CI

Incêndios



Rui Alberto Wolfart

As teorias no tocante a ocupação das Américas têm implicações em função das diferentes visões sobre a questão ecológica. Dizem que antes de 1492 as Américas eram intocadas, que não haviam sofrido a ação do homem, exposto inclusive na teoria do geógrafo William Denevan “teoria prístino”. Para desmentí-lo, logo nos primórdios da ocupação do território norte americano, há relatos de queimadas ao longo do rio Hudson, bem como nas pradarias no Meio Oeste.

Também aqui ao lado, no Beni (Bolívia) as suas savanas, parte são naturais e parte foram expandidas pela promoção de queimadas em imensas áreas. Ali, ao longo dos séculos, as queimadas produziram um ecossistema de espécies vegetais adaptadas ao fogo. É o que acontece também em reservas indígenas brasileiras. Isto se denomina pirofilia indígena, se traduzindo em um traço cultural dessas sociedades.

A atividade agrícola, com o plantio da soja, desembocou na tecnologia denominada “plantio direto”, em que não acontece a mobilização do solo, com a manutenção da palhada em cobertura. Hoje, a atividade agrícola brasileira é feita na ótica do Plantio Direto – PD, isto é, com cobertura de solo com palhadas diversas, se traduzindo em um benefício extraordinário para a produção sustentável e por consequência, o produtor de soja e milho é o maior inimigo do fogo.

De outro lado, após aproximadamente cinco meses de seca e com prognósticos de precipitação abaixo da média histórica, os pecuaristas seriam insensatos se colocassem fogo em suas esturricadas pastagens, pois simplesmente não teriam como apascentar os seus rebanhos. Logo é de se imaginar, que se fogo houve em fazendas de agricultura e de pecuária, a sua origem é outra. Quais seriam então as causas prováveis de tantos focos de incêndios? Pode-se elencar:

Rodovias - As margens de rodovias são comumente “áreas de servidão, logo sob a “guarda” dos diferentes entes públicos. Com suas laterais não roçadas, ao serem jogados tocos de cigarros, temos um vetor de incêndios que se espalham por propriedades privadas. É só olhar às margens das rodovias municipais, estaduais e federais e lá estão as imagens que falam por si.

Assentamentos - As microderrubadas (derrubar-queimar=coivara) levam a que os focos de queimadas se alastrem para grandes áreas.

Desmatamentos ilegais – Amplas fatias do território nacional, como na Amazônia são denominadas “terras devolutas”, mas juridicamente são terras públicas. A falta de ordenamento fundiário leva à grilagem e à impunidade. Não se sabe quem é quem nessas ocupações territoriais. É a ausência do aparelho de Estado, o principal culpado por esse tipo de situação.

Reservas indígenas – As queimadas acontecem como já mencionado, por se constituir em traço das sociedades pirofílicas.

Queimadas urbanas – As imagens de satélites que cobrem o território nacional mostram a expressiva participação dos núcleos urbanos nesse conjunto.

Desse modo, além de medidas educativas e orientadoras, há que se sanear o “passivo” público. De outro lado, em razão da realidade estacional, chuvas/secas, seria importante a constituição de brigadas de voluntários em todas as cidades para combater os focos de incêndios. Não há aparato público suficiente para combatê-los. Sem o envolvimento da comunidade não há solução. Afinal todos são responsáveis pela busca da preservação do ambiente.

 

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.