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Gaúchos querem desestimular exportação de animais vivos



Fernando Lopa
Acabo de  ler a reportagem nos jornais de hoje (12/05) sob o título acima. Não entendi nada. Numa leitura mais detalhada percebi que o título, certamente infeliz ou fruto de matéria paga, correto deveria trocar a palavra Gaúchos por A Indústria Gaúcha, pois os produtores gaúchos amargam, há dois anos, preços do boi gordo oscilando entre R$45,00 e R$ 54,00 a arroba. Enquanto em outros estados o preço chegou por muito tempo a ficar acima dos R$ 58,00.

As mais estapafúrdias desculpas foram dadas pelos frigoríficos (digo indústrias) nesses longos 2 anos : Falta de consumo interno, exportação de cortes pela  metade dos preços do mercado internacional pela falta de qualidade da carne gaúcha, costela do MT e do MS que baixa o preço no estado; excesso de variedades de raça no estado, falta de qualidade genética nos rebanhos, excesso de produção, perda de terras para arrendamentos de soja , dólar alto, dólar baixo, impostos, etc. etc. etc. E o preço teimava em ficar nos R$ 1,60 o kilo vivo , já nas gôndolas subia continuamente. Uma beleza, mas para quem???
Lembro-me, ainda, quando a rastreabilidade foi obrigatória, conseguíamos preços mais altos nos frigoríficos que não trabalhavam com gado rastreado (um verdadeiro absurdo). E, também,  de quando fui a uma palestra de um representante de um frigorífico exportador do estado, que fiquei convencido a fazer uma "vaquinha" de R$1,00 com os presentes para ver se tirava o mesmo do “buraco”.
O produtor, brigou, gritou, esperneou, quis boicotar a entrega do boi e a indústria, encastelada no seu "feudo" não estava nem ai. Afinal, quando “o boi ou o bolso fica pronto tem que vender, se não a geada faz perder todo o acabamento”. Pastagem de inverno? Como ? Se o produtor a mais de 4 anos é obrigado a vender seu gado num valor de 10% a  40% abaixo do seu custo de produção.

Finalmente o produtor encontrou uma saída. Exportar gado em pé.
No 1º carregamento a industria não se pronunciou, muitos produtores não acreditavam e o mercado não se mexia. Entre 8000 a 10.000 animais foram embarcados, com frete reembolsado, pagos na hora a R$ 1,50 o kilo vivo. Enquanto a terneirada era vendida a R$ 1,30 na praça.
Agora vem o 2º carregamento, mais 10.000 animais, num preço, já R$ 0,06 centavos maior por kilo vivo, mesmo com o dólar caindo. (o que desde de janeiro a indústria, em poucos e raros casos, se negou a pagar esse exorbitante aumento por kilo vivo). A gritaria da industria já começou, matérias em jornais, reuniões com representantes do poder público, sugestões de reuniões com representantes dos produtores,.....
Realmente, acho que a exportação não é a saída mais interessante, quando o conceito de cadeia produtiva é objetivo de todos os componentes desta cadeia, pois temos que agregar valor ao nosso produto. O problema é que aqui no RS , nos últimos tempos, o conceito de cadeia produtiva, só está sendo lembrado agora pela indústria. Vai faltar matéria-prima de qualidade!!! E daí? Que sirva de lição à indústria, para repensarem o conceito da Cadeia Produtiva da Carne, e de fator para união da classe produtora, ainda muito desagregada e sem perceber a força que tem. Parabéns aos que idealizaram e conseguiram concretizar a retirada desses animais do mercado, pois a exportação, nos dias de hoje, é a saída que restou para recuperação dos preços pagos ao produtor no mercado interno. Vejamos, agora, se a indústria resolve pagar um preço digno pelo nosso boi aqui do Rio Grande do Sul.
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