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Preços: redução da energia X aumento dos combustíveis



Argemiro Luís Brum
O fato: o governo, pressionado pela Petrobrás, precisa realizar reajustes nos preços dos combustíveis (gasolina e diesel), represados há muito tempo. Preocupado com o aumento constante dos índices de inflação, particularmente o IPCA, índice oficial, o governo adotou a estratégia de compensar o futuro aumento dos combustíveis com uma redução no preço da energia elétrica, a qual passou a ser anunciada desde meados de 2012. Em janeiro/13 o preço da energia elétrica foi reduzido, em média, um pouco acima de 18% para os domicílios e de quase 30% para as empresas. Já no final do mesmo mês, a gasolina sofreu um reajuste de 6,6% nas refinarias e o diesel de 5,4%. As conseqüências: a ideia da redução no preço da energia elétrica não foi exatamente beneficiar a sociedade e sim equilibrar o cálculo da inflação, pois os constantes prejuízos da Petrobrás exigiam um reajuste dos combustíveis. Na prática, isso não parou a inflação em janeiro e tampouco deverá freá-la em fevereiro, apesar dos novos preços da energia elétrica já terem influenciado em boa parte o índice de janeiro (o IPCA seria muito maior do que os 0,86% registrados se não fosse isso). Para fevereiro e meses seguintes a pressão sobre os preços virá dos combustíveis, porque o reajuste não foi contabilizado em janeiro por ter sido feito no penúltimo dia do mês. Além disso, para o consumidor final o reajuste na bomba foi muito superior ao das refinarias, deixando o governo surpreso, pois ingenuamente imaginava que os distribuidores e postos de combustíveis, que já vinham aumentando seus preços antes disso, não iriam aproveitar a ocasião para recompor suas margens de ganho. Desta forma, o reajuste dos combustíveis, em muitos casos, chegou a 10% ao consumidor final pelo Brasil afora. Isso irá pressionar ainda mais o índice inflacionário nos meses seguintes. Para piorar o quadro, as necessidades da Petrobrás, dito por ela mesmo, apontavam para um reajuste de 15%, pelo menos, nas refinarias. Ou seja, novos reajustes de preços nos combustíveis deverão ser realizados ainda neste ano.
Preços: redução da energia X aumento dos combustíveis (II)
O que pouca gente sabe: enquanto novos reajustes de preços dos combustíveis deverão ocorrer no corrente ano, se o governo desejar realmente equilibrar as contas da Petrobrás (esta importa cada vez mais petróleo, gasolina e diesel a preços internacionais em alta – o barril de petróleo, no mercado mundial, trabalhou nesta segunda semana de fevereiro, a valores entre US$ 97,00 e US$ 118,00, não repassando estes aumentos ao consumidor final, pois o governo decidiu subsidiar o consumo do combustível para segurar a inflação), as contas da energia elétrica deverão ser revistas pela Aneel em meados desse ano e, provavelmente, já teremos reajustes de preços nas mesmas, anulando parcialmente a redução que “bondosamente” o governo estendeu aos brasileiros em janeiro. Em outras palavras, além do aumento dos combustíveis impactar muito mais na vida dos cidadãos, do que os da energia, os ganhos com esta última irão durar apenas seis meses enquanto os combustíveis continuarão subindo. Enfim, e estruturalmente mais importante: para poder realizar a redução na energia elétrica o governo tira do Tesouro Nacional, em contabilidade anualizada, o valor de R$ 8,4 bilhões. Ou seja, parte da redução dos preços da energia elétrica está saindo do bolso do próprio cidadão. Enfim, como a redução no preço da energia elétrica foi feito “na marra” (repetindo o que vem sendo feito com os juros, o próprio combustível e outras ações oficiais), isso tenderá a levar o setor a investir menos em infraestrutura energética, exatamente o que mais precisamos no momento para a economia crescer, nestes tempos de apagões constantes. Nestas condições, logo adiante o governo será obrigado a liberar um aumento significativo para a energia elétrica, para equilibrar as contas do setor, fazendo o cidadão pagar mais uma vez a conta. Nesse jogo insano de ações pontuais, por incapacidade e incompetência em mexer nas razões estruturais de nosso problema, a Petrobrás, nesse momento, poderia estar mandando o seguinte recado para o setor de energia elétrica: “eu, hoje, sou você amanhã”. Para confirmar o quadro em tendência, lembramos que o Brasil não investe, há pelo menos 15 anos, o que deveria em geração de energia.

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