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Bovinocultura nos Cerrados de Roraima


Newton de Lucena Costa
Roraima possui 224.298 km2 de extensão territorial, apresentando basicamente dois ecossistemas. O primeiro formado predominantemente por um estrato graminóide (gramíneas e ciperáceas), entremeado por vegetação arbustiva, como o caimbé ou lixeira (Curatella americana) e murici (Byrsonima spp.) e árvores como a sucuúba (Himatanthus articulatus), e sucupira do campo ou paricarana (Bowdichia virgilioides), é conhecido como savana, cerrado ou lavrado, ocupando 17% do Estado (40 mil km2).O segundo ecossistema corresponde a 83% das áreas do Estado, com cobertura vegetal do tipo floresta tropical úmida. Nas pastagens nativas dos lavrados, entre as gramíneas, o capim conhecido como fura-bucho (Trachypogon plumosus) está presente em todas as regiões, exceção para as áreas inundáveis. Além deste, destacam-se espécies dos gêneros Andropogon, Aristida, Axonopus, Stipa, Mesosetum, Panicum e Paspalum. Na realidade, as condições de solo, seja por excesso de água no período chuvoso e falta no período seco, baixa fertilidade ou condições físicas, determinam em grande escala a cobertura vegetal predominante (Braga, 1998, 2000) .
 
A pecuária bovina, desenvolvida, basicamente, em pastagens nativas do cerrado caracteriza-se por ser uma atividade predominantemente extensiva e pouco produtiva, com baixos níveis de produção e produtividade (Gianluppi et al., 2001). Contudo, é a segunda mais importante atividade econômica, depois do cultivo de grãos, notadamente do arroz irrigado ou de várzeas. Atualmente, existem 8.700 estabelecimentos com pecuária, dos quais, 5.200 praticam a bovinocultura de corte, sendo as atividades mais usuais as de cria; de cria e recria; e de cria, recria e engorda, totalizando 4.800 estabelecimentos e 571.100 animais. Apesar de cerca de 90,2% dos estabelecimentos pecuários possuirem áreas acima de 100 ha, a pecuária de corte apresenta forte componente social, considerando-se que o módulo rural para áreas de lavrados está estimado em 150 ha. A pecuária de corte é sem dúvida a principal atividade nos lavrados de Roraima. Apesar da baixa capacidade de suporte das pastagens da região que oscila entre 5 a 10 hectares por cabeça, a região se distingue pela alta taxa de natalidade de crias, independentemente do pouco peso por animal. Esta atividade concentra-se maciçamente nas áreas de savanas e sopés das serras, com alta mobilidade na época seca, quando o gado se desloca a procura de lagos ou igarapés que não sequem para sua desedentação.Na região das serras a atividade pastoril já é bem mais reduzida, mas também importante, existindo em praticamente todas as comunidades indígenas e fazendas da área. Nestas áreas as pastagens apresentam melhor qualidade e maior possibilidade de animais com maior peso. A estimativa atual é de uma densidade de 3,3 bovinos/km2 ou 43 ha/cabeça de gado, ou ainda 1,2 cabeças de gado/habitante. Para as comunidade indígenas tem-se a média de 2 cabeças de gado/indivíduo.
 
O rebanho bovino estadual está estimado em cerca de 850 mil cabeças para uma taxa de desfrute de 12 a 15%, sendo que, pelo menos, 10% do efetivo está concentrado em áreas indígenas, desempenhando importante papel social e econômico na alimentação e na geração de renda dessas populações. A pastagem nativa tem servido ao longo dos anos como única fonte de alimento para os herbívoros. Pelas condições de fertilidade do solo, essas pastagens são de baixo valor tanto qualitativo quanto quantitativo, o que pode ser observado pela baixa capacidade de suporte das mesmas, sendo necessário de quatro a dez hectares para cada bovino adulto, com média de seis ha/animal, o que torna necessário a adoção de alternativas técnicas para o seu melhoramento, visando a maximizar seu potencial produtivo (Roraima, 1992). Essa taxa de lotação animal não é muito diferente daquelas encontradas em savanas nativas de outras regiões, como por exemplo, os Llanos venezuelanos e colombianos. Essa variação ocorre em razão do tipo de solo e da época do ano, em que o crescimento e a produção anual de forragem depende do regime hídrico e das características físicas e químicas do solo, determinando melhores ou mais altas produções no período das chuvas e limitações no período seco. Esta situação é considerada como ponto de estrangulamento do processo produtivo da pecuária nos lavrados, onde os ganhos obtidos nos períodos favoráveis, em muitos casos somente servem para repor o peso perdido em períodos adversos de disponibilidade de forragem, o que implica em uma pecuária de baixa sustentabilidade econômica  (Pott, 1974; Gomes et al., 1988). 
 
Neste contexto, considerando-se a importância econômica e social da pecuária de corte e a abundância de recursos naturais suficientes para o fornecimento do suporte alimentar para os rebanhos, a utilização de práticas de manejo mais adequadas, em consonância com as característcas florísticas e produtivas das pastagens nativas dos lavrados de Roraima, pode se constituir numa alternativa para a maximização de sua utilização, resultando em exploração com elevados índices de sustentabilidade econômica (maior produtividade animal e redução dos custos de produção), social (geração de renda e emprego) e ambiental (incorporação de áreas subutilizadas ao processo produtivo e redução dos desmatamentos).
 
Referências Bibliográficas

BRAGA, R.M. Cavalo lavradeiro em Roraima: aspectos históricos, ecológicos e de conservação. Embrapa Comunicação para a Transferência de Tecnologia, Brasília, 119p. 2000.
 
BRAGA, R.M. A agropecuária em Roraima: considerações históricas, de produção e geração de conhecimento. Boa Vista: Embrapa Roraima, 1998. 63p. (Documentos, 1)

GIANLUPPI, D.; GIANLUPPI, V.; SMIDERLE, O. Produção de pastagens no cerrado de Roraima. Boa Vista: Embrapa Roraima, 2001. 4p. (Comunicado Técnico, 14)
 
GOMES, D.T.; KORNELIUS, E.; ZOBBY, J.L.F. Sistema de produção para pecuária de corte na região dos cerrados. In: SIMPÓSIO SOBRE OS CERRADOS: Savana: alimento e energia, 6, 1982, Brasília, Anais... Planaltina: EMBRAPA/CPAC, 1988. p. 665-695.
 
POTT, J.A. Levantamento ecológico de vegetação em campo natural sob três condições: pastejo, excluído e melhorado. Porto Alegre: UFRGS. Faculdade de Agronomia, 1974. 178p. Tese Mestrado.

RORAIMA. Plano de desenvolvimento de Roraima 1992/1995. Secretaria e Estado do Planejamento, Indústria e Comércio, Boa Vista, 1992, 219p.

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