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O agroengócio é suficiente para manter o Brasil à tona?


Decio Luiz Gazzoni
A realidade até parece piada sem graça: porcos, vacas e galinhas estão mantendo o Brasil à tona. Traduzindo, o agronegócio evita que a queda no PIB brasileiro supere 2%, em 2015. Mas como, alguém pergunta, se o dinheiro do povo anda curto, e o consumo de carne diminui a cada dia?

Diminui no Brasil, mas não no mundo, onde a economia cresce a taxas cada vez maiores, desde 2012, exceção de países como Brasil, Venezuela ou Grécia, que andam na contramão. Ironia: a China preocupa, porque vai crescer apenas 7% em 2015. Mas, com o PIB da China de US$17 trilhões (pelo conceito de paridade do poder de compra), 7% significa mais de US$1,2 trilhão de acréscimo no PIB (equivaleria a um crescimento de 39% no Brasil!). Quando a China crescia a 14% a.a., sendo o PIB de US$500 bilhões, equivaleria, hoje, a um crescimento de meros 0,4%!
O raciocínio é importante para mostrar o processo sustentável de inclusão social pelos ganhos de renda per capita, sem qualquer transferência governamental para a população. Aumentando a renda, em um primeiro instante o cidadão se alimenta mais. No segundo instante, se alimenta melhor, o que significa mais qualidade, mais proteína animal, melhores marcas. Como os países que mais incluem cidadãos na classe média não são grandes produtores agrícolas, o Brasil é chamado a exportar alimentos. Afinal, a produção agrícola brasileira, além de atender integralmente a demanda interna, tem um superávit que alimenta outros dois brasis.
Voltando à vaca fria, um exemplo: enquanto o Brasil como um todo engatou marcha ré desde meados de 2014, a avicultura cresceu 2,6% nesse primeiro semestre. E o aumento da renda na China, Paquistão, Malásia e Arábia Saudita prevê aumentos de exportação de 5%, com produção anual acima de 13 milhões de toneladas.

Como frango ou suíno é metade milho e metade soja, porcos e galinhas estão roncando e cacarejando para os produtores agrícolas, reclamando mais grãos para rações. Logo, mais desenvolvimento, mais progresso, mais renda, mais empregos. Coisa que o restante do Brasil se mostra incapaz de fazer.Esses fatos e números explicam a piada preferida dos empresários da agropecuária: se o governo não atrapalhar, já ajuda muito!
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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