A necessidade de produção de alimentos e divisas econômicas para a região Amazônica motivou a utilização de áreas de florestas com diversas alternativas de exploração agropecuária, entre as quais a pecuária de corte e/ou leite. Esta opção surgiu em virtude das limitações ecológicas das pastagens nativas de áreas inundáveis e do baixo potencial produtivo daquelas de terra firme. Nos últimos 30 anos, com a abertura de novas rodovias e a implantação de dezenas de Projetos de colonização e Assentamento na Amazônia, foram implantados cerca de 30 milhões de hectares de pastagens cultivadas em áreas de florestas. Entretanto, estas pastagens tem apresentado com o decorrer dos anos um declínio gradual e acentuado de produtividade, o qual está diretamente relacionado com a fertilidade e as características físicas do solo. Contudo, outros fatores também contribuem para tal processo, tais como deficiências no estabelecimento das pastagens (sementes de baixa qualidade, mal preparo do solo etc.) e a utilização de práticas de manejo inadequadas. Em geral, a utilização das pastagens cultivadas temsido realizada sob condições de altas pressões de pastejo, associadas ao sistema de pastejo contínuo ou com a realização de períodos mínimos de descanso, as quais não são compatíveis com a manutenção do equilíbrio do complexo solo-planta-animal que permita uma produtividade satisfatória da pastagem a longo prazo.
O manejo deficiente da pastagem, além de concorrer para o declínio mais rápido da produtividade, também provoca aumento da população de plantas invasoras, erosão laminar e de profundidade pela ação direta das chuvas, perdas por lixiviação da maior parte dos nutrientes disponíveis no solo, compactação e, finalmente, a degradação, em alguns casos, quase irreversível. Atualmente, cerca de 40% das pastagens cultivadas da Amazônia, como consequência da utilização de práticas de manejo inadequadas, já se apresentam diferentes estádios de degradação.
Na Amazônia, as práticas mais utilizadas para detero declínio de produtividade das pastagens tem se restringido ao controle de plantas invasoras, através de métodos manuais, químicos ou físicos, isolados ou integrados. Estes são, geralmente, associados com queimas periódicas e seguidos de um período de descanso variável, com a finalidade de reduzir a competição da comunidade de plantas invasoras e favorecer um melhor desenvolvimento da planta forrageira. Entretanto, na maioria dos casos, mesmo um descanso prolongado daspastagens não tem proporcionado o efeito desejado, tornando-se os processos de limpeza cada vez mais frequentes e menos eficientes, pois, geralmente, não é suficiente para que as gramineas e/ou leguminosas forrageiras recuperem seu vigor. Como as plantas invasoras são, na maioria, nativas e perfeitamente adaptadas às condições edafoclimáticas da região e, dificilmente são consumidas pelos animais, tendem a predominar no ecossistema.
Dentre as causas que tem levado as pastagens cultivadas à degradação, o esgotamento da fertilidade do solo, as alterações em suas propriedades físicas (consistência, taxas de infiltração,porosidade, densidade etc.) e o manejo inadequado são os mais comuns. As pastagens sãoconsideradas em degradação quando a produção de forragem é insuficiente para manter umdeterminado número de animais por um certo período de tempo. Entretanto, quando a produçãode matéria seca diminui sensivelmente, a ponto de ser notada através da redução da cargaanimal, a planta forrageira já reduziu drasticamente o sistema radicular, o perfilhamento e a expansão de novas folhas e os níveis de reservas decarbohidratos nas raízes e base dos colmos. Para plantas de Panicum maximum var. trichoglume uma redução de 8% na produção de matéria seca implicava no decréscimo de 3,8 vezes do sistema radicular; de 4,0 vezes no nível de carbohidratos de reservas e de 1,7 vezes nas taxas de produção de novas folhas. Desse modo, o sucesso na recuperação de pastagens degradadas depende da eficiência com que se reestabelece o sistema radicular, o perfilhamento e os demais mecanismos que a planta utiliza para prolongar sua persistência. Diversos trabalhos de pesquisa, desenvolvidos na Amazônia, fornecem contribuições significativas em tecnologias bioeconomicamente viáveis para evitar o declínio da produtividade das pastagens ainda produtivas, bem como para melhorar a produtividade ou recuperar aquelas em vias de degradação. Quando o principal fator da degradação da pastagem é a compactação do solo, a utilização apenas de métodos físicos pode proporcionar bons resultados. No entanto, esta prática só tem sucesso quando, paralelamente são combatidasas causas da compactação, notadamente o superpastejo. Ademais, torna-se imprescindível a recuperação da fertilidade do solo para que os efeitos de métodos físicos sejam ressaltados e a planta forrageira tenha acesso aos nutrientes de forma compatível com suas taxas de crescimentos e potencial produtivo. Em um Podzólico Vermelho-Amarelo distrófico, a adubação (42 kg de N/ha e 44 kg de S/ha ) mostrou-se agronomicamente eficiente para a recuperação de pastagens de Brachiaria decumbens, o uso apenas da gradagem, por si só não proporcionou efeitos positivos. Em pastagens de Panicum maximum degradadas, a efetiva recuperação de sua produtividade foi obtida com os seguintes tratamentos: descanso, limpeza manual, fogo, subsolagem ou gradagem, todos asssociados com a aplicação de 50 kg de N/ha. Os maiores rendimentos de forragem foram obtidos com o tratamento fogo + nitrogênio, o qual produziu 12,5 t de matéria seca/ha. Para pastagens de B. decumbens, a utilização de tratamentos mecânicos sem fertilização não melhorou o desenvolvimento da pastagem nem de sua produtividade. A fertilização completa (22 kg de P/ha, 45 kg de N/ha; 25 kg de K/ha; 18 kg de Ca/ha e 15 kg de S/ha), resultou nos efeitos mais benéficos (4,26 t/ha de matéria seca e 73% de cobertura do solo), sendo a maior resposta encontrada quando esta foi combinada com a queima. Na Amazônia colombiana o método mais eficiente para a recuperação de pastagens de B. decumbens consistiu na gradagem (uma ou duas passagens), seguida da aplicação de 22 ou 44 kg de P/ha. Em Rondônia, a aração, gradagem e aração + gradagem, associadas à aplicação de 22 kg de P/ha, foram os métodos mais eficientes para a recuperação de pastagens degradadas de Brachiaria brizantha cv. Marandu.
A recuperação de pastagens degradadas pode ser tecnicamente viável através da utilização conjunta de métodos físicos e químicos. No entanto,a adoção de práticas de manejo que envolva a utilização de germoplasma forrageiro com baixo requerimento de nutrientes e com alta capacidade de competição com as plantas invasoras esistemas e pressões de pastejo compatíveis com a manutenção do equilíbrio do ecossistema, podem ser considerados como a chave para assegurar a produtividade das pastagens cultivadas por longos períodos de tempo, nas áreas de floresta da região amazônica.
Newton de Lucena Costa (Embrapa Roraima), Amaury Burlamaqui Bendahan (Embrapa Roraima), João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte), Valdinei Tadeu Paulino (Instituto de Zootecnia), Antônio Neri azevedo Rodrigues (Instituto Federal de Rondônia)
Newton de Lucena Costa (Embrapa Roraima), Amaury Burlamaqui Bendahan (Embrapa Roraima), João Avelar Magalhães (Embrapa Meio Norte), Valdinei Tadeu Paulino (Instituto de Zootecnia), Antônio Neri azevedo Rodrigues (Instituto Federal de Rondônia)