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O Buriti e Seu Potencial



Aderaldo Batista Gazel Filho

Por: Aderaldo Batista Gazel Filho1

Jorge Araújo de Sousa Lima2

A palmeira conhecida por buriti (Mauritia flexuosa) é uma espécie nativa da Amazônia, que habita solos ácidos, pouco férteis, encontrando-se distribuída no Brasil, Peru, Venezuela e provavelmente na Bolívia e Colômbia. Está associada a muitas tradições dos habitantes indígenas da Amazônia.

É explorada de diversas formas: fruto para consumo ´in natura`; extração de óleo; doces; sorvetes; vinho da polpa: tocos para postes, pontes e canoas; extração da larva de um coleóptero conhecido por ´turu` no Brasil e ´suris` no Peru; folhas usadas em coberturas; fibras para confecção de cordas, redes e esteiras. Outro uso corrente do fruto é na alimentação animal.

É uma fruta muito rica em Vitamina C, Vitamina A, contendo também óleo, Cálcio, Ferro, Niacina, Riboflavina e Tiamina. No Estado do Amapá, como de resto em grande parte da Amazônia, caracterizada por elevada pobreza e carência nutricional e vitamínica, o buriti poderia ser utilizado para mitigar parte desse problema.

O mesocarpo do fruto se utiliza para preparar uma bebida muito conhecida: primeiro se macera o fruto emergindo-o em água e logo se espreme a polpa e as escamas com as mãos e se mistura com água. Em seguida se decanta ou peneira-se a turva emulsão alaranjada e se consome depois de adicionar açúcar ou então deixar fermentar e adicionar farinha de mandioca.

Em Macapá, uma sorveteria está produzindo sorvete de buriti, beneficiando cerca de 200 kg de polpa por mês durante a safra. Em Belém, no popular mercado do Ver-o-Peso, é comum a comercialização de frutos de buriti.

Há relatos de que das sementes se pode extrair um carburante líquido preparado em um processo semelhante ao usado na fabricação de álcool de milho e outros cereais. Completamente amadurecidas as sementes adquirem consistência óssea, como a da jarina, servindo também para artesanato.

Os troncos caídos são uma fonte abundante de grandes larvas de um coleóptero, conhecidas por ´turu` no Brasil e ´suris` no Peru. Estas larvas podem ser consumidas cruas, fritas ou guisadas e são uma boa fonte de proteínas. Trata-se da larva do inseto Rhyncophorus palmarum, coleóptero praga do coqueiro.

As folhas se utilizam para coberturas e fornecem fibras largamente utilizadas na confecção de esteiras, cordas, redes e chapéus, encontrando-se relatos de coberturas de casas bem feitas com duração de mais de 20 anos.

O pecíolo de sua folha fornece um tecido esponjoso que pode ser utilizado como rolhas para garrafas, enchimento para cadeiras e camas e para a fabricação de brinquedos. Em Macapá, encontra-se um artesão que trabalha somente com a fabricação de embarcações de brinquedo confeccionadas de buriti. Outros usos são na confecção de gaiolas para passarinhos e também talas para armação de papagaios ou pipas.

O potencial do buriti se dá também como fonte de óleo. O óleo virgem extraído do mesocarpo dos frutos maduros de buriti é muito rico em ácido oleico e é equivalente em termos de composição aos ácidos graxos dos azeites das sementes oleaginosas tradicionais. Os ácidos láurico e miristiárico estão presentes no buriti, principalmente no fruto verde e podem ser utilizados na indústria farmacêutica.

Os requerimentos diários recomendados pela FAO são da ordem de 30mg de Vitamina C, esta quantidade pode ser fornecida pela ingestão de, aproximadamente, 50g de polpa de buriti. Para Vitamina A, considerando-se o requerimento diário de 750mcg, 100g de polpa de buriti contém 12.375mcg, o que daria para satisfazer a necessidade de 16 pessoas.

Considerando-se a riqueza das Vitaminas C e A na polpa do buriti, percebe-se a valiosa abundância dessas vitaminas que não é aproveitada pela população. A Vitamina C ou Ácido Ascórbico, também denominada de vitamina astiescorbútica é um fator de resistência a enfermidades, atuando na formação dos glóbulos vermelhos do sangue. A Vitamina A, conhecida também como antixeroftálmica, intervem no processo da visão e na regulação do crescimento.

No Nordeste do Brasil se utiliza o doce de buriti como suplemento vitamínico para a deficiência de Vitamina A em crianças entre três e 12 anos, concluindo que um tratamento de 20 dias é suficiente para eliminar os sintomas de deficiência dessa vitamina.

1Eng. Agr., M. Sc., Embrapa Amapá. Macapá, AP. Caixa Postal 10, CEP 68.902-280. [email protected]

2Eng. Agr. M. Sc. Embrapa Solos. Rio de Janeiro, RJ. Rua Jardim Botânico, 1024, CEP 22.460-000.

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