Amélio Dall’Agnol e André Mateus Prando, pesquisadores da Embrapa Soja
Estimativas do Banco Mundial indicam que a economia brasileira encolherá 8% em 2020, mas há analistas locais estimando que esta queda será superior a 10%. Mesmo com a perspectiva do PIB brasileiro de 2020 sofrer o maior encolhimento da sua história, o IPEA projeta crescimento de 2,4% para o setor agropecuário do país. Estima-se que entre 24 e 25% do PIB brasileiro de 2020 será gerado pelo Agronegócio, um dos principais motores da economia nacional desde os primórdios da colonização do país, onde o produtor rural é um dos principais atores.
Segundo o MAPA, de 1975 a 2015, a produção agropecuária brasileira cresceu ao ritmo médio anual de 3,58%. É muito significativo, razão pela qual muitos reconhecem que é através do campo que o Brasil respira, há décadas. Mas que setor é este! Segundo o Censo Agropecuário de 2017, o Brasil conta atualmente com 4,06 milhões de produtores rurais entre grandes, médios e, principalmente, pequenos produtores. Contudo, este contingente vem diminuindo: eram 4,86 milhões em janeiro de 2006, 800 mil a mais do que o contingente atual.
O levantamento do IBGE indica que 71% dos jovens rurais não participam das atividades agrícolas da família e migraram para outras ocupações que consideram mais atrativas e adequadas ao seu perfil, principalmente as mulheres. Este dado deve, no mínimo, acender uma luz de alerta quando pensamos em sucessão familiar, uma vez que muitos desses jovens não estão mais dispostos a ficar no campo.
O Censo também indicou que mais de 80% das propriedades agrícolas são comandadas por homens, ressaltando que o número de mulheres à frente de propriedades rurais cresceu de 12,68%, em 2006, para 18,64%, em 2017. Isso evidencia o avanço no ingresso das mulheres em instituições de ensino superior e seu maior interesse no setor agropecuário. Se a diferença de comando relativamente ao sexo é significativa, não é assim com a cor da pele: 46% dos proprietários são brancos e 51% são pardos ou pretos e os restantes 3 % são asiáticos e indígenas.
Um dos entraves para o desenvolvimento econômico mais robusto da população rural, é a baixa escolaridade. Segundo o Censo de 2017 do IBGE, cerca de 70% não têm o ensino fundamental completo e apenas 2% têm ensino superior. Embora lenta, a baixa escolaridade vem caindo. Caiu de 75% para 70% o porcentual de produtores rurais com o ensino fundamental incompleto, do final de 2015 para janeiro de 2018 e subiu de 12% para 13% os com fundamental completo, de 12% para 15% os com ensino médio completo e de 2,0% para 2,5% os com curso superior.
Além de estar diminuindo, a população rural está ficando mais velha. Apenas 6,7% dos rurícolas têm menos do que 25 anos, sugerindo que os jovens estão deixando a roça pela cidade ou por outras atividades em agroindústrias locais. O maior contingente de produtores rurais está com idades entre 40 e 45 anos (26,3%), seguidos pelos que têm entre 50 e 55 anos (20,5%), entre 25 e 35 anos (14,36%) e 11,22% com mais de 65 anos.
O desestímulo do produtor rural pelo trabalho no campo está relacionado à pouca renda que aufere, associado à vida nada fácil das atividades rurais, além do pouco lazer que desfruta no isolamento do campo. Segundo o Censo de 2017, 82,6% dos produtores rurais têm uma remuneração menor do que 2,0 salários mínimos mensais; 12% entre 2,0 e 5,0 salários e somente 5% conseguem obter renda superior a 5,0 salários mínimos mensais.
O que sinaliza para avanços socioeconômicos na vida dos produtores rurais em geral, é o uso mais intensivo de tecnologia. O número de tratores cresceu 49,7%, a irrigação aumentou 52%, o uso de defensivos 20,4% e o número de celulares com acesso à internet aumentou de 17% para 61%, de 2013 a 2017: 44% de aumento em apenas 4 anos. Estes dados do IBGE evidenciam que o agricultor brasileiro está cada dia mais conectado e antenado às inovações.
A produção agrícola brasileira tem mostrado vitalidade e eficiência desde a década de 1970 e sinaliza que será mais robusta a cada nova temporada. E é necessário que assim seja, pois o Brasil é a grande promessa para ajudar o Planeta a produzir os alimentos necessários para alimentar os estimados 10 bilhões de habitantes de 2050.
Segundo a FAO, a produção de alimentos precisa crescer 70% até essa data, apesar de estar previsto crescimento de apenas 30% para a população. A necessidade de crescimento maior da produção ante a população, deve-se à expectativa de aumento da renda per capita dos futuros cidadãos, que, com mais dinheiro no bolso se alimentarão mais e melhor.