![Richard Jakubaszko](https://www.agrolink.com.br/upload/colunistas/42186_235111.jpg)
Participei hoje pela manhã do Fórum Abag sobre meio ambiente, realizado em São Paulo, Capital. Na primeira de três palestras Marcos Jank, presidente da ÚNICA, desfilou um rosário de desafios e oportunidades que o etanol produzido da cana-de-açúcar Brasil terá na COP-15 em Copenhague, daqui a duas semanas. Carlo Lovatelli, presidente da Abag, comentou que o Brasil terá uma delegação de peso por lá, com mais de 600 participantes, e eu esclareço que o número não deve considerar os (as) acompanhantes.
Na sequência do evento o professor e engenheiro agrônomo Carlos Cerri, que é do CENA/USP, e um dos signatários do IPCC, dono de um currículo longo e notável, despejou na plateia muitas toneladas de números sobre emissão de CO2 equivalentes que seriam da responsabilidade do agronegócio ao engrossar a chamada camada de gases de efeito estufa, a GEE, que por sua vez estaria provocando o aquecimento do planeta. Não fez maiores considerações sobre o quanto o agronegócio sequestra desse mesmo CO2 e equivalentes. Ou seja, não falou dos créditos e do quanto se sequestra, mas apenas dos débitos, ou melhor, o quanto se emite de CO2, em especial o da flatulência entérica bovina. Destacou que há inúmeras oportunidades para o agronegócio nesse sentido, para que o setor se redima de tantas críticas, especialmente aquelas feitas pelos ambientalistas e pela mídia.
Fiquei bastante irritado e contrariado com a exposição do professor Cerri, e minhas razões já foram explicitadas em diversos artigos publicados aqui no blog e replicados em toda a internet, em especial o artigo mais recente, "CO2: a unanimidade da mídia é burra!". Mas o Fórum da Abag foi em frente, ainda sem debates, me "segurei" na cadeira, e fomos brindados com a excelente palestra, lamentavelmente curtinha, de Paulo Moutinho, presidente do IPAM – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia. Disse ele algumas coisas que eu jamais poderia imaginar serem ditas por um pesquisador ambiental, das quais destaco algumas, para que o leitor deste blog possa se deliciar:
1 – o agronegócio brasileiro é burro e trabalha de graça, ou quase isso, por não saber cobrar do mercado internacional o pagamento de créditos por conservar a Amazônia.
2 – não há no planeta nenhum país onde exista a figura jurídica ou legislativa da "Reserva Permanente Ambiental" que o Código Florestal brasileiro, que se encontra tramitando no Congresso Federal, pretende impor aos produtores rurais brasileiros.
3 – 50% das queimadas na Amazônia são acidentais, ou seja, não foram intencionais.
4 – a soja não é responsável por nenhum hectare desmatado na Amazônia. Antes da soja chegam os madeireiros, que levam as árvores, muitos anos depois chegam os pecuaristas. Não explicou, mas é sabido que antes dos pecuaristas chegam os carvoeiros, e depois os do MST e posseiros pequenos.
Comecei a ficar satisfeito, com a palestra de Moutinho, pela minha ida ao Fórum da Abag, afinal, não teria perdido tempo.
Vieram os debates e, para mim, um misto de inquietação e irritação. Decidi não fazer perguntas, porque o esquema é de perguntas escritas, e meu amigo Pinazza filtra as perguntas. Mas assisti aos debates.
Na última pergunta dos debates o veterinário Sebastião Guedes, presidente do CNPC – Conselho Nacional da Pecuária de Corte, perguntou a Cerri a razão das diferenças de números informados pelo IPCC e pela Embrapa, sobre a emissão de óxido nitroso (N2O) pelos bovinos, que seria uma desproporção abissal, eis que o IPCC informa que a urina bovina emite 2.0% de N2O, mas a Embrapa registra 0.4%, número confirmado pelo Instituto de Zootecnia, de Nova Odessa, SP.
