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Segurança energética


Decio Luiz Gazzoni
O apagão do sistema elétrico de 2001 deixou cinco heranças e seus ensinamentos: a primeira, não tangível, foi a consciência de que não é prudente confiar na sorte, que as mudanças climáticas estavam se aprofundando e poderiam criar problemas ainda mais sérios, que não adiantaria apelar a Deus por ser brasileiro – era preciso dotar o Brasil de um sistema à prova de falhas. Ser proativo e trabalhar duro!

A segunda foi a demonstração da necessidade de diversificar a matriz energética, sem depender tanto de água, instável, e de energia fóssil, cara e poluente. A terceira herança são as usinas termoelétricas de back up, entregues por FHC com uma recomendação de pai para filho: Acione somente e apenas em emergência, a última linha de defesa, quando todo o resto se esgotou.
A quarta herança são os projetos de expansão da geração de eletricidade, que deveriam estar concluídos até 2010 e suportariam a demanda do Brasil além de 2020, mesmo nas condições mais adversas. A quinta foram os projetos de transmissão da energia nova, e de renovação das velhas redes de transmissão já existentes.
Olhando do alto da crise atual, que mal começou, pouco ou quase nada foi feito. Há 3 anos estamos usando as termoelétricas back up como se fossem o “hard core” do sistema, e não o último paliativo. Quando não é a geração, são as velhas linhas de transmissão que falham. Centrais geradoras foram construídas pela iniciativa privada, mas não há linha para transporte.

A bioeletricidade, cogerada nas usinas de etanol e açúcar, é um exemplo didático. Temos um potencial nas usinas brasileiras que equivale a quase duas usinas de Itaipu. O que falta? Políticas públicas para aproveitamento do bagaço de cana para geração de bioeletricidade, pouco poluente; e linhas de transmissão para integrá-la ao grid nacional.
Os projetos existem, capital também, o potencial está aí, os empresários reivindicaram, a academia e os formadores de opinião apoiam e alertam. Mas, estamos no mesmo ponto do apagão de 2001, tudo como dantes no quartel de Abrantes. Ironicamente, enfrentaremos novo apagão de sérias consequências, dispondo de um dos maiores potencias de geração de energia elétrica do mundo!
 
O autor é Engenheiro Agrônomo. www.gazzoni.eng.br
 

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