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Parte Aérea da Mandioca na Alimentação de Ruminantes


Newton de Lucena Costa

A mandioca (Manihot esculenta) é uma planta genuinamente brasileira, sendo cultivada em praticamente todo o território brasileiro, além de ser uma planta muito rústica, não muito exigente em termos de solo, sendo muito apreciada pelos animais. Tanto a raiz como a parte aérea da mandioca apresentam bom valor nutritivo, podendo ser utilizadas sob várias formas na alimentação animal.

A parte aérea da mandioca (ramas mais folhas) possui alto valor nutritivo, podendo conter até 16% de proteína bruta e um teor relativamente baixo de fibra, quando comparado com as forrageiras tropicais. Para aproveitar melhor as folhas da mandioca que possuem maior valor nutritivo, a Embrapa recomenda utilizar apenas o terço final da planta para alimentação animal, deixando a parte mais grossa e lenhosa para multiplicação.
A exemplo das raízes, algumas cultivares de mandioca, notadamente da chamada “mandioca brava” possuem concentrações relativamente altas de glicosídeos cianogênicos. Por essa razão, antes de ser dada aos animais, a parte aérea da mandioca brava deve passar por processo de murcha de no mínimo 24 horas. Além disso, deve ser dada para os animais misturada com outros volumosos, na proporção de 50%. Para maior segurança, é recomendável o uso da parte aérea na forma de feno, farelo ou silagem.
Trabalhos conduzidos pela Embrapa Rondônia evidenciam a viabilidade técnica do cultivo da mandioca visando, simultaneamente, a produção de forragem e raízes, desde que sejam selecionadas cultivares adequadas para freqüências e alturas de corte específicas. Independentemente da altura de corte e freqüência de poda, os maiores rendimentos de matéria seca foram obtidos com as cultivares Paumari I e Milagrosa. Os rendimentos de matéria seca e de raízes foram significativamente incrementados com a idade das plantas, ocorrendo o inverso com relação à percentagem de folhas. Cortes a 100 cm acima do solo proporcionaram maiores percentuais de folhas e rendimentos de raízes. Os maiores rendimentos de raízes foram obtidos com cortes aos 18 meses de idade, não sendo detectado efeito significativo da altura de corte, o maior rendimento foi registrado com a cultivar Milagrosa seguindo-se os obtidos com a Paranacre e Campária, cortes aos 6 e 12 meses de idade, resultou em acentuado decréscimo da produção de raízes.
Considerando-se os rendimentos de matéria seca, percentuais de folhas e a produtividade de raízes, as cultivares mais promissoras para a produção simultânea de forragem e raízes foram: Paumai I, com poda aos 6 e 12 meses, independentemente da altura de corte; Campária, com poda aos 12 meses e a 100 cm acima do solo e Milagrosa, com poda aos 12 meses independentemente da altura de corte.

Farelo da Parte Aérea

No processo de secagem ao sol são necessários alguns cuidados para preservar o valor nutritivo do material, tendo em vista algumas situações que podem ocorrer:

- ocorrência de chuvas ou alta umidade do ar;
- perda de folhas que contêm alto teor de proteína (28% a 32%), pois depois de secas, pulverizam-se e se perdem, facilmente, durante o manuseio.

Diante desses fatos, os seguintes passos dever ser seguidos:

- colher a parte aérea, descartando a haste principal, de aproximadamente 40cm, o que favorece maior concentração de folhas e consequentemente maior teor de proteína;
- picar com picadeira de forragem em pedaços de até 2cm;
- espalhar o material picado (15kg/m²) sobre lona ou terreiro cimentado e expô-lo ao sol;
- no primeiro dia, revirar o material a cada duas horas, e no segundo, duas vezes;
- deixar ao sol até ficar completamente seco;
- depois de seco, o material pode ser ensacado na forma em que foi seco ou transformado em farelo num moinho de peneira;
- conservar os sacos sobre estrados de madeira em local arejado;
- se o teor de umidade do material estiver em torno de 12%, pode ser armazenado, sem perder seu valor nutritivo, por até um ano, aproximadamente.

Silagem da Parte Aérea

- colher o material e amontoá-lo perto da picadeira. Aproveitar toda a parte aérea;
- picar em pedaços de 1 a 2cm, diretamente dentro do silo;
- compactar a cada camada de 20cm;
- encher o silo o mais rápidamente possível;
- encher o silo até ficar abaulado na parte de cima, cobrir com uma lona de plástico e recobrir com uma camada de, no mínimo, 15cm de terra;
- fazer canaletas em redor do silo para evitar entrada de água da chuva;
- só abrir o silo 30 dias após o enchimento.

A silagem da parte aérea da mandioca possui bom valor nutritivo, contendo altos níveis de proteína e de carboidratos solúveis. Esses valores podem variar em função da proporção folhas/ramas e da forma da ensilagem.
A silagem da parte aérea da mandioca, quando feita corretamente, apresenta excelente qualidade, já que além de possuir fermentação lática e acética, dentro dos padrões desejáveis, é isenta de fermentação butírica.

Silagem de Farelo da Parte Aérea com Capim-Elefante

O farelo da parte aérea da mandioca, quando ensilado com o capim-elefante, melhora o valor nutritivo, o teor de matéria seca e a fermentação da silagem e apresenta excelente aceitação pelos animais.
Para a obtenção de boa silagem de capim-elefante com o farelo da parte aérea da mandioca, é recomendável seguir as operações abaixo:

- a capineira deve ser bem adubada, para obter bom crescimento, altas produções de forragem com bom valor nutritivo;
- colher o capim-elefante entre 80 e 120 dias após o plantio ou a roçagem, dependendo do clima e da adubação;
- picar o capim com picadeira-ensiladeira, de preferência dentro do silo;
- a cada camada de 20cm compactar bem o material;
- espalhar sobre cada camada compactada o farelo da parte aérea da mandioca na proporção de 5% do total de massa ensilada;
- encher o silo acima de suas bordas, dando-lhe a forma abaulada;
- cobrir com lona de plástico e recobrir com uma camada de, no mínimo, 15cm de terra;
- fazer valetas em redor do silo para evitar entrada de água da chuva;
- só abrir o silo 30 dias após o enchimento.

Antônio Neri Azevedo Rodrigues (Instituto Federal de Rondônia), Newton de Lucena Costa (Embrapa Roraima), João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte)
 

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