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Inflação: Um beco sem saída



Mauricio Fontana
Entre final do ano passado e o início deste, li e ouvi de diversos analistas de mercado e de figuras importantes da equipe econômica do governo Dilma a opinião de que, depois de superado o choque externo adverso provocado pelas cotações de commodities agrícolas, que havia occorrido na segunda metade de 2012 devido à dificuldades climáticas enfrentadas nos Estados Unidos, a tendência para a inflação no Brasil era de acomodação e retorno às proximidades do centro da meta oficial (a saber, 4,5% ao ano).


A despreocupação do governo federal em relação à trajetória deste índice era então justificada pelo argumento de que a repetição de tais condições climáticas inadequadas era improvável e, em 2013, estes preços retornariam a um patamar mais comportado, ainda que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado em 12 meses à época variasse de 5,45% a 6,31% entre outubro de 2012 e fevereiro de 2013, patamar já bem acima da meta.

De certa forma, aquele ponto de vista não estava incorreto. Caso as condições meteorológicas não apresentassem novos sobressaltos, os preços de commodities tenderaim ao arrefecimento no horizonte de curto prazo. Apesar disso, naqueles dias, adverti alguns colegas sobre um detalhe fundamental: as margens de tolerância da meta de inflação definidas pelo Conselho Monetário Nacional (que permitem o IPCA variar entre 2,5% e 6,5%) existem exatamente para a absorção de choques externos! Ou seja, a tolerância das autoridades econômicas a um IPCA próximo a 6% no início do ano representava a assunção de um elevado risco frente ao cenário internacional nebuloso e um mercado interno de consumo superaquecido.


Se então esta opinião soava como pessimismo exagerado, hoje a situação mudou. Temos um quadro preocupante que, infelizmente, confirma os erros de política econômica da atual administração. Para começar, diferentemente do que se esperava, quando houve desaceleração nos preços internacionais de commodities agrícolas, este efeito não foi repassado ao consumidor brasileiro. Isso aconteceu principalmente poque, como havia desconfiança sobre a capacidade/comprometimento do Banco Central em levar a inflação ao centro da meta oficial, empresários, comerciantes e demais formadores de preços evitaram reduzir seus preços, optando por auferir uma margem maior de lucro que os protegesse de um futuro incerto. Por outro lado, devido à má gestão fiscal, com forte aumento do tamanho da máquina pública (39 ministérios!), implementação de medidas "criativas" para atingir a meta de superávit primário e enormes repasses de recursos aos bancos públicos, e às perspectivas de elevação dos juros nos EUA, já não atraímos mais tantos dólares como antes e o efeito disto é uma nova disparada da cotação da moeda americana, fator que também pressiona os preços para cima. Por fim, como se tudo isso não bastasse, entre o final de maio e o início de junho, temos novamente preços de commodities agrícolas em elevação lá fora e aquele arrefecimento de preços de alimentos tão esperado, pode não se confirmar.

Minha opinião? Chegamos a um beco sem saída. O governo federal já utilizou quase todas as medidas micro-prudenciais que conseguiu imaginar para forçar os preços para baixo, aumentar a taxa Selic agora não causará efeito deflacionário no curto prazo e, ainda, já nota-se uma maior indexação da economia causada pela perda de credibilidade das autoridades junto ao mercado. Nos próximos meses, especialmente junho e julho, devemos ser surpreendidos por um IPCA acumulado em 12 meses próximo a 7% e, se não tivermos sorte, encerraremos 2013 com uma inflação acima da meta oficial. Será isso pessimismo?

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