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Exportando água


Decio Luiz Gazzoni
        Mais de 20% da água doce usada no mundo estão embutidos em produtos agrícolas comercializados internacionalmente, concluiu um estudo holandês. Usando informações de 1996 a 2005, verificou que as nações desenvolvidas importam produtos intensivos em água, pressionando países onde a gestão da água e as políticas de conservação são muitas vezes inexistentes. Uma pessoa consome, em média, 4.000 litros de água por dia, escondida na comida. Um americano consome 8.000 litros e um chinês ou um indiano consomem 1.000 litros, que varia com a dieta. Os maiores responsáveis por este consumo indireto de água são os cereais, que representam 27% da dieta, a carne (22%) e os produtos lácteos (7%). Obviamente, trata-se do uso agrícola da água, que responde por 92% do consumo global de água doce.

 
        Para produzir um quilo de carne demanda-se 15.400 litros de água, considerando o ciclo de vida da pastagem e do boi. Apesar disso, o líder do estudo, Dr.Arjen Hekstra, da Universidade de Twente, lembra que a água raramente é  incluída nos custos de produção. Parte do problema é que muito do uso global da água é indireto. Uma exceção é o estado de São Paulo, que cobra uma taxa para o uso agrícola da água (Lei Estadual 12.183/05).
 
        A dificuldade para apropriar a água no custo de produção é que sua principal fonte é a chuva. A irrigação, usando águas subterrâneas, de rios ou lagos, representa a menor parcela. Assim, a precipitação pluviométrica é um recurso oculto, contido no produto agrícola de forma gratuita. Mal comparando, as jazidas de petróleo ou minérios se assemelham à chuva: existem em alguns lugares e não existem em outros. Mas, onde não existe petróleo ou minério, o importador paga um alto preço pelo produto. Este preço não está vinculado só ao custo de produção, reflete também a sua distribuição desigual no mundo. Portanto, minha proposta é que os países onde chove bem devem unir-se para cobrar dos países importadores, onde não chove bem, o valor da água exportada. Ou por que a Arábia Saudita, um deserto, cobra US$130,00 por barril de petróleo que nos vende (e que custa US$13,00 para extrair) e nós não cobramos nada pela nossa chuva tropical, que tem seu custo nas externalidades negativas?

 
O autor é Engenheiro Agrônomo, pesquisador da Embrapa Soja.

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