Com uma diferença dessas, cinco vezes maior, não há boi nem pecuarista que se mantenha inocente, teria de mandar a bicharada para de fazer xixi, até porque não se dá crédito aos bois e vacas por "irrigar" os solos, nem quando a gente come carne, eis que para produzir 1 kg de carne o boi consome sei lá quantos mil litros de água... Percebe-se que o tal do CO2 equivalente é engrossado pelo N2O, depois que se multiplica o mesmo por 293 vezes, pois é essa a proporção poluente do N2O para o dióxido de carbono.
Quase caí da cadeira ao ouvir do professor Cerri (e todo mundo na plateia ouviu a mesma coisa, apenas não sei se deram a mesma interpretação), de que o IPCC tinha um número e esse número vem sendo usado desde então. Explicou que há diferenças enormes desses números entre alguns países e entre regiões de um mesmo país, e que ele assinara isso, apesar do "default" de muitos outros países, inclusive o Brasil. Na sequência explicou que, por isso mesmo, a ciência precisa de dinheiro para fazer muitas pesquisas e ter mais certezas. E mais não disse, aparentemente todo mundo ficou feliz e a reunião se encerrou, com os aplausos convencionais.
Saí do Fórum da Abag chutando pedras, não sem antes fazer alguns breves comentários com a Sabrina Feldman, assessora de imprensa do Ícone, e com o Luiz Antônio Pinazza, diretor da Abag, das minhas contrariedades em relação aos cientistas. Na sequência falei com Sebastião Guedes, parecia petrificado, além de decepcionado, com a resposta do professor Cerri.
Fiquei pensando com os meus botões: há muita irresponsabilidade e leviandade de muitos dos cientistas. Como é que eles vomitam números, dão opiniões, prenunciam desgraças, fazem previsões e propõem soluções com base em estatísticas que não são certas e confiáveis? Como é possível isso? A estatística não é a mãe de todas as ciências? Ou os cientistas não têm mais respeito pela mãe das ciências?
O mundo anda explodindo, as indefinições nos atordoam, o IPCC anunciou o fim do mundo, as pessoas esperam soluções da COP 15, os governos e líderes discutem e debatem o aquecimento que, aliás, tem sido contestado por outros cientistas. Há muita polêmica nas ciências, parece não haver concordâncias, mas o certo é que vamos ter atitudes e propostas na COP 15, de todos os cientistas. Já existem até mesmo multas previstas pela emissão de CO2 equivalente, pela transgressão de normas, porque se chegou ao consenso de que o planeta vai esquentar e de que a culpa é do tal do CO2. Os governos, que são políticos, acham um jeitinho criativo de multar os transgressores. As indústrias estabelecem com as ONGs as suas moratórias, para ficar bem na foto. O produtor rural é criticado pela mídia e vai pagar o pato. E vai ficar com o mico. Tudo porque os cientistas assinam qualquer número que lhes seja conveniente. Na falta de outro, evidentemente.
Meus amigos: não estou falando exclusivamente do professor Cerri, ele foi honesto ao dizer o que disse, talvez tenha tido um ataque de ingenuidade, e não tenha percebido as pedras lisas por onde pisava, mas foi honesto. Como fala a personagem do Casseta e Planeta, me deu vontade "de dar porrada"... O problema é que os outros 2.498 cientistas signatários do IPCC (de um total de 2.500) não foram nem honestos e nem ingênuos. Simplesmente assinaram. Mas tem uma parcela deles que discorda dos números do IPCC, felizmente.
O outro cientista que falta nessa conta é o meu amigo Odo Primavesi, juntos já criticamos as propostas e soluções do IPCC, mas a mídia continua surda, apenas ouve os cientistas pregadores de desgraças. Amanhã os jornais estarão cheios de mais desgraça e notícias ruins. Não há dúvidas de que não apenas os jornais, mas muita gente está ganhando dinheiro com essa história de mudanças climáticas.