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Bovinocultura de corte brasileira a passos largos


Décio Ribeiro dos Santos

No início do ano, logo após o anúncio do embargo europeu à carne brasileira sob o discurso da ausência de rastreabilidade em nosso rebanho, alarmistas de plantão já deram a carta da crise: a pecuária nacional entrará em retrocesso. Câmaras setoriais, órgãos do setor e diversos ativistas pró-carne brasileira trataram de questionar, estudar, apresentar propostas e discutir, enquanto os setores internacionais "interessados" sorriam com o otimismo de quem tomaria nossas gôndolas.

Sob o nervosismo de uma possível crise, o mercado respondeu de imediato com baixas. Segundo a Scot Consultoria, logo após o embargo, alguns frigoríficos chegaram a pagar até R$ 10 a menos pela arroba em determinadas praças. A discussão em torno da lista de 2,8 mil fazendas aptas para exportação - inicialmente liberada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e negada de imediato pela União Européia – foram pauta das seções de agronegócios dos jornais de todo o país.

Nesse período, amargamos uma retração de 24% nas exportações e, conseqüentemente, de 10% no valor de nosso produto no mercado interno.  Curiosamente, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea), a arroba terminou o mês com alta de 1,45% em relação ao mês anterior, de R$ 74,40, em 31 de janeiro, para R$ 75,48, em 29 de fevereiro. Hoje, sem embargo, temos apenas 95 propriedades autorizadas a exportar para a Europa.

Como é possível, mesmo com a forte restrição dos europeus – responsáveis por 31,6% ou US$ 1,4 bilhão da receita de exportação em 2007 - que a carne bovina brasileira continue valorizada?  Demanda forte, retenção de fêmeas em regiões de alta produção (como o Mato Grosso do Sul), enfim, há uma série de fatores a serem considerados.  O fato é que o pecuarista, exportador ou não, trabalha com o foco na produtividade e lucratividade.

No indicador da Bolsa de Mercadorias & Futuros, a arroba gira acima dos R$ 80 e o mercado futuro já negocia contratos a mais de R$ 95 para dezembro. Alguns especialistas já apostam que a valorização do mercado bovino fará a arroba passar dos R$ 100 em 2009.  

Neste processo, todo o mercado se aquece. Para se ter uma idéia, na reposição, a cotação do bezerro girava em torno de R$ 500 no indicador da BM&F em fins de janeiro.  Hoje, o mesmo indicador já chega a quase R$ 650. 

Apesar do grande aumento nos custos de produção nos últimos cinco anos (56%) frente à valorização da arroba (23%), o crescimento de 1,6% no consumo interno previsto pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para 2008 - caso o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 4,5% - traz uma confiança na rentabilidade da produção. Vale lembrar que, apesar dos aumentos, ainda possuímos o menor custo de produção do mundo, em torno de um terço menor do que o custo europeu, o que destaca ainda mais nossa competitividade.

É preciso ressaltar, ainda, a diversidade genética que nossas condições climáticas permitem cultivar nos pastos brasileiros. São mais de 20 raças diferentes, da rusticidade zebuína do nelore, passando pelo marmoreio do taurino angus e chegando até o sintético simbrasil, que contam com intensa pesquisa em melhoramento genético de organizações particulares e públicas, como a Embrapa, aprimorando a cada dia a produtividade e o direcionamento de mercado de nossas 170 milhões de cabeças. 

Além disso, temos um conjunto de fortes compradores que permitem ao país não perder ritmo nas exportações. De acordo com declarações da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), mesmo com uma possível retração de até 10% no volume exportado, o setor deve atingir neste ano uma receita de US$ 5 bilhões, 15% maior que o total de 2007.

O fato de termos o maior rebanho comercial e a maior pauta de exportação do mundo já não é notícia nova. A grande novidade é que temos know-how suficiente para permanecermos fortes, mesmo em momentos de supostas crises. 

Não vamos nos abster de nossas velhas e urgentes metas, como a rastreabilidade - que não é luxo, e sim, fundamental na pecuária moderna, além de exigência de um mercado cada vez mais preocupado com procedência, segurança alimentar, bem estar animal e preservação do meio ambiente. No entanto, precisamos amadurecer o conhecimento sobre nossas próprias capacidades - que são gigantescas – para sermos agentes e não reféns do mercado. 

Temos agora a notícia de que a OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) suspendeu o bloqueio contra a carne brasileira. Isso demonstra o quanto o planeta precisa da produção alimentícia do "celeiro do mundo", embora reforce mais uma vez que precisamos fazer a lição de casa e manter a eficiência na sanidade do rebanho e o trabalho de erradicação da febre aftosa. Depende apenas de nós transformamos todo esse potencial em divisas.

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