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Um sonho adiado


José Annes Marinho
Há pelo menos 28 anos atrás, conversando com meu avô, ele dizia que um dia eu seria um profissional para ajudar os produtores rurais. Naquele instante começava o meu sonho: ser um profissional do campo, um agrônomo, pois me identificava com a terra, com o campo, eu tinha um carinho incontestável.


Pois bem, passaram-se anos, veio o 1º grau, o 2º grau, o cursinho, o vestibular, e finalmente o ingresso a universidade para estar no tão sonhado curso de Agronomia. Foram cinco anos de muito trabalho, estágios e, ao mesmo tempo, tínhamos o inicio de novas amizades, o exercício do cooperativismo, tudo o que um jovem com sonhos precisava.

Na realidade foram cinco anos que pareciam quinze. Talvez pelas dificuldades: ora financeira, ora provas, farras, festas, noites mal dormidas, ou até mesmo pela vontade de concluir o curso definitivamente. Depois de tudo isso: vencemos. Chegou o grande dia, o mais esperado por todos - família, eu, amigos, felizes por terem conseguido o que poucos em nosso país conseguem: formar-se. Posso dizer com todas as letras que é um momento inesquecível, uma sensação eterna, um sonho conquistado.

Mas por que estou descrevendo isso? Não poderia deixar de escrever algo sobre uma das maiores tristezas que já presenciei. Jovens que certamente sentiriam as mesmas emoções que senti, jovens que poderiam ajudar a melhorar a vida de milhares de produtores, jovens amantes da terra, dos animais e da vida. Naquele domingo sombrio, dotado de angústia e tristeza, notei que tinha perdido muitos amigos, por mais que não os conhecesse, mas eram jovens que ainda iriam conquistar seus sonhos, muito parecidos com os meus.


No decorrer do dia, ouvimos e vimos surgirem heróis que salvaram muitos, mas que não conseguiram resistir. Vimos o Brasil chorar com os pais destes jovens - que tinham perdido seus diamantes ainda por serem lapidados. Vimos um país sem alegria, vimos uma solidariedade nunca vista, vimos um povo em lagrimas. Foi o fim de um sonho bruscamente cortado pela metade. Agora resta-nos acreditar que tudo isso nunca mais irá acontecer. Resta-nos homenagear estes jovens para que estejam no céu, cuidando de nossos campos e animais ao lado de nosso patrão velho. Resta-nos orar. Essa é a minha singela homenagem a estes jovens e colegas que tiveram seus sonhos alterados pelo destino. Para as famílias e pais: muita força, muita fé e luz. Sejamos fortes, pois a justiça pode tardar, mas não falha.

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