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Orgânicos e a ética


Opinião Livre
Essa história dos orgânicos é muito curiosa.

Nos tempos de terra nova e fértil, após derrubada de mata alta, cultivamos café com cereais nas entrelinhas, por anos e anos seguidos, sem um pingo de adubo, sem herbicida nem defensivo algum... (início do século XX)
 
Era uma agricultura orgânica generalizada. Depois que a terra ficou cansada e as pragas apareceram, os produtores utilizaram todo esterco disponível e o mínimo de defensivos por motivos econômicos. Ficando escasso os adubos orgânicos vieram os fertilizantes de origem mineral como os fosfatados, a potassa e o salitre. O salitre se tornou difícil e dois alemães inventaram a síntese da amônia tirada de produtos naturais, o nitrogênio e o hidrogênio, dos quais depende hoje grande parte da produção de alimentos que asseguram a vida de 6/7 bilhões de terrícolas.

Agora apregoam as vantagens das frutas, hortícolas, açúcar e cereais ditos orgânicos com regras estapafúrdias como a limitação do cloro para plantas (KCl) sem que seja para o homem (NaCl). Salitre é permitido, mas ureia não, como se as plantas soubessem distinguir a origem do nitrato no solo. Sulfato de cobre é aceito, mas os miraculosos herbicidas seletivos, não.

Não há objeções aos adubos de origem vegetal ou animal, ditos orgânicos, salvo quando levam bactérias nocivas ao homem, como tem acontecido. Nem há objeções contra o empenho comercial ao apregoar a palavra “orgânico” para cativar a preferência do consumidor. Agora, dizer que o alimento “orgânico” é melhor para a saúde ou que se conserva melhor, ou ainda que tem melhor paladar, isso é demais, por não corresponder à realidade. Mesmo porque ninguém é capaz de distinguir, quer química quer sensorialmente, o produto oriundo de adubação com ureia de outro que apenas usou cama de frango.
Há ainda um aspecto ético a ser considerado: se o emprego de fertilizantes e de defensivos for preterido, a humanidade irá passar fome. Isso envolve um posicionamento eticamente condenável.
 Legenda da tabela: Não há pudor na propaganda, aqui no Brasil e lá fora, em apregoar vantagens inexistentes nos orgânicos.

O autor é engenheiro agrônomo, formado na turma de 1936 da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP). Entre múltiplas atividades no setor agropecuário, foi fundador e presidente da Manah S.A. e fundador e ex-presidente da Fundação Agrisus, única entidade a trabalhar exclusivamente com recursos próprios no apoio a projetos educacionais e de pesquisa voltados à melhoria e conservação do solo. Mais informações em www.agrisus.org.br
Conteúdo originalmente publicado no Blog de Richard Jakubaszko

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