Na Amazônia Ocidental, as pastagens cultivadas são constituídas, basicamente, por gramíneas, representam a principal e mais econômica fonte de alimentação para os rebanhos. No entanto, face às oscilações climáticas durante o ano, a produção de forragem apresenta flutuações estacionais, ou seja, abundância durante o período chuvoso (outubro a maio) e déficit no período seco (junho a setembro), o que resulta em variações significativas dos índices de produtividade animal, ocasionado a perda de peso ou a redução drástica na produção de leite. A utilização de práticas de manejo adequadas é uma das alternativas para reduzir os efeitos da estacionalidade da produção de forragem, além de evitar o uso indiscriminado das queimadas.
A conservação do excesso de forragem produzida durante o período chuvoso, sob a forma de feno ou silagem, embora constitua solução tecnicamente viável, é uma prática ainda inexpressiva no estado. Logo, a utilização do diferimento, feno-em-pé ou reserva de pastos durante a estação chuvosa surge como alternativa para corrigir a defasagem da produção de forragem durante o ano. O diferimento consiste em suspender a utilização da pastagem durante parte de seu período vegetativo, de modo a favorecer o acúmulo de forragem para utilização durante a época seca. A sua utilização deve ser bem planejada para que a área diferida não se constitua em um foco de incêndio. O uso de aceiros e a localização de áreas distanciadas das divisas da propriedade são imprescindíveis. Ademais, o uso do diferimento facilita a adoção de outras tecnologias, tais como o banco-de-proteína, a mistura múltipla e a suplementação à campo com uréia pecuária, associada ou não com a cana-de-açúcar.
O período de diferimento está diretamente relacionado com a fertilidade do solo. Em solos de baixa fertilidade pode ser necessário o diferimento da pastagem por períodos de tempo mais longos, porém, com a utilização de adubações, o período pode ser reduzido, em função das taxas de crescimento da planta forrageira. O diferimento requer a associação da área vedada com uma outra exploração de forma mais intensiva e com uma espécie forrageira de alto potencial produtivo onde a maioria dos animais estarão concentrados. Isso permitirá que a pastagem diferida acumule matéria seca, na ausência dos animais. A extensão da área a ser diferida e da explorada intensivamente devem ser calculadas em função das necessidades nutricionais dos animais, nos períodos chuvoso e seco, e do potencial de crescimento das plantas forrageiras utilizadas. Como o feno-em-pé é planejado para utilização durante o período seco, seu consumo elimina a necessidade do uso das queimadas.
Um dos requisitos para a utilização do feno-em-pé é a existência de grande volume de matéria seca acumulada na pastagem, embora com menor valor nutritivo, em função do período de crescimento que as plantas forrageiras foram submetidas. Para as condições edafoclimáticas da Amazônia Ocidental, utilizando-se o diferimento em abril, as gramíneas mais promissoras, em termos de produção de matéria seca, foram Brachiaria humidicola, Andropogon gayanus cv. Planaltina, Panicum maximum cv. Tobiatã, Paspalum guenoarum FCAP-43 e Brachiaria brizantha cv.s Marandu, Xaraés, Paiaguás, Piatã. A utilização das pastagens em junho, mesmo fornecendo os maiores teores de proteína bruta, mostrou-se inviável devido aos baixos rendimentos de forragem. Visando conciliar os rendimentos de matéria seca com a obtenção de forragem com razoável teor de proteína bruta, as épocas de utilização mais propícias foram julho, agosto e setembro.
A forma mais recomendada para a prática do diferimento é o seu escalonamento, um terço em fevereiro, para utilização nos primeiros meses de seca, e dois terços em março, para uso no período restante de seca. Com este procedimento, a qualidade do material acumulado pode ser sensivelmente melhorada. Para
B. brizantha cv. Marandu, cultivada num Latossolo Amarelo, textura argilosa, o diferimento em abril com utilizações em junho e julho proporcionou forragem com maiores teores de proteína bruta, contudo os maiores rendimentos de proteína bruta foram obtidos com o diferimento em fevereiro e utilizações em agosto e setembro. Os maiores coeficientes de digestibilidade in vitro da matéria seca foram obtidos com o diferimento em março ou abril e utilização em junho. A partir dos resultados obtidos, recomenda-se o seguinte esquema: diferimento em fevereiro para utilização em junho e julho e, diferimento em abril para utilização em agosto e setembro. Já, para
A. gayanus cv. Planaltina, quando o diferimento for realizado em março, as pastagens devem ser utilizadas em junho ou julho, enquanto que para o diferimento em abril, as épocas de utilização mais adequadas são agosto e setembro. Em pastagens de
P. maximum cv. Tobiatã, com utilizações em junho e julho, o diferimento em fevereiro proporcionou os maiores rendimentos de matéria seca verde (MSV). Já, com utilizações em agosto e setembro, o diferimento em março foi o mais produtivo. Independentemente das épocas de diferimento, observaram-se reduções significativas dos teores de proteína bruta e coeficientes de digestibilidade in vitro da MSV.
Outra alternativa para a subutilização da pastagem consiste no ajuste da carga animal de forma que, no início do período seco, haja um excedente compatível com as necessidades dos animais, naquele período. Isto pode ser realizado quando as pastagens estão submetidas a pastejo contínuo, no entanto, quando se utiliza o pastejo rotativo torna-se mais fácil o ajustamento da carga animal ou da pressão de pastejo. Recomenda-se diferir parte da pastagem em época apropriada, no período de crescimento, para se obter, no início do período seco, cerca de 4 toneladas/hectare de matéria seca. Um bom critério é deixar as folhas da pastagem a uma altura de 60 a 80 cm, pois alturas superiores pode implicar em desperdício, face a maior proporção de talos, os quais apresentam altos teores de fibras indigestíveis. Em Roraima, onde o período chuvoso concentra-se entre os meses de abrial até setembro, o diferimento pode ser realizado em finais de julho ou agosto, para utilizações em outubro, novembro e dezembro. Para os meses de janeiro até março, a baixa qualidade da forragem, disponível requer a utilização de algum tipo de suplementação, notadamente, proteica de modo a assegurar os requerimentos nutricionais mínimos dos animais.
Newton de Lucena Costa, Amaury Burlamaqui Bendahan - Embrapa Roraima, Boa Vista Roraima