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Fim dos oráculos


Richard Jakubaszko

por Roberto Barreto*

Minha imaginação não consegue chegar às raias do que a Rede Globo deve estar maquinando para faturar com as Olimpíadas de 2016. Faturamento, em cima de idiotas, não me passa pela cabeça, talvez porque estudei comunicação, na década de 70, numa escola, a ECA – sigla que para mim, nordestino, representava algo nojento -, em que a idéia de trabalhar para promover unicamente o mercado era algo impensável.
Mas, como quase tudo que vem acontecendo no governo do Lula acaba classificado, por sortudos, como lanço da sorte, a decisão do Comitê Olímpico de trazer os jogos de 2016 para a Cidade Maravilhosa só pode ter saído da mente de uma gente que ignora a inexistência de uma política em prol do esporte em nosso país. Demos sorte, portanto. Imagino que Juca Kfouri tivesse – e tenha – lá suas razões para defender Madri, Chicago e Tóquio, jamais o Rio de Janeiro, para acolher as Olimpíadas durante o que, espero, seja mais um mandato de Lula.
O egrégio jornalista sempre defendeu nosso esporte, lembremos, com ênfase no futebol profissional, como um Quixote em luta contra os moinhos do poder retrógrado, representado por figuras como o Teixeira, da CBF. Palmas. Pena que o sopro do COI tenha girado as pás em sentido contrário aos dos desejos do famoso jornalista. O jornalismo, que fez do Juca uma estrela, hoje é luz apagada pelas práticas da promoção entre amigos.
O oráculo, hoje global, perdeu o dom das revelações, tornando-se uma divindade que vive de um séquito louvaminheiro. Prefiro, portanto ficar com as palavras do Lula Paz & Amor, aos trechos do discurso que consegui anotar, minutos antes do anúncio da nossa vitória.
'A alma extraordinária do brasileiro merece... A diferença substancial é que estávamos com a alma, com o coração... Eu não estarei mais como presidente, mas hoje recebemos o respeito... Essa é uma vitória da América Latina.... O Brasil merecia fazer uma Olimpíada... O olhar, o gingado, a cor, o olhar do nosso povo... O Rio de Janeiro não ganhou do Obama... O Rio de Janeiro tem alma, quer fazer uma Olimpíada... Eu confesso que não tinha mais razão para ficar emocionado... Orgulho imenso por estar defendendo o Brasil. Nós conquistamos cidadania absoluta. Agora quero descansar, agradecer a cada pessoa mais humilde'.
Bastou-me, embora reconheça os elogios feitos pela imprensa internacional, a inglesa particularmente, ao publicar que o discurso do Lula foi fundamental para a nossa vitória. Bom que concordem conosco. A íntegra do que nosso Presidente falou encontra-se na internet e, possivelmente, estará em nossos meios de comunicação hoje à noite e, na imprensa escrita, amanhã de manhã e no fim de semana.
Um aviso: a VEJA talvez traga que tudo aconteceu por conta de um vacilo das nações desenvolvidas ou mesmo de uma débâcle ante o passageiro imperialismo megalonanico. Que hacer, camaradas? Chicago, eliminada. Espanhóis, com seu espírito ‘deportivo extraordinario’, esperavam os votos de Tóquio em sua urna, e não caíram.
Bom, agora, como canta o Gonzaguinha, vamos continuar, viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno - e olímpico - aprendiz!
 
* Jornalista

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