Desde o início dos anos 2000 houve uma considerável mudança no perfil das usinas sucroenergéticas brasileiras (inclusive o termo “sucroenergia” foi cunhado apenas em 2006).
Se até a década de 90 as usinas eram muito semelhantes seja na estratégia ou na gestão operacional, hoje a realidade é muito diferente.
Em meados de 2001 aconteceu a primeira grande operação internacional de investimento estrangeiro em sucroenergia no Brasil com a criação da Franco-Brasileira S.A Açúcar e Álcool (FBA), uma joint-venture entre a brasileira Cosan (47.5%) e as francesas Union SDA (47.5%) e Sucden (5%).
De lá para cá, inúmeros grupos estrangeiros aportaram pesados recursos no Brasil, visando principalmente a produção de energia renovável (etanol e bioeletricidade) e muitos deles entraram de forma mais agressiva que os franceses da FBA, pois a estratégia de muitos foi de assumir o controle e a gestão dos negócios sem parceiros locais.
O boom desses fluxos de capital aconteceu entre 2005 e 2007, quando o setor precisava de recursos para avançar sobre a citricultura em São Paulo e sobre a pecuária no Oeste Paulista, Norte Paranaense, Triângulo Mineiro e no Centro-Oeste.
Quando os investimentos massivos cessaram ao final de 2008 por conta do estouro da bolha imobiliária estadunidense, muitos projetos foram abortados e outros restruturados, pois parar poderia ser um prejuízo ainda maior.
O perfil dos investidores estrangeiros era variado, alguns provenientes do mercado financeiro (Fundos de Investimento, Private Equities e Trading Companies), outros da gigante indústria de Óleo & Gás, construção industrial, indústrias químicas e até indústrias de alimentos, porém nenhuma com vocação agrícola.
Na agroindústria sucroenergética, os custos de produção estão entre 67% e 82% na produção de matéria-prima. A agregação de valor de uma usina que produz apenas açúcar VHP e etanol carburante é muito baixa. Mas aparentemente os investimentos pensados pela maior parte dos novos entrantes estavam principalmente focados no parque industrial, considerando a produção de cana algo marginal.
O efeito desta estratégia míope fez com que a produtividade agrícola na indústria regredisse aos números observados no início do Proálcool e obviamente as anomalias climáticas observadas quase que constantemente entre 2009 e 2013 agravaram a situação.
Nos últimos cinco anos, tenho acompanhado com atenção os balanços das empresas de capital aberto do setor e percebo o óbvio. As empresas mais focadas na matéria-prima são aquelas que apresentam maior margem de contribuição e maior LAJIDA (=Ebitda).
E matéria-prima é investimento de longo prazo. O ciclo da cana-de-açúcar é em média de 6 anos (1 para formação + 5 cortes) e, para existir payback considerando regiões não-tradicionais, o tempo de maturação do investimento agrícola é no mínimo de 2 ciclos (12 anos).
Entre 2009 e 2010, houve debandada geral dos investidores provenientes do mercado financeiro, pois estes não suportam imobilizar capital por tanto tempo. A maioria assumiu prejuízos, porém quem saiu primeiro, saiu-se melhor.
Dos que ficaram, somados aos tradicionais que continuam sobrevivendo (ou agonizando) podemos sugerir uma classificação “taxonômica”, pois a partir desta poderíamos posteriormente analisar melhor as diferenças entre o sucesso e o fracasso dos diferentes grupos econômicos e suas estratégias:
Nesta linha de raciocínio proponho 6 grupos:
1) Tradicionais familiares
-> Propriedade da terra: Própria (> 70%)
-> Propriedade da cana: Própria (> 70%)
-> Alavancagem: Baixa
-> Número de plantas: 1 a 4
-> Custo em relação à média do setor: Baixo
-> Foco de produção: Açúcar
2) Tradicionais profissionalizadas
-> Propriedade da terra: Terceiros (> 70%)
-> Propriedade da cana: Misto (30% a 70% própria)
-> Alavancagem: Intermediária
-> Número de plantas: 2 a 11
-> Custo em relação à média do setor: Baixo
-> Foco de produção: Açúcar
3) Tradicionais agonizantes
-> Propriedade da terra: Terceiros (> 70%)
-> Propriedade da cana: Misto (30% a 70% própria)
-> Alavancagem: Alta
-> Número de plantas: 1 a 4
-> Custo em relação à média do setor: Alto
-> Foco de produção: Açúcar e Etanol
4) Joint-Ventures Nacionais-Estrangeiras
-> Propriedade da terra: Terceiros (> 70%)
-> Propriedade da cana: Misto (30% a 70% própria)
-> Alavancagem: Média
-> Número de plantas: 2 a 24
-> Custo em relação à média do setor: Médio
-> Foco de produção: Açúcar, Etanol e Energia
5) Novos entrantes (nacionais e estrangeiros)
-> Propriedade da terra: Terceiros (> 70%)
-> Propriedade da cana: Misto (30% a 70% própria)
-> Alavancagem: Alta
-> Número de plantas: 1 a 9
-> Custo em relação à média do setor: Alto
-> Foco de produção: Etanol e Energia
6) Produtores de Não-Commodiites (nacionais e estrangeiros)
-> Propriedade da terra: Terceiros (> 70%)
-> Propriedade da cana: Terceiros (> 70%)
-> Alavancagem: Média
-> Número de plantas: 1 a 3
-> Custo em relação à média do setor: Médio
-> Foco de produção: não-commodities (açúcar orgânico, etanol não-carburante, leveduras, alcoolquímica).
Se até a década de 90 as usinas eram muito semelhantes seja na estratégia ou na gestão operacional, hoje a realidade é muito diferente.
Em meados de 2001 aconteceu a primeira grande operação internacional de investimento estrangeiro em sucroenergia no Brasil com a criação da Franco-Brasileira S.A Açúcar e Álcool (FBA), uma joint-venture entre a brasileira Cosan (47.5%) e as francesas Union SDA (47.5%) e Sucden (5%).
De lá para cá, inúmeros grupos estrangeiros aportaram pesados recursos no Brasil, visando principalmente a produção de energia renovável (etanol e bioeletricidade) e muitos deles entraram de forma mais agressiva que os franceses da FBA, pois a estratégia de muitos foi de assumir o controle e a gestão dos negócios sem parceiros locais.
O boom desses fluxos de capital aconteceu entre 2005 e 2007, quando o setor precisava de recursos para avançar sobre a citricultura em São Paulo e sobre a pecuária no Oeste Paulista, Norte Paranaense, Triângulo Mineiro e no Centro-Oeste.
Quando os investimentos massivos cessaram ao final de 2008 por conta do estouro da bolha imobiliária estadunidense, muitos projetos foram abortados e outros restruturados, pois parar poderia ser um prejuízo ainda maior.
O perfil dos investidores estrangeiros era variado, alguns provenientes do mercado financeiro (Fundos de Investimento, Private Equities e Trading Companies), outros da gigante indústria de Óleo & Gás, construção industrial, indústrias químicas e até indústrias de alimentos, porém nenhuma com vocação agrícola.
Na agroindústria sucroenergética, os custos de produção estão entre 67% e 82% na produção de matéria-prima. A agregação de valor de uma usina que produz apenas açúcar VHP e etanol carburante é muito baixa. Mas aparentemente os investimentos pensados pela maior parte dos novos entrantes estavam principalmente focados no parque industrial, considerando a produção de cana algo marginal.
O efeito desta estratégia míope fez com que a produtividade agrícola na indústria regredisse aos números observados no início do Proálcool e obviamente as anomalias climáticas observadas quase que constantemente entre 2009 e 2013 agravaram a situação.
Nos últimos cinco anos, tenho acompanhado com atenção os balanços das empresas de capital aberto do setor e percebo o óbvio. As empresas mais focadas na matéria-prima são aquelas que apresentam maior margem de contribuição e maior LAJIDA (=Ebitda).
E matéria-prima é investimento de longo prazo. O ciclo da cana-de-açúcar é em média de 6 anos (1 para formação + 5 cortes) e, para existir payback considerando regiões não-tradicionais, o tempo de maturação do investimento agrícola é no mínimo de 2 ciclos (12 anos).
Entre 2009 e 2010, houve debandada geral dos investidores provenientes do mercado financeiro, pois estes não suportam imobilizar capital por tanto tempo. A maioria assumiu prejuízos, porém quem saiu primeiro, saiu-se melhor.
Dos que ficaram, somados aos tradicionais que continuam sobrevivendo (ou agonizando) podemos sugerir uma classificação “taxonômica”, pois a partir desta poderíamos posteriormente analisar melhor as diferenças entre o sucesso e o fracasso dos diferentes grupos econômicos e suas estratégias:
Nesta linha de raciocínio proponho 6 grupos:
1) Tradicionais familiares
-> Propriedade da terra: Própria (> 70%)
-> Propriedade da cana: Própria (> 70%)
-> Alavancagem: Baixa
-> Número de plantas: 1 a 4
-> Custo em relação à média do setor: Baixo
-> Foco de produção: Açúcar
2) Tradicionais profissionalizadas
-> Propriedade da terra: Terceiros (> 70%)
-> Propriedade da cana: Misto (30% a 70% própria)
-> Alavancagem: Intermediária
-> Número de plantas: 2 a 11
-> Custo em relação à média do setor: Baixo
-> Foco de produção: Açúcar
3) Tradicionais agonizantes
-> Propriedade da terra: Terceiros (> 70%)
-> Propriedade da cana: Misto (30% a 70% própria)
-> Alavancagem: Alta
-> Número de plantas: 1 a 4
-> Custo em relação à média do setor: Alto
-> Foco de produção: Açúcar e Etanol
4) Joint-Ventures Nacionais-Estrangeiras
-> Propriedade da terra: Terceiros (> 70%)
-> Propriedade da cana: Misto (30% a 70% própria)
-> Alavancagem: Média
-> Número de plantas: 2 a 24
-> Custo em relação à média do setor: Médio
-> Foco de produção: Açúcar, Etanol e Energia
5) Novos entrantes (nacionais e estrangeiros)
-> Propriedade da terra: Terceiros (> 70%)
-> Propriedade da cana: Misto (30% a 70% própria)
-> Alavancagem: Alta
-> Número de plantas: 1 a 9
-> Custo em relação à média do setor: Alto
-> Foco de produção: Etanol e Energia
6) Produtores de Não-Commodiites (nacionais e estrangeiros)
-> Propriedade da terra: Terceiros (> 70%)
-> Propriedade da cana: Terceiros (> 70%)
-> Alavancagem: Média
-> Número de plantas: 1 a 3
-> Custo em relação à média do setor: Médio
-> Foco de produção: não-commodities (açúcar orgânico, etanol não-carburante, leveduras, alcoolquímica).