocado antes que as plantas tenham três anos de idade ou 4 m de altura, no entanto ovelhas podem ser introduzidas mais cedo, ou seja, com árvores com 2 m de altura. O pastejo rotativo de bovinos em plantios de Eucaliptus saligna associados a forrageiras (Lolium multiflorumTrifolium vesiculosum) não afetou a sobrevivência das mudas a partir dos 2 metros de altura, e que os danos causados não superaram 4,4%. Nos Estados Unidos, a associação de bovinos com Pinus elliotti, a partir dos dois anos de idade de plantação e na densidade de cinco animais/hectare, não afetaram significativamente a sobrevivência das plantas até os cinco anos de idade plantas. Num sistema silvipastoril adotado no Equador, o plantio de Eucalyptus globulus foi realizado em áreas destinadas ao pastoreio com ovelhas, as quais não danificaram as árvores, ajudando, ao contrário no controle das plantas daninhas e diminuindo a competição por água e nutrientes, bem como os riscos de incêndio na estação seca. Posteriormente, conforme as árvores vão crescendo, introduz-se nestas áreas o gado bovino. As espécies arbóreas para combinação com pastagens e bovídeos devem possuir as seguintes características: não ser tóxica e que não produza efeitos alelopáticos sobre a pastagem; terem silvicultura conhecida; serem adequadas às condições ecológicas e ambientais; de crescimento rápido, e preferencialmente, perinófilas; sejam resistentes a ventos; possam propiciar alimento para os animais; tenham capacidade de rebrote e de fixação de nitrogênio. 

Newton de Lucena Costa (Embrapa Roraima); João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte); 
Claudio Ramalho Townsend (Embrapa Clima Temperado), Ricardo Gomes Araújo Pereira (Embrapa Rondônia)

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