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O agronegócio tem que se dar importância, porque nenhum estranho vai fazer isso


Richard Jakubaszko
(Artigo publicado originalmente na revista DBO Agrotecnologia, edição 27, setembro / outubro 2010)

Como o agronegócio não tem importância política, não indica ministro ao MAPA.

Quando esta edição da DBO Agrotecnologia estiver circulando já teremos um novo presidente eleito. Não importa, neste momento, quem seja o eleito, se Dilma Roussef ou José Serra, para efeito do que desejamos comentar. Irá tomar posse a partir de 1º de janeiro de 2011 e indicará na sequência seus ministros, e entre estes o futuro ministro da Agricultura. O nome do futuro ministro só deve ser conhecido lá pelo final do ano, talvez um pouco antes, mas será alguém da confiança do futuro presidente, ou alguém indicado por um dos partidos políticos da coligação que ajudaram a eleger o presidente.

Em outros ministérios, considerados mais importantes, seja do ponto de vista político ou do montante das verbas disponíveis, a disputa é mais acirrada do que a do cargo no MAPA. O problema que desejamos enfatizar é que este ministério tem sido ocupado, nos últimos 50 anos, mais frequentemente por políticos profissionais, e raramente por especialistas, por gente com origem no agronegócio. Neste tempo, de meio século, foram raríssimos os ministros “do ramo”, como Roberto Rodrigues, Allysson Paolinelli ou Luiz Fernando Cirne Lima. Alguns políticos, reconheçamos, tiveram bom desempenho, como Pratini de Moraes ou Reinhold Stephanes, mas foram exceções à regra. Houve uma longa lista de dezenas de ministros inexpressivos, que quase nada contribuíram, e esta foi a tônica geral desde os anos da ditadura, com exceção de alguns especialistas que esquentaram suas cadeiras por pouco tempo, como Luís Carlos Guedes Pinto ou Alberto Duque Portugal.

A razão de não acontecer a presença de especialistas, ou de gente do ramo, à frente do MAPA, está na falta de importância política do agronegócio, mesmo considerando que a bancada ruralista tenha garantido cerca de 230 votos (ver matéria a respeito, nesta edição, à página 21). Isto porque, é óbvio esperar que o ministro da Agricultura represente os interesses dos produtores junto ao presidente e à sociedade, e não apenas os seus interesses políticos e partidários, ou exclusivamente pessoais.

Nos casos de cargos de ministros da Fazenda, Indústria e Comércio, Minas e Energia, Transportes, Meio Ambiente, e alguns outros, o lobby de cada setor interessado é muito forte, muitas vezes conseguem impor um nome ao presidente, obtendo com isso pelo menos uma voz a ser ouvida nas questões e demandas importantes para cada setor.

Como o agronegócio não tem importância política não indica ninguém para liderar o MAPA, mesmo sendo um ministério técnico e mesmo tendo ainda a responsabilidade estratégica da questão do abastecimento alimentar para a população urbana. Esta, por sua vez, além de ser ingrata com quem a abastece de alimentos, ainda critica o agronegócio de poluir o meio ambiente, de desmatar, e de contaminar alimentos com uso de agrotóxicos.

O agronegócio somente terá importância a partir do momento em que as diversas lideranças políticas do setor se reúnam, estabeleçam quem será o interlocutor e porta voz e indiquem isso ao presidente, por exemplo, através de uma lista tríplice de nomes, de quem deveria ser o futuro ministro da Agricultura.

Fora disso a agropecuária terá sempre políticos como seus representantes no MAPA, um ministro sem força política e sem poder de barganha junto ao presidente e a outros ministérios. Ou ministros burocratas e passivos. Depois, não adianta alinhavar os velhos e repetidos argumentos de que o agronegócio representa quase 40% das exportações, que produz 1/3 do PIB do país, ou de que emprega 1/3 da mão-de-obra.

Para que o agronegócio adquira essa força e presença política junto ao presidente e ao Congresso, e também à sociedade urbana, precisa estabelecer e praticar a união. O agronegócio necessita desenvolver lideranças de peso, e isso somente se consegue através de entidades associativas com efetiva representatividade dos produtores rurais. Mas que sejam entidades sem vínculos sindicais ou políticos, ou liderados por meros representantes de oligarquias desgastadas pelo tempo.

O resto é jogar conversa fora. É pura perda de tempo.

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