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Pecuária moderna sem desmatar


Nelson Pineda

Nosso rebanho decresceu 1,4%, segundo os dados preliminares do Censo 2006 no mesmo período, o que, obviamente, indica o aumento de nossa produtividade.

O Brasil superou a Austrália - não somente por motivos climáticos-, e os Estados Unidos - pelo fechamento do mercado asiático -, mas o setor cresceu com competência e consolidou esta liderança, hoje com margem considerável sobre os seus concorrentes.

As exportações americanas apresentaram, em 2007, a maior taxa de crescimento, junto com Índia e Argentina, mas não ameaçam a liderança brasileira por motivos de limitações políticas, culturais e geográficas.

Entre os cinco maiores importadores mundiais, os Estados Unidos, a Rússia, o Japão, a União Européia e o México, estamos atualmente fora do mercado americano e japonês para carne in natura, com sérias restrições da UE, e vivendo uma lua-de-mel com a Rússia.

O precedente de ter perdido, embora temporariamente, a UE, que é responsável pela compra de 18% da exportação da nossa carne in natura e reúne os países que mais pagam pela carne brasileira, representando 32% do faturamento da nossa exportação, dificulta ainda mais a entrada da nossa carne nos mercados de maior valor agregado.

CENÁRIO - A próxima grande barreira que enfrentaremos, sem dúvida, depois da rastreabilidade, será o meio ambiente e o desmatamento.

As tendências de crescimento da carne bovina brasileira estão sendo relacionadas com o aumento das taxas de desmatamento, levando a discussão para argumentos emocionais e enviesados, ignorando os aumentos de produtividade do nosso segmento, inclusive na região amazônica.

Na grande maioria dos âmbitos ambientalistas, as questões sobre o Brasil tratam do relacionamento entre a produção rural e a conservação ambiental. Dos principais assuntos discutidos com maior intensidade, destacamse aqueles que associam a carne brasileira às mudanças climáticas, ao aquecimento global, à Amazônia, seu desmatamento e à nossa expansão no mercado inter nacional.

É necessário admitir, de forma definitiva, que mecanismos econômicos não podem ser deixados de lado para resolver o problema e fazer cumprir a legislação ambiental, e que os instrumentos utilizados até agora para preservar a floresta foram ineficientes.

Não há outro caminho a não ser a criação e a adoção de instrumentos e mecanismos econômicos, que remunerem os produtores, responsáveis pelas atividades voltadas à manutenção e conservação da Amazônia, por meio da valorização tributária da floresta em pé e projetos com incentivos fiscais para exploração sustentada de uma parte da reserva legal obrigatória.

PADRÕES - O desmatamento da Amazônia está ligado, em primeiro lugar, à exploração de madeira exportada e comercializada aqui e no exterior. A pecuária entra posteriormente, nestas áreas, como única atividade que viabiliza uma exploração econômica, mas longe de padrões de uma pecuária moderna.

O ritmo do desmatamento será seguramente diminuído com uma ação fiscalizadora e repressora, com regularização de venda nacional e internacional de madeira e estimulando o aumento de produtividade pecuária e a atividade agrícola em áreas já desmatadas.

Há necessidade de reconhecer que a viabilização da atividade agropastoril, respeitando as normas ambientais legais em parte do bioma amazônico, precisa encontrar uma solução definitiva, madura e real para os Estados da Região Norte do País.

O impasse atual com a União Européia mostra, mais uma vez, o notório despreparo dos governos para agir frente a crises comerciais internacionais, inclusive no setor pecuário. Nos últimos anos, a forma como foi negociado o Sisbov com a UE no governo passado, a desinformação com focos de febre aftosa no Paraná, o descredenciamento de São Paulo para exportação para UE na primeira gestão deste governo, as incoerências sobre a lista de fazendas certificadas e as divergências entre o Mapa e o Itamaraty sendo citadas na imprensa internacional deixam claro a falta de norte certo e a fragilidade de todo o sistema.

EMBATE - Vamos retomar as exportações, mas os irlandeses preparam o segundo embate e teremos desdobramentos com as questões ambientais. O setor precisa construir a sua própria agenda no que se refere à área ambiental para não ser novamente atropelado por exigências desprovidas de base científica, que têm impacto negativo sobre o preço da arroba do boi gordo.

Precisamos cobrar das lideranças o fim de reuniões intermináveis recheadas de vaidades para trabalhar pela definição do zoneamento ecológico-econômico da Amazônia e de todo o Brasil, sem o qual aumentarão ainda mais as pressões internacionais sobre a pecuária. Liderança impõe responsabilidades, antecipar tendências, assumir posicionamento e postura para não ser atacado nas nossas fraquezas pelos nossos concorrentes.

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