
Apesar da ofensiva do governo e do setor produtivo brasileiro em relação às acusações de que a produção de biocombustíveis compromete a de comida e contribui para o aumento da fome, ainda há muitas dúvidas e desinformação sobre a capacidade brasileira de fornecimento de alimentos e energia. Pelo que acompanhamos pela imprensa, há um intenso fluxo de delegações estrangeiras, especialmente nas últimas semanas, para conhecer o agronegócio brasileiro e a produção de biocombustíveis.
Uma comitiva do Parlamento Europeu esteve no Congresso Nacional e no Ministério da Agricultura na semana passada para colher informações. Há dez dias veio uma delegação da Suécia e nas próximas semanas virá uma da Alemanha. No entanto, as próprias estimativas de safra divulgadas semanas atrás pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) já respondem às dúvidas: a área e a produção de cana e de grãos seguem em crescimento. Se as críticas tivessem fundamento, a cana teria avançado ferozmente sobre os grãos que, por sua vez, teriam produção menor.
A estimativa divulgada no início de abril aponta para uma safra recorde de grãos, com 140,8 milhões de toneladas, superior em 6,8% à anterior, quando foram colhidas 131,7 milhões/ton. As condições climáticas ajudaram e o aumento na produtividade do milho e da soja, impulsionado pelos bons preços e pelo uso de novas tecnologias, também contribuiu. A soja saiu dos 58,4 milhões/ton da safra passada para 59,9 milhões/ton, enquanto o milho, segunda safra, passará de 14,8 milhões/ton a 17,4 milhões/ton.
O feijão, segunda safra, terá um aumento de 40%, passando de 996,6 mi/ton para 1,4 milhão. Em relação ao arroz, houve diminuição de área nos Estados, com exceção do Rio Grande do Sul, que é o maior produtor brasileiro. A área total plantada será de 46,7 milhões de hectares, um aumento de 1,1% em relação à safra anterior, que foi de 46,2 milhões/ha. A produção de trigo, que foi de 1,5 milhão/ton, passará a 3,8 milhões/ton.
Também em relação à cana-de-açúcar, a safra será a maior da história, de acordo com a estimativa divulgada na Agrishow - Ribeirão Preto. O volume a ser processado pela indústria deverá ficar entre 558,1 e 579,8 milhões de toneladas, um aumento entre 11,3% e 15,6% em relação à safra anterior. A área ocupada pela cultura será 7,8 milhões de hectares, contra 7 milhões na safra passada.
Já a produção de etanol deverá crescer entre 14,9% e 19,4% e ficar entre 26,4 e 27,4 bilhões de litros. A estimativa para exportação é de 4,2 bilhões de litros, especialmente para os Estados Unidos, para onde deverão ser destinados 2,5 bilhões de litros. O crescimento na produção baseia-se principalmente na evolução da frota de carros flexíveis: no ano passado, foram comercializadas 2 milhões de unidades e estima-se que hoje 5 milhões desses veículos estejam nas ruas.
O avanço da cana se dará principalmente sobre áreas de pastagens, sem prejuízo à produção de grãos ou à pecuária. É verdade que, nesses últimos dias, as críticas em relação à produção de etanol no Brasil foram abrandadas, talvez porque os organismos internacionais começaram a perceber o potencial brasileiro e também pelas respostas dadas às questões. Como comércio mundial é uma briga de gigantes e o Brasil tem um potencial extraordinário, é natural que sejamos analisados com lupa. No entanto, os números comprovam que estamos crescendo nas duas frentes. E contra isso, não há argumentos.