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Estratégias para conservar a forragem no período seco


Valéria Pacheco Batista Euclides

Dentre as alternativas para equilibrar a estacionalidade da produção forrageira, a conservação de forragem na forma de feno-em-pé tem se mostrado promissora, por ser uma alternativa de baixo custo e de fácil adoção. Esta técnica consiste em selecionar determinadas áreas de pasto e vedá-las ao acesso dos animais, no fim do verão. Dessa forma, é possível reservar o excesso de forragem produzida no período das águas, para pastejo direto durante o período de escassez. Vale ressaltar que esta técnica para conservação de forragem não deve ser utilizada em regiões com inverno chuvoso.

As plantas forrageiras mais indicadas para essa prática são aquelas cujo valor nutritivo sofre redução lenta ao longo do tempo, tais como as gramíneas dos gêneros Brachiaria (decumbens, capim-marandu, capim-xaraés), Cynodon (capins estrela, coastcross e tiftons) e Digitaria (capim-pangola). A B. humidicola, por sua vez, tem grande capacidade de acúmulo de forragem, mas seu valor nutritivo é baixo quando comparado ao das outras espécies de Brachiaria.

Por outro lado, as gramíneas cespitosas de crescimento ereto tais como as dos gêneros Panicum (capins tanzânia, mombaça e tobiatã), Pennisetum (capim-elefante) e Andropogon (cvs. Planaltina e Baeti), quando vedadas por períodos longos apresentam acúmulo excessivo de colmos grossos e baixa relação folha/colmo, não sendo indicadas, portanto, para o diferimento de pasto. É importante ressaltar que não se recomenda vedar áreas de B. decumbens com histórico de infestação de cigarrinhas-das-pastagens.

Não há necessidade de áreas exclusivas ou especialmente destinadas à produção de feno-em-pé, assim estes pastos são utilizados para pastejo durante a maior parte do ano. Nesse caso, é importante programar a época de implementar essa atividade de modo a assegurar condições favoráveis à rebrotação do pasto visando ao seu uso no período seco subseqüente.

Para obter maior rendimento e forragem de melhor qualidade, alguns procedimentos são recomendados.

A área escolhida para vedação deve ser de fácil acesso, tenha aceiros bem feitos (evitar fogo acidental) e boa disponibilidade de água. Os pastos devem ser bem formados e produtivos. Pastos produtivos, na região de cerrado, requerem solos com 35-40% de saturação por base, 3-5 ppm de fósforo e 60-65 ppm de potássio. Pastos recém-formados quando reservados para utilização no período crítico apresentam ótimos resultados.

Fazer a vedação escalonada apesar de requerer manejo mais complexo possibilita a utilização de forragem de melhor qualidade, uma vez que os períodos de vedação são menores ou são realizados em épocas de menor crescimento da planta. Para conciliar maior produção com melhor valor nutritivo, recomenda-se a vedação escalonada das pastagens da seguinte forma: vedam-se 40% do total da área destinada ao diferimento de pastagem no início de fevereiro para consumo a partir de maio até final de julho; e os 60% restantes no início de março para utilização de agosto a meados de outubro. A área de pastagens vedada em fevereiro deverá ser menor do que a vedada em março, uma vez que essa pastagem apresentará maior produção de forragem por ter sido vedada em período mais favorável ao crescimento das plantas forrageiras.

Cerca de uma semana antes da vedação, os pastos devem ser utilizados intensivamente, abaixando os resíduos para 10 cm de altura, evitando vedar os pastos com excesso de material morto e promovendo uma rebrotação mais uniforme.

Ainda recomenda-se a aplicação, em cobertura, de 100 kg/ha de uréia ou 200 kg/ha de sulfato de amônio, na época da vedação. O nitrogênio só será necessário se o objetivo do produtor for aumentar o acúmulo de forragem. Vale ressaltar, que quando o acúmulo de forragem é muito alto, ou seja, maior do que 6 t/ha de matéria seca, ocorre o acamamento da forragem promovendo grandes perdas.

Na época da utilização se o pasto estiver muito alto, deve-se iniciar o pastejo com poucos animais por dois ou três dias para que eles façam trilheiros, só então coloca-se o resto dos animais. Esta medida é importante para diminuir a perda de forragem por pisoteio.

Utilizando-se dessas recomendações durante quatro anos, Euclides et al. (2005) observaram produções de matéria seca variando de 4,5 a 7,0 t/ha e de 3,8 a 5,3 t/ha para as pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu, e de 4,2 a 7,5 t/ha e de 3,0 a 5,2 t/ha ha Brachiaria decumbens vedadas em fevereiro e março, respectivamente. Ressalta-se que, geralmente, o feno-em-pé é de baixo valor nutritivo. Independente da época de vedação e do capim usado, os teores de proteína bruta (PB) e de nutrientes digestíveis totais (NTD) decrescem durante o período de utilização (Tabela 1. Para ver a figura clique na Galeria de Imagens ao final da página. Foto 1). Dessa forma, a vedação das pastagens deve estar invariavelmente associada a algum tipo de suplementação alimentar tais como: sal mineral enriquecido com uréia; mistura mineral múltipla; e concentrado energético-protéico.

O número de animais a ser alimentado durante o período crítico deve ser muito bem equacionado, pois só assim será possível determinar a área de pastagem que deverá ser vedada. Recomenda-se para os cálculos uma eficiência de utilização da forragem disponível de 50%, ou seja a metade da forragem é perdida no pastejo. Considerando que a ingestão diária de matéria seca é de, aproximadamente, 2% do peso vivo, portanto, o consumo de forragem por um animal de 450 kg (uma unidade animal, UA) seria de 10 kg de matéria seca (MS). Como os pastos serão utilizados por, aproximadamente, 75 dias, a quantidade de forragem reservada para cada animal seria de 700 kg de MS. O que representa forragem suficiente para manter de 1,7 e 1,6 UA/ha, durante todo o período seco, para os pastos de B. brizantha e B. decumbens, respectivamente

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