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Quando um belo animal é um grande problema


Amélio Dall’Agnol
Tudo na vida precisa ter equilíbrio. Atitudes e propostas precisam ser racionais para serem consideradas e respeitadas. A melhor escolha entre dois posicionamentos extremos está no meio: nem muito ao céu e nem muito à terra, nem oito e nem oitenta, nos ensina a sabedoria popular. É no centro onde a virtude costuma estar.
Pombos, macacos ou elefantes podem ser problemas quando em excesso, principalmente porque eles podem comprometer a sobrevivência dos humanos, competindo com o consumo de alimentos, disseminando doenças ou ocupando espaços indesejados. O problema está nas soluções apresentadas quando se busca resolver o problema, as quais transitam desde o racional até o ridículo.
Vivo na cidade de Londrina, PR, onde o problema se chama pomba amargozinha (Zenaida auriculata), cuja população excedeu o tolerável. Seus excrementos emporcalham ruas e calçadas e disseminam doenças, gerando manifestações as mais diversas. Há os que são vítimas diárias da super população dessas aves e, portanto, exigem do poder público solução imediata, assim como há aqueles que não sofrem as consequências desse problema, mas se sentem no direito de também opinar, sugerindo tudo, menos o efetivo controle populacional desses animais.
É importante que todo o cidadão tenha espaço para emitir sua opinião, no intuito de promover o bem estar do local onde vive, mas que esses posicionamentos não venham permeados de ideologia ou excesso de ambientalismo, o que só nos leva a discussões sem fim e sem resultados, porque os radicais de ambos os extremos aceitam tudo menos abrir mão das suas verdades.
A sujeira depositada sobre ruas e calçadas, uma vez removida pelas chuvas ou pela lavagem dos moradores, acaba poluindo os cursos d’água e incrementando o problema. Tampouco adianta resolver o problema em partes, a solução precisa ser definitiva: eliminar o excesso populacional.
Se o homem não impuser controle à população de qualquer ser vivo, seja ele fungo, bactéria, leão ou elefante, a própria natureza se encarregará de fazê-lo de maneira muito mais dramática. Lembro-me de ter assistido a documentário sobre o suicídio de milhões de roedores no extremo norte do Canadá, como consequência da super população originada de uma temporada de abundância de alimento. Finda a fartura e com a iminente ameaça de escassez de comida, a paranoia coletiva os levou à morte por afogamento. Os poucos que sobreviveram iniciaram uma nova população, que persistirá enquanto não sobrevier novo desequilíbrio ecológico.
Promover a intervenção em populações desequilibradas, seja de plantas ou de animais, é desejável para a sobrevivência e harmonia da própria população em desequilíbrio. Na Austrália, por exemplo, existe, de tempos em tempos, a liberação controlada da caça ao canguru, como forma de manter a sua população em equilíbrio com a natureza e evitar que sua super população comprometa a produção de alimentos dos humanos. Nos Estados Unidos, de tempos em tempos é liberada a caça a um determinado tipo de ave, quando o seu número atinge limites críticos.
No caso da evidente superpopulação das pombas em Londrina, seu controle natural está longe de acontecer, se é que algum dia acontecerá, porque não há a menor perspectiva de falta de alimento, principalmente grãos de soja, milho e trigo desperdiçados ao longo das rodovias e nos pátios de silos e armazéns de fazendas, cooperativas e empresas processadoras de grãos, sem contar com as perdas deixadas na lavoura, no processo de colheita. Com essa abundância de comida, sua multiplicação é acelerada e a população só aumenta. Elas passam o dia no campo comendo e retornam à noite para dormir e defecar nos parques da cidade.
Para solucionar o problema, não resta outra alternativa às autoridades que o de encarar a realidade e tomar decisões efetivas no sentido de eliminar a superpopulação dessas aves, talvez com medidas pouco simpáticas a determinados setores da sociedade, mas que são urgentes e necessárias à saúde e bem estar dos cidadãos londrinenses.

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