No Pantanal ocorrem mais de 260 espécies de peixes de grande importância ecológica e sócio-econômica para a região, sobretudo para o setor pesqueiro. Muitas informações sobre essas atividades vêm sendo obtidas desde 1994 pelo Sistema de Controle da Pesca de Mato Grosso do Sul - SCPESCA/MS. Por meio deste Sistema são obtidos subsídios para orientar a política estadual de pesca, identificando suas principais tendências e realizando um prognóstico sobre o uso e a conservação dos recursos pesqueiros, essencial para o planejamento das atividades.
Pesca Profissional
Atualmente, a pesca profissional reúne cerca de 2.900 pescadores no Pantanal de Mato Grosso do Sul, cuja captura registrada pelo SCPESCA/MS corresponde a cerca de 330 toneladas/ano. Todo esse pescado é comercializado fresco ou congelado, mas pode ser processado, obtendo-se maior rendimento e diversificando a oferta de produtos, tais como filé de peixe embalado e congelado, couro, peixe defumado e óleo, entre outros, gerando novos empreendimentos, mais postos de trabalho e qualificando a mão-de-obra local. A tecnologia de produção de couro de peixe e utensílios para vestuário, por exemplo, foi repassada recentemente para a população de Corumbá através de um projeto de "oficinas" do Governo do Estado, com o apoio da Embrapa Pantanal (Figura 1). Produtos como esses poderão ser oferecidos para turistas e pescadores esportivos que visitam a região, assim como as oficinas de processamento de pescado podem se tornar um roteiro turístico, a exemplo da Casa de Massa-barro em Corumbá.
A produção de pescado pode aumentar capturando-se espécies subaproveitadas como o curimbatá, que embora seja pouco apreciado na região, é o peixe de água doce mais comercializado na cidade de São Paulo. Outra alternativa promissora, é a introdução de pescado na merenda escolar, como foi realizado com sucesso pela Embrapa Pantanal em parceria com a Prefeitura de Corumbá, em 1997 e 1998. Foram oferecidas cerca de 1250 refeições semanais de filé de barbado e piranha, esta última preparada como molho de macarrão, almondegas e farofas, com ampla aceitação pelas crianças. É possível, ainda, certificar os "produtos de origem do Pantanal" e, neste caso, os consumidores são estimulados a adquirir um produto associado a valores como a conservação ambiental e a manutenção das comunidades de pescadores profissionais artesanais do Pantanal.
Piscicultura
As características ambientais da planície pantaneira, que ocupa grande parte do Estado, impedem o desenvolvimento da piscicultura tradicional, em tanques escavados, e nos desafia a buscar formas alternativas de cultivo, entre elas a
utilização de tanques-redes. Entretanto, este sistema também apresenta restrições em razão da "dequada", fazendo com que seu uso fique limitado aos locais onde não há ocorrência deste fenômeno. A piscicultura em tanque-rede é uma técnica de cultivo intensivo, relativamente barata e simples se comparada à piscicultura tradicional em viveiros de terra. Consiste na criação dos peixes em um ambiente cercado por tela que permite a troca de água com o ambiente. Essa técnica pode ser utilizada em uma grande variedade de ambientes aquáticos, dispensando o alagamento de novas terras e reduzindo os gastos com a construção de viveiros. No entanto, além de desenvolver um sistema de cultivo adequado à região, é preciso conhecer as espécies mais promissoras para este sistema. Entre os peixes do Pantanal, muitos apresentam características zootécnicas, organolépticas e mercadológicas bastante atrativas para a piscicultura, principalmente os surubins (pintado Pseudoplatystoma corruscans e cachara P. fasciatum), mas somente há pouco tempo iniciou-se o estudo dos sistemas de cultivo adequados para essas espécies. Outro aspecto importante é a viabilidade econômica desses projetos, fazendo com que o cultivo intensivo de peixes seja uma das melhores alternativas de investimento em criação animal na região, que vem ganhando muitos adeptos entre os produtores do Estado.
Dentro dessa visão, a Embrapa Pantanal vêm desenvolvendo pesquisas na área de piscicultura, com especial ênfase nos peixes nativos de maior interesse econômico e em sistemas de cultivo menos impactantes, procurando atender as crescentes demandas do mercado e as exigências ambientais.
Agostinho Carlos Catella ([email protected]) e Marco Aurélio Rotta ([email protected]) são pesquisadores da Embrapa Pantanal.