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Leite também é remédio


Decio Luiz Gazzoni
O leite materno humano tem carboidratos (oligossacarídeos) que servem de alimento para bactérias benéficas, como a Bifidobacterium infantis. Ao se proliferar e colonizar o intestino, essas bactérias benéficas aumentam a imunidade e ajudam a proteger os bebês de infecções e doenças causadas por micróbios, como a Escherichia coli.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia obtiveram oligossacarídeos semelhantes aos do leite materno humano, pela remoção parcial da proteína do soro de leite. O objetivo é criar suplementos alimentares para restaurar o equilíbrio microbiano no trato digestivo, aumentando a imunidade de pessoas com sistemas imunológicos comprometidos – como pacientes com HIV ou submetidos à quimioterapia – além de adultos, idosos e bebês incapazes de receber leite materno.

As vacas produzem oligossacarídeos estruturalmente semelhantes aos do leite materno. O problema é que a produção dessa molécula diminui após os primeiros dias de lactação do animal. Como a síntese industrial dessa molécula em grande escala ainda não é possível, foram desenvolvidas técnicas para obter oligossacarídeos a partir do soro de leite.
De 100 litros de leite resultam 10 kg de queijo e 90 litros de soro, que contêm cerca de 50% dos nutrientes do leite. A cada ano, são produzidos cerca de 3 milhões de toneladas de soro de leite no Brasil, por vezes considerados um passivo ambiental, de descarte complexo.

Urge desenvolver processos combinando biotecnologia e engenharia industrial, que possibilitem às indústrias de laticínios extrair grandes quantidades de oligossacarídeos de soro de leite. Também, serão necessários estudos in vitro (com células epiteliais), em animais e com humanos, utilizando os oligossacarídeos obtidos do soro de leite, para avaliar os efeitos prebiótico e de imunomodulação da molécula.
Esses processos não apenas permitirão obter produtos de relevante importância para a saúde humana, como significarão uma importante agregação de valor para as cadeias de produtos lácteos no Brasil, a partir de um subproduto (soro) de valor baixo ou nulo, inclusive transformando um passivo ambiental em uma riqueza social.
 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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