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Como controlar as micotoxinas na avicultura?


Karina Ferreira Duarte

Fungos e micotoxinas

As micotoxinas são substâncias tóxicas resultantes do metabolismo de fungos (bolores e mofos) que se desenvolvem em alimentos e produtos agrícolas quando as condições de umidade, temperatura e pH são favoráveis, além de métodos de processamento, produção e armazenagem de alguns alimentos que podem ser substratos mais aptos que outros. Elas podem ser detectadas na maioria dos alimentos de consumo humano e animal, sendo os produtos mais afetados o amendoim e seus subprodutos, milho, farelo de algodão, castanhas em geral, sementes de oleaginosas, feno, sorgo e feijão.

Os tipos de toxinas que podem ser encontrados em grãos ou rações, estão na dependência do tipo de fungo presente e das condições ambientais onde se encontram. A maioria dos fungos, apresenta uma produção mais acentuada de toxina, na medida que sofrem estresse. Oscilações de temperatura e umidade são fatores estressantes aos fungos. Assim, nem todo grão de aspecto feio (atacado nitidamente por fungos) apresenta elevado teor de toxinas e vice-versa.

Para agravar a situação, sabe-se que um mesmo fungo tem capacidade de produzir uma grande gama de toxinas, que podem eventualmente não ser detectada nas análises, mas causar sintomas claros de micotoxicoses.

Apesar de se conhecer muitas micotoxinas, freqüentemente novas são descobertas, havendo ainda, o aspecto de sinergismo entre toxinas, ainda que em baixa  concentração. Sabe-se que as toxinas afetam órgãos alvos nos animais; assim, se ocorrer mais de uma toxina, pode-se ter vários órgãos afetados, agravando ainda mais a situação.

A toxicidade individual das micotoxinas é extremamente variável, não dependendo apenas das propriedades físicas e químicas de cada toxina, mas também do nível de ingestão, da duração da exposição, da espécie animal, sexo, idade, espécie e estado físico, estado nutricional, condições ambientais e o sinergismo que pode ocorrer entre micotoxinas presentes simultaneamente no alimento. Estudos mostram que as micotoxinas são carcinogênicas, genotóxicas, teratogênicas, dermatotóxicas, nefrotóxicas e hepatotóxicas. Contudo, em geral ocorre redução de desempenho, desordens reprodutivas e imunossupressão, resultando dentre outras coisas em aumento da susceptibilidade à doenças, sendo esta a principal preocupação na avicultura.

As principais micotoxinas encontradas em grãos e produtos alimentícios são as aflatoxinas e as ocratoxinas. As aflatoxinas são as de maior interesse, pois são as principais causadoras de micotoxicoses em climas tropicais. São produzidas pelos fungos Aspergillus flavus e Aspergillus parasíticus. Também são de interesse as micotoxinas zearalenona, produzida por um fungo do gênero Fusarium graminearum e a micotoxina fumonisina, produzida pelo fungo Fusarium moniliforme (figura 1).

Impacto das micotoxinas sobre a qualidade dos grãos, sanidade e o desempenho produtivo

Não se deve associar os fungos única e exclusivamente com micotoxinas, pois os mesmos causam uma expressiva perda de matéria seca, e que significa empobrecimento nutricional.

Os fungos são seres vivos, e portanto necessitam se alimentar e os seus nutrientes serão retirados dos grãos ou rações armazenados, onde o principal alvo dos fungos é a gordura ou extrato etéreo dos alimentos. A razão para esta preferência, é que a gordura dos substratos é uma fonte rica em energia, e os fungos necessitam exatamente disto. Mas os animais alimentados com os grãos ou rações também necessitam desta energia, e é neste ponto que incide uma das mais sérias conseqüências da ação de fungos. Alimentos atacados por fungos apresentam um substancial empobrecimento energético.

Em condições práticas, é observada uma perda de aproximadamente 3% do total de grãos armazenados ao longo de um ano, em anos em que as condições climáticas são favoráveis à conservação de grãos. Em anos atípicos, estas perdas podem atingir até 5%. Se considerarmos 3% de perdas, significa que para cada tonelada de grãos armazenados, estaremos perdendo meia saca de milho. Em um silo de 1000 toneladas, são perdidas 500 sacas de milho.

Quanto ao teor de gordura dos grãos, também com base em dados práticos, têm se observado que os grãos armazenados por períodos de 6 a 8 meses apresentam 1% a menos no seu conteúdo de gordura, em termos absolutos. Considerando, que os níveis de extrato etéreo médios para grãos de milho giram e torno de 3,5%, significa que temos uma perda de aproximadamente 28% do teor de óleo destes grãos. É interessante ressaltar, que com a chegada das novas safras os teores de gordura assumem os seus valores normais, o que confirma as perdas durante a armazenagem.

Com base nos dados anteriormente apresentados, pode-se concluir que não se trabalha com níveis nutricionais constantes ao longo do ano, havendo necessidade de monitorar quais tipos de produtos utilizados, devendo-se ajustar a inclusão de cada matéria prima na dieta, de acordo com seu valor nutricional. Caso contrário, continuarão ocorrendo as tradicionais interferências no desempenho das aves na entre-safra, com recuperação das mesmas nos períodos de safra, lembrando-se que os resultados zootécnicos das mesmas é uma conseqüência do que lhes é ofertado no alimento, associado ao manejo, sanidade e genética.

Segundo estimativas, cerca de 38% do milho brasileiro está contaminado por aflatoxinas, sendo que 3 milhões de toneladas destes, apresentam níveis que podem trazer danos aos animais. De acordo com a instrução DIFISA 01/84 do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), o teor máximo de toxinas presente nos farelos deverá ser de 50 ppm, devendo constar no rótulo ou etiqueta a indicação deste teor. De acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), 25% da safra mundial é infectada anualmente.

Alternativas de controle

Uma boa ferramenta de controle é o uso de anti-fúngicos. Estes produtos apresentam com principal constituinte o ácido propiônico, que é um ácido orgânico de grande ação fungicida. Estes produtos normalmente encontram-se tamponados, ou seja, não apresentam risco de corrosão e manipulação, com longo período de ação, pela baixa volatilização.

Na atualidade, o uso de anti-fúngico é uma ótima ferramenta, de grande versatilidade e com um custo:benefício satisfatório, sendo também recomendável em rações, especialmente quando o tempo de permanência a campo é longo ou quando as condições de estocagem não são boas, como ocorre em épocas chuvosas ou ainda quando há desperdício de rações nas instalações dos animais.

O método mais eficaz de neutralização de micotoxinas já existentes na ração é através de sua adsorção a um composto inerte antes de sua absorção peo intestino. Assim, uma vez produzidas, resta apenas a possibilidade de reduzir o seu impacto sobre o desempenho dos animais mediante o uso de adsorventes de toxinas. Basicamente há dois grupos de adsorventes, um primeiro que apresenta em sua composição argilas ou aluminosilicatos e um segundo grupo com composição e mecanismos de ação específicos.

O funcionamento dos adsorventes baseia-se no fato das toxinas se ligarem a estes produtos, através de cargas elétricas, fazendo com que as toxinas não sejam absorvidas pelos animais e sendo eliminadas nas fezes.

Até agora, o método mais largamente investigado nesse campo é a adição de quimisorventes com capacidade para ligar justamente e imobilizar micotoxinas no trato gastrointestinal dos animais, resultando numa maior redução na bioviabilidade da toxina. Em muitos estudos, o HSCAS (sódio-cálcio-aluminossilicados hidratados) tem provado ser o mais promissor adsorvente.

Cuidados na armazenagem de grãos

O controle da proliferação de fungos nos grãos fundamenta-se em cuidados a serem procedidos durante as operações de colheita, limpeza e secagem dos mesmos; e na sanificação dos graneleiros, silos e equipamentos mecânicos.  Desta forma, são descritos a seguir algumas recomendações como: realizar a colheita tão logo seja atingido o teor de umidade que permita proceder essa operação, ajustar os equipamentos de colheita para proceder a máxima limpeza dos grãos e evitar danos mecânicos, desinfetar as instalações e os equipamentos de colheita, proceder de forma correta as operações de pré-limpeza e limpeza dos silos e graneleiros; removendo impurezas, grãos danificados, finos e materiais estranhos, proceder a operação de secagem de forma correta garantindo a redução do teor de umidade a níveis que não permitam o desenvolvimento de fungos, monitorar a temperatura da massa de grãos e aerar sempre que necessário, para uniformizar a temperatura e finalmente adotar técnicas para o controle de insetos e roedores, pois geralmente a proliferação dos fungos está associada ao ataque destas pragas.

Conclusões
As nossas condições climáticas são favoráveis para o desenvolvimento fúngico e produção de toxinas; A ocorrência de fungos e micotoxinas é um problema mundial; O ideal é combater os fungos através de uma boa armazenagem dos alimentos, aliado ao uso de anti-fúngico; Em se dependendo do mercado de grãos e não tendo armazenagem própria, deve-se estabelecer um bom controle de qualidade na recepção dos grãos, utilizando métodos como massa específica dos grãos, contagem de ardidos, determinação do percentual de grãos inteiros, quebrados e impurezas, etc; Sempre considerar além da presença de toxinas o fato dos fungos causarem um empobrecimento nutricional dos grãos, não considerar estes aspectos isoladamente; Na presença de micotoxinas, utilizar um adsorvente de micotoxinas, recomendado para a toxina presente, sempre na dosagem correta, associado à correção de valor nutricional da matéria prima contaminada em sua matriz de formulação.

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