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Indefinições da ciência em tempos de COP 15


Richard Jakubaszko
Participei hoje pela manhã do Fórum Abag sobre meio ambiente, realizado em São Paulo, Capital. Na primeira de três palestras Marcos Jank, presidente da ÚNICA, desfilou um rosário de desafios e oportunidades que o etanol produzido da cana-de-açúcar Brasil terá na COP-15 em Copenhague, daqui a duas semanas. Carlo Lovatelli, presidente da Abag, comentou que o Brasil terá uma delegação de peso por lá, com mais de 600 participantes, e eu esclareço que o número não deve considerar os (as) acompanhantes.
Na sequência do evento o professor e engenheiro agrônomo Carlos Cerri, que é do CENA/USP, e um dos signatários do IPCC, dono de um currículo longo e notável, despejou na plateia muitas toneladas de números sobre emissão de CO2 equivalentes que seriam da responsabilidade do agronegócio ao engrossar a chamada camada de gases de efeito estufa, a GEE, que por sua vez estaria provocando o aquecimento do planeta. Não fez maiores considerações sobre o quanto o agronegócio sequestra desse mesmo CO2 e equivalentes. Ou seja, não falou dos créditos e do quanto se sequestra, mas apenas dos débitos, ou melhor, o quanto se emite de CO2, em especial o da flatulência entérica bovina. Destacou que há inúmeras oportunidades para o agronegócio nesse sentido, para que o setor se redima de tantas críticas, especialmente aquelas feitas pelos ambientalistas e pela mídia.
Fiquei bastante irritado e contrariado com a exposição do professor Cerri, e minhas razões já foram explicitadas em diversos artigos publicados aqui no blog e replicados em toda a internet, em especial o artigo mais recente, "CO2: a unanimidade da mídia é burra!". Mas o Fórum da Abag foi em frente, ainda sem debates, me "segurei" na cadeira, e fomos brindados com a excelente palestra, lamentavelmente curtinha, de Paulo Moutinho, presidente do IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. Disse ele algumas coisas que eu jamais poderia imaginar serem ditas por um pesquisador ambiental, das quais destaco algumas, para que o leitor deste blog possa se deliciar:
1 – o agronegócio brasileiro é burro e trabalha de graça, ou quase isso, por não saber cobrar do mercado internacional o pagamento de créditos por conservar a Amazônia.
2 – não há no planeta nenhum país onde exista a figura jurídica ou legislativa da "Reserva Permanente Ambiental" que o Código Florestal brasileiro, que se encontra tramitando no Congresso Federal, pretende impor aos produtores rurais brasileiros.
3 – 50% das queimadas na Amazônia são acidentais, ou seja, não foram intencionais.
4 – a soja não é responsável por nenhum hectare desmatado na Amazônia. Antes da soja chegam os madeireiros, que levam as árvores, muitos anos depois chegam os pecuaristas. Não explicou, mas é sabido que antes dos pecuaristas chegam os carvoeiros, e depois os do MST e posseiros pequenos.
Comecei a ficar satisfeito, com a palestra de Moutinho, pela minha ida ao Fórum da Abag, afinal, não teria perdido tempo.
Vieram os debates e, para mim, um misto de inquietação e irritação. Decidi não fazer perguntas, porque o esquema é de perguntas escritas, e meu amigo Pinazza filtra as perguntas. Mas assisti aos debates.
Na última pergunta dos debates o veterinário Sebastião Guedes, presidente do CNPC – Conselho Nacional da Pecuária de Corte, perguntou a Cerri a razão das diferenças de números informados pelo IPCC e pela Embrapa, sobre a emissão de óxido nitroso (N2O) pelos bovinos, que seria uma desproporção abissal, eis que o IPCC informa que a urina bovina emite 2.0% de N2O, mas a Embrapa registra 0.4%, número confirmado pelo Instituto de Zootecnia, de Nova Odessa, SP.
Com uma diferença dessas, cinco vezes maior, não há boi nem pecuarista que se mantenha inocente, teria de mandar a bicharada para de fazer xixi, até porque não se dá crédito aos bois e vacas por "irrigar" os solos, nem quando a gente come carne, eis que para produzir 1 kg de carne o boi consome sei lá quantos mil litros de água... Percebe-se que o tal do CO2 equivalente é engrossado pelo N2O, depois que se multiplica o mesmo por 293 vezes, pois é essa a proporção poluente do N2O para o dióxido de carbono.
Quase caí da cadeira ao ouvir do professor Cerri (e todo mundo na plateia ouviu a mesma coisa, apenas não sei se deram a mesma interpretação), de que o IPCC tinha um número e esse número vem sendo usado desde então. Explicou que há diferenças enormes desses números entre alguns países e entre regiões de um mesmo país, e que ele assinara isso, apesar do "default" de muitos outros países, inclusive o Brasil. Na sequência explicou que, por isso mesmo, a ciência precisa de dinheiro para fazer muitas pesquisas e ter mais certezas. E mais não disse, aparentemente todo mundo ficou feliz e a reunião se encerrou, com os aplausos convencionais.
Saí do Fórum da Abag chutando pedras, não sem antes fazer alguns breves comentários com a Sabrina Feldman, assessora de imprensa do Ícone, e com o Luiz Antônio Pinazza, diretor da Abag, das minhas contrariedades em relação aos cientistas. Na sequência falei com Sebastião Guedes, parecia petrificado, além de decepcionado, com a resposta do professor Cerri.
Fiquei pensando com os meus botões: há muita irresponsabilidade e leviandade de muitos dos cientistas. Como é que eles vomitam números, dão opiniões, prenunciam desgraças, fazem previsões e propõem soluções com base em estatísticas que não são certas e confiáveis? Como é possível isso? A estatística não é a mãe de todas as ciências? Ou os cientistas não têm mais respeito pela mãe das ciências?
O mundo anda explodindo, as indefinições nos atordoam, o IPCC anunciou o fim do mundo, as pessoas esperam soluções da COP 15, os governos e líderes discutem e debatem o aquecimento que, aliás, tem sido contestado por outros cientistas. Há muita polêmica nas ciências, parece não haver concordâncias, mas o certo é que vamos ter atitudes e propostas na COP 15, de todos os cientistas. Já existem até mesmo multas previstas pela emissão de CO2 equivalente, pela transgressão de normas, porque se chegou ao consenso de que o planeta vai esquentar e de que a culpa é do tal do CO2. Os governos, que são políticos, acham um jeitinho criativo de multar os transgressores. As indústrias estabelecem com as ONGs as suas moratórias, para ficar bem na foto. O produtor rural é criticado pela mídia e vai pagar o pato. E vai ficar com o mico. Tudo porque os cientistas assinam qualquer número que lhes seja conveniente. Na falta de outro, evidentemente.
Meus amigos: não estou falando exclusivamente do professor Cerri, ele foi honesto ao dizer o que disse, talvez tenha tido um ataque de ingenuidade, e não tenha percebido as pedras lisas por onde pisava, mas foi honesto. Como fala a personagem do Casseta e Planeta, me deu vontade "de dar porrada"... O problema é que os outros 2.498 cientistas signatários do IPCC (de um total de 2.500) não foram nem honestos e nem ingênuos. Simplesmente assinaram. Mas tem uma parcela deles que discorda dos números do IPCC, felizmente.
O outro cientista que falta nessa conta é o meu amigo Odo Primavesi, juntos já criticamos as propostas e soluções do IPCC, mas a mídia continua surda, apenas ouve os cientistas pregadores de desgraças. Amanhã os jornais estarão cheios de mais desgraça e notícias ruins. Não há dúvidas de que não apenas os jornais, mas muita gente está ganhando dinheiro com essa história de mudanças climáticas.

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