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Nós temos um sonho


Decio Luiz Gazzoni
Com essas palavras comecei a fala de agradecimento, após haver sido eleito Presidente do Steering Commitee para Energia Sustentável, do International Council for Science (ICSU), na semana passada. Mais que homenagear Martin Luther King por seu inesquecível discurso de 28/8/63, que teve o condão de mudar a história dos EUA, quis provocar reflexão sobre uma realidade. O conselho que presido compõe-se de cientistas de inúmeros países, que abdicam de suas horas de lazer, e trabalham sem qualquer remuneração para lutar por um sonho: contribuir para o desenvolvimento sustentável do planeta Terra. Por isto, a plataforma científica sobre a qual trabalhamos chama-se, apropriadamente,
Future Earth.
Sem sustentabilidade, a vida na Terra, tal qual a conhecemos, mudará radicalmente. Os alertas sobre as Mudanças Climáticas Globais, ora em curso, já deveriam ter operado quebras de paradigma em diversas facetas das atividades econômicas mundiais. Um dos principais problemas - quiçá o maior – é o excessivo uso de energia fóssil (petróleo, carvão, gás), que hoje responde por quase 80% da energia consumida no mundo. Será impossível continuar emporcalhando a atmosfera com emissões de energia fóssil, como fazemos hoje, sem sofrer sérias consequências.
Algumas tentativas de apoio iniciaram na década passada e parecia que outro mundo era possível. Aí descobriram uma fórmula barata de extrair gás de xisto nos EUA, e a situação ficou claudicante.  Tudo piorou quando perdemos o principal ícone, que era o bem sucedido programa de bioetanol brasileiro. O mundo se mirava nele, com inveja, e aguardava um tempo para ver se, realmente, outro mundo era possível. O que o Brasil fez? Matou o programa de bioetanol e os defensores de energia limpa de todo o mundo ficamos semi-órfãos.

Foi por isto que abri o discurso falando: Nós temos um sonho! O sonho de um mundo melhor, sustentável. Os governos e seus erros passam., a civilização precisa sobreviver. Vamos continuar trabalhando, gratuitamente, para construir este sonho sem fronteiras, na esperança de que governantes estadistas e não populistas e imediatistas, se juntem a nós, por um mundo melhor para nossos netos.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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