Engenheiros Agrônomos Amélio Dall’Agnol e Fernando Storniolo Adegas
O Glifosato é o herbicida líder na agricultura mundial. Embora muito eficiente e relativamente pouco tóxico a humanos e a animais, seu uso excessivo e indiscriminado permitiu a seleção de plantas invasoras que não mais são controladas pelo produto, tornando este herbicida pouco eficiente na presença dessas populações resistentes.
O glifosato foi o agrotóxico que deu origem ao primeiro produto geneticamente modificado utilizado em larga escala na agricultura mundial e brasileira: a tecnologia RoundUp Ready (RR) incorporada em sementes de soja, milho e algodão.
A Monsanto (hoje Bayer), responsável pelo desenvolvimento do glifosato, preocupada com as potenciais restrições ao seu uso, tem desenvolvido uma nova tecnologia para enfrentar a resistência das plantas daninhas ao produto: a tecnologia Intacta 2 Xtend, a qual, além de resistência ao glifosato e a algumas lagartas, também incorpora resistência ao Dicamba, herbicida desenvolvido há décadas para o controle de invasoras de folhas largas. O Dicamba teve vida curta no Brasil após o lançamento, sendo rapidamente substituído por outros herbicidas, como o glifosato - quando do surgimento deste nos anos 70 - dadas suas vantagens quanto ao maior espectro de controle de invasoras, maior eficiência e menor preço.
O Dicamba está ressurgindo agora, com potencial para controlar as invasoras de folhas largas resistentes ao glifosato, via tecnologia Intacta 2 Xtend. EUA já cultivam mais de 10 milhões de hectares de sementes de soja com a tecnologia Intacta 2 Xtend, apesar de as sementes de cultivares com esta tecnologia serem significativamente mais caras do que as sementes Intacta. Para 2019, a estimativa da Monsanto é de que o país cultivará 22,3 milhões de hectares com essas cultivares ou, cerca de 60% da área total cultivada com soja no país.
Mas tem problema. O Dicamba tem causado prejuízos a produtores americanos que ainda não adotaram a tecnologia, por problemas de deriva, razão pela qual o produto está sendo fortemente questionado pelos produtores prejudicados do Estado do Arkansas. O governo americano já considera restringir o uso do Dicamba, a menos que os inconvenientes apontados sejam solucionados.
A deriva acontece pelo deslocamento do produto para fora da área pulverizada, devido à volatilidade ou ao efeito direto da deriva pelo vento, que acaba espalhando as gotas com o produto para as lavouras vizinhas e causando prejuízos às cultivares que não tem essa resistência. O fenômeno pode ser causado pela inversão térmica, mas segundo a Monsanto, vários fatores podem causar o problema, desde a má compreensão dos riscos por parte de quem está aplicando o herbicida, passando pela utilização de equipamentos inadequados, até a velocidade do vento no momento da pulverização.
A maneira básica de reduzir a deriva de partículas é selecionar os bicos de pulverização que produzam gotas grossas, pois as partículas menores são mais facilmente carregadas pelo vento. Segundo a Monsanto, novas formulações do produto já estão disponíveis com menor potencial de deriva.
A menos que surjam indicativos de que o problema da deriva não tem solução, o Brasil, muito provavelmente, também adotará esta nova ferramenta tecnológica, disponibilizando ao mercado doméstico cultivares comerciais de soja com esta tecnologia, com previsão para lançamento comercial em 2021. A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança já deu aval para a sua produção, após assegurar-se de que a tecnologia é segura para humanos, animais e o ambiente.
A melhor estratégia para evitar o surgimento de invasoras resistentes é realizar o manejo correto do herbicida e monitorar a lavoura para eliminar focos de plantas resistentes.