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O Salário Mínimo e a Cesta Básica


Amélio Dall’Agnol
Foi notícia recentemente, que o salário mínimo de 2015 já compra mais de duas cestas básicas, em contraste com duas décadas passadas (1995), quando ele só comprava uma. Argumentou-se em favor desses dados, que o salário mínimo cresceu. Está certo, mas o maior poder de compra do atual salário mínimo se deve ao seu crescimento ou foi o preço da cesta básica que caiu?!
Talvez as duas coisas. O salário mínimo de hoje compra muito mais bens do que há 20 anos e não apenas comida, também outros bens de consumo, como eletrodomésticos, máquinas e veículos.  O fenômeno resulta dos avanços tecnológicos dos instrumentos de produção como a informática, a eletrônica, a mecânica e a genética.  
Analisemos apenas os avanços genéticos, a área mais relacionada com a produção dos alimentos que compõem a cesta básica. Os impactos mais significativos aconteceram nas biotecnologias, responsáveis pela geração dos cultivos transgênicos. Nos primórdios do seu desenvolvimento (meados dos anos 80), o sequenciamento do DNA de uma planta ou animal era trabalhosa e requeria o concurso de muitas pessoas, durante muito tempo e a um custo elevadíssimo. Hoje isso é feito em minutos para algumas bactérias e poucos dias para organismos superiores. O próprio genoma humano, finalizado em 2010, levou mais de uma década para ser concluído, envolvendo um consórcio de laboratórios, enquanto hoje isto pode ser realizado em alguns dias e ao custo de uma fração do que custou há 10 anos. E não apenas é feito mais rápido, como os resultados são mais precisos e confiáveis, porque assim como a bioengenharia evoluiu, também evoluíram os computadores e os programas de software que analisam e interpretam os dados. 
É da natureza: seres vivos só se reproduzem naturalmente, relacionando-se com indivíduos da mesma espécie: soja cruza com soja e milho com milho. Pode não ser mais assim, pois com as técnicas da engenharia genética é possível transferir genes entre plantas de espécies diferentes (soja para milho, por exemplo), como gene de um animal pode ser transferido para uma planta e vice versa. Foi assim, por exemplo, com a soja RR, onde um gene de uma bactéria foi separado e transferido do DNA da bactéria para o DNA da soja, conferindo-lhe resistência ao herbicida glifosato, o qual mata qualquer planta quando pulverizado sobre ela, menos aquelas que carregam o gene transferido da bactéria.
A transgenia facilita o processo produtivo agrícola, razão pela qual tem merecido a preferência do agricultor no cultivo de soja, milho ou algodão transgênicos. Mais de 181 milhões de hectares (mi ha) de transgênicos foram cultivados em 2014 no mundo, com o Brasil na vice liderança (42,2 mi ha), precedido pelos Estados Unidos (73,1 mi ha). Mesmo discordando, alimentos geneticamente modificados são seguros e continuarão a ser produzidos em quantidades cada vez maiores e com mais características modificadas. 
As variedades transgênicas per se não aumentam a produtividade, mas podem fazê-lo via melhor controle das plantas daninhas, das pragas e das doenças. Esta tecnologia ajudou a aumentar a disponibilidade de alimentos e a um custo menor, o que permitiu ao brasileiro ter acesso a mais de duas cestas básicas com um salário mínimo. 

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