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China agrícola: US$ 1 trilhão em operações eletrônicas de crédito e venda


Opinião Livre
Na semana passada dei uma rodada pelo interior de São Paulo. Buscava a temperatura das lavouras. Fora a visão de muitos laranjais abandonados, nada de muito grave. Os problemas de sempre, invariavelmente menores que os percebidos nos grandes centros urbanos.


A chuva que não cai em intensidade e momento exatos, doenças e pragas não esperadas, ansiedade em saber se o bom preço virá ou não.

Enquanto isso, muito se discute as formas de melhorar as produtividade e defesa vegetais. É estimulante ver como a produção agropecuária está aberta às novas tecnologias e manejos.

Não há agricultor que não ceda áreas para novos experimentos. Também nunca deixam de comentar suas fórmulas mágicas em busca de renda.

Isso mesmo, renda. Se não como continuar na atividade?

Nossos leitores e leitoras conhecem bem os riscos da atividade agrícola. Plantio, tratos culturais, investimentos são feitos com limitada certeza de retorno nos momentos de colheita e comercialização. Não raro alguns quebram.

O Estado reconhece isso e dá apoio através de mecanismos específicos. Crédito para custeio e investimento a juros subsidiados, seguro rural para cobrir quebras de safra, compras em leilões a preços administrados.

Tanto isso é verdade que o Tesouro Nacional carrega eterno e brutal endividamento da agropecuária.

Nem sempre os recursos para o setor são suficientes. Pode-se entender. Muitas as prioridades e, infelizmente, os ralos e mamatas dos aparelhos públicos, vez ou outra, bem-vindos na iniciativa privada.

O que é irritante, e foi exatamente isso que ouvi de vários agricultores, é que mesmo os recursos existentes, muitas vezes, acabam indisponíveis às unidades produtoras, perdidos que ficam entre as burocracia e ineficiência do sistema financeiro.

Caso sirva de consolo, o fato não é exclusividade nosso. Na China, não é diferente, embora criatividade e coragem estejam mudando o cenário.

Segundo matéria publicada no Wall Street Journal, intensificam-se lá as operações de crédito e comercialização rurais através de telefone e transferências eletrônicas.

Com um sistema bancário pouco pulverizado, em áreas rurais distantes financiamento e comercialização são feitos em espécie. Montanhas de dinheiro transacionadas com produtos agrícolas.

Risco e desconforto.

O AgBank, Banco Agrícola da China, está cedendo aos intermediários linhas de telefone fixo e aos agricultores cartões de crédito.

Os telefones vêm com um sulco lateral para passar o cartão, algo como as máquinas usadas aqui em postos de gasolina, lojas, restaurantes, etc.

Nada é cobrado pela instalação dos telefones nem pelas operações realizadas no setor agrícola.

Até meados de 2012, 1,5 milhão de telefones já haviam sido instalados em áreas rurais. Nos primeiros seis meses, as transações somaram US$ 716 bilhões. Segundo a consultoria McKinsey & Co., poderão chegar a um trilhão de dólares neste ano.

No Brasil agrícola, a estrutura fundiária dos bancos se desenvolveu de forma diferente, espalhando agências e sugerindo relação interpessoal de funcionários e clientes.

A reforma agrária que não foi feita no campo, acabou realizada no varejo bancário.

Entregar aos agricultores a agilidade que eles pedem pode ser muito fácil. Bastaria integrar nossa pulverização de agências com sistemas digitais baseados em criatividade e confiança. 

Originalmente publicado em Terra Magazine.

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