Não é em vão que Max Planck (1858-1947) empresta o nome à principal instituição científica da Alemanha. Sua teoria da descontinuidade da energia e a formulação do conceito de quantum, descrevendo matematicamente o estado energético de um corpo negro (ente físico que absorve toda radiação que incide sobre ele), lhe valeram o Prêmio Nobel de física de 1918 e um lugar de honra na galeria dos pais da mecânica quântica. Não obstante tudo isso e uma vida familiar marcada pela tragédia pessoal, em que perdeu esposa e quatro filhos, sendo um deles durante a primeira guerra mundial e outro fuzilado, em 1944, sob a acusação de conspirar contra Hitler, Max Planck ainda teve tempo e disposição para pensar sobre o desenvolvimento e a evolução do conhecimento científico. Atribui-se a ele a assertiva genial que “uma nova verdade científica não triunfa pelo convencimento dos seus oponentes e nem se fazendo com que eles vejam a luz, mas sim porque esses oponentes eventualmente morrem e uma nova geração cresce já familiarizada com a nova teoria.” Em outras palavras, Max Planck disse que a ciência avança de funeral em funeral, ou, se preferirem, numa versão mais literal, a cada funeral.
Quem viveu o dia a dia das organizações científicas brasileiras, como é o meu caso, nos últimos 35 anos, pode testemunhar que a teorização de Max Planck sobre a evolução da ciência “a cada funeral”, seja como figura de linguagem ou literalmente interpretada, com base na renovação de pessoas e ideias, ainda não foi refutada. Inclusive, os indícios acumulados, contrariando o pressuposto da rejeição, tendem a corroborá-la nos nossos meios acadêmicos. Houve uma época, nem tão distante assim, nos anos 1980 e começo dos 1990, que os professores das nossas universidades federais se aposentavam e, de imediato, sob a égide da constituição de 1988, prestavam concurso para a sua própria vaga e, quase invariavelmente, obtinham a primeira colocação (até pelo conhecimento do assunto). Depois, pelo menos, após aposentados buscavam, legitimamente/legalmente frise-se, outras universidades ou outros departamentos quando na mesma, ou saiam e voltavam, no mesmo curso, em vagas de postos mais avançados (professor titular, por exemplo), ficando, na esfera estatutária pública, a permanência limitada pela idade de 70 anos. E, nas instituições regidas pela CLT, sejam privadas, comunitárias ou empresas públicas, sem que a aposentadoria pelo INSS implique em rompimento motivado do vínculo empregatício e nem há o limite dos 70 anos de idade, atualmente, pululam empregados aposentados, em atividade funcional plena ou limitada pelos contornos legais das tais aposentadorias especiais, de todas as idades, com a taxa de renovação de pessoas tendendo a zero ou ao valor definido pela taxa de funerais do vaticínio de Planck.
O mais incrível é que a assertiva de Max Planck não fica restrita ao universo da comunidade científica, como bem realçou o professor, da Universidade do Arizona, Richard H. Serlin, em recente artigo de opinião (What else advances one funeral at a time?). Inclusive, no universo da gestão de empresas, a sua atuação pode ser mais nociva do que se supõe à primeira vista. São poucas as mudanças que podem esperar 30 anos até que uma velha geração de gestores se aposente (ou morra) e outra nova assuma o comando, sem que isso signifique perda de competitividade ou quando não o fim das organizações. Ninguém pode ignorar o tão comum entrincheiramento da velha geração em defesa do status quo vigente, em que não são medidos esforços para refutar o novo e afastar tudo que possa abalar a sua zona de conforto. Mudanças de paradigmas não ocorrem facilmente no mundo das organizações, em especial quando significam ameaças à posição de poder e ao prestígio de alguém. E mais: não se pode desconsiderar que as pessoas tornam-se intelectualmente menos flexíveis, adquirem maior aversão ao risco e são menos idealistas com a idade; em geral.
Eis um problema que, especialmente nas organizações científicas e acadêmicas brasileiras, não pode mais ser negligenciado, pois o custo de esperar por funerais ou aposentadorias pode ser muito elevado ou até mesmo irrecuperável.
Quem viveu o dia a dia das organizações científicas brasileiras, como é o meu caso, nos últimos 35 anos, pode testemunhar que a teorização de Max Planck sobre a evolução da ciência “a cada funeral”, seja como figura de linguagem ou literalmente interpretada, com base na renovação de pessoas e ideias, ainda não foi refutada. Inclusive, os indícios acumulados, contrariando o pressuposto da rejeição, tendem a corroborá-la nos nossos meios acadêmicos. Houve uma época, nem tão distante assim, nos anos 1980 e começo dos 1990, que os professores das nossas universidades federais se aposentavam e, de imediato, sob a égide da constituição de 1988, prestavam concurso para a sua própria vaga e, quase invariavelmente, obtinham a primeira colocação (até pelo conhecimento do assunto). Depois, pelo menos, após aposentados buscavam, legitimamente/legalmente frise-se, outras universidades ou outros departamentos quando na mesma, ou saiam e voltavam, no mesmo curso, em vagas de postos mais avançados (professor titular, por exemplo), ficando, na esfera estatutária pública, a permanência limitada pela idade de 70 anos. E, nas instituições regidas pela CLT, sejam privadas, comunitárias ou empresas públicas, sem que a aposentadoria pelo INSS implique em rompimento motivado do vínculo empregatício e nem há o limite dos 70 anos de idade, atualmente, pululam empregados aposentados, em atividade funcional plena ou limitada pelos contornos legais das tais aposentadorias especiais, de todas as idades, com a taxa de renovação de pessoas tendendo a zero ou ao valor definido pela taxa de funerais do vaticínio de Planck.
O mais incrível é que a assertiva de Max Planck não fica restrita ao universo da comunidade científica, como bem realçou o professor, da Universidade do Arizona, Richard H. Serlin, em recente artigo de opinião (What else advances one funeral at a time?). Inclusive, no universo da gestão de empresas, a sua atuação pode ser mais nociva do que se supõe à primeira vista. São poucas as mudanças que podem esperar 30 anos até que uma velha geração de gestores se aposente (ou morra) e outra nova assuma o comando, sem que isso signifique perda de competitividade ou quando não o fim das organizações. Ninguém pode ignorar o tão comum entrincheiramento da velha geração em defesa do status quo vigente, em que não são medidos esforços para refutar o novo e afastar tudo que possa abalar a sua zona de conforto. Mudanças de paradigmas não ocorrem facilmente no mundo das organizações, em especial quando significam ameaças à posição de poder e ao prestígio de alguém. E mais: não se pode desconsiderar que as pessoas tornam-se intelectualmente menos flexíveis, adquirem maior aversão ao risco e são menos idealistas com a idade; em geral.
Eis um problema que, especialmente nas organizações científicas e acadêmicas brasileiras, não pode mais ser negligenciado, pois o custo de esperar por funerais ou aposentadorias pode ser muito elevado ou até mesmo irrecuperável.