O objetivo deste trabalho é analisar a evolução mundial da produção e da demanda de alimentos, madeira e fibras e as possibilidades do Brasil participar de parcela maior no comércio mundial do agronegócio nos próximos anos. Ao longo dos últimos quarenta anos a oferta mundial aumentou substancialmente em função do uso de novas tecnologias de produção relacionadas aos chamados insumos modernos (sementes melhoradas, calcário, produtos fitossanitários, irrigação, maquinaria agrícola mais desenvolvida), maior profissionalização dos produtores, melhores canais de comercialização e apoio mais intenso dos governos e foi suficiente par atender a demanda mundial. Mas, a partir da segunda metade da década de oitenta os índices mundiais de crescimento da produtividade ficaram estabilizados para vários cultivos importantes, o que sinaliza certa exaustão tecnológica com o conhecimento considerado tradicional. Em 2005 a população mundial foi de 6,453 bilhões de pessoas e para 2.025 a FAO estima uma população de 7,851 bilhões. A humanidade precisa alimentar, dar moradia, vestir e ofertar fontes de energia para esta população adicional de 1,398 bilhões, a maioria com renda per capita baixa e com forte demanda por carbohidratos, que em grande parte estará residindo em países pobres ou em desenvolvimento. Existem poucos países no mundo que ainda possuem áreas aptas não cultivadas para a agricultura e noventa por cento (90%) estão na América do Sul e África. Não existem terras de reserva na Ásia. Mas a maioria destes países não possui recursos humanos e econômicos nem dominam tecnologias para produzir nestas terras ainda não cultivadas. O Brasil é a grande alternativa. Usa apenas 284 milhões de hectares (34% da sua área de terra de 835,56 milhões) na agropecuária: 64 milhões em agricultura e 220 milhões em pastagens e ainda mantém 49% da área sob vegetação de florestas ou como áreas protegidas. Participa com apenas 4% do comércio mundial do agronegócio e tem reais possibilidades de suprir uma parcela importante desta demanda adicional futura de fibras e alimentos a preços competitivos. O agronegócio brasileiro possui muitos pontos fortes que garantem competitividade no mercado: recursos humanos profissionais e qualificados, boa capacidade de gestão na produção e comercialização, oferta ambiental favorável, bom nível de desenvolvimento tecnológico, alta capacidade de produção de maquinaria agrícola, colheitadeiras e tratores e baixo custo de produção. A produtividade dos principais cultivos e explorações pecuárias ainda é baixa e pode ser aumentada significativamente, mesmo com o conhecimento tradicional. O apoio efetivo dado ao setor agrícola é uma parcela muito pequena do PIB, de apenas 0,5%, o que significa que o setor é altamente desprotegido (fato que aumenta a competitividade). Com o aporte de novas biotecnologias essa produtividade pode crescer ainda mais. O país possui uma fronteira agrícola inexplorada de 103,32 milhões de hectares que pode ser parcialmente incorporada ao processo produtivo. O potencial de produção agrícola, incorporando na agricultura menos de 50% desta área de reserva, é de mais de 270 milhões de toneladas de grãos (90 milhões de t de soja), 900 milhões de t de cana de açúcar, 16 milhões de t de óleos vegetais de dendê, girassol e mamona, 450 milhões de m³ de madeira e quase 40 milhões de t de carnes. Pode se tornar o maior produtor e o maior exportador mundial de madeira, soja, carnes e biocombustíveis. Mas, existem barreiras que devem ser eliminadas e pontos fracos que devem ser equacionados. São necessários investimentos adicionais em infra-estrutura, estradas, transportes, armazenagem, portos, pesquisa e desenvolvimento e inovação tecnológica. A carga tributária de quase 38% e os juros médios de 18% precisam ser reduzidos. As políticas agrícolas são dispersas e pouco integradas precisam de melhor planejamento. Caso contrário, o crescimento da produção agropecuária brasileira ficará limitado e o país poderá perder uma excelente oportunidade de desenvolver a um ritmo mais acelerado